Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Homem-Aranha: amigo da vizinhança e do cinema

“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” integra a Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel (Foto: Divulgação / Crédito: Sony Pictures).

Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia em março de 2020, centros de produção e salas de exibição interromperam suas atividades mundo afora. À época, ninguém em Hollywood imaginava que a situação seguiria crítica por tanto tempo, impondo efeito dominó no cronograma de estreias e, consequentemente, colocando o cinema entre um dos setores mais afetados pela crise econômica oriunda da sanitária. Em meio a isso, o streaming ascendeu por oferecer entretenimento doméstico e seguro, impulsionando a discussão sobre a manutenção do modelo tradicional, calcado na experiência cinematográfica proporcionada pela tela grande da sala escura.

Enquanto as plataformas digitais angariavam novos assinantes, muitas salas encerravam suas atividades em definitivo. Neste cenário, uma das principais indagações tanto do público quanto da crítica especializada e de profissionais que dependem do cinema para sobreviver era qual filme seria capaz de levar as massas de volta às salas de exibição. Num primeiro momento, a resposta foi “Tenet” (Tenet – 2020), de Christopher Nolan, que estreou em 2020 e de forma precoce por pressão do próprio realizador, que sonhava em ver seu longa-metragem como o grande salvador da indústria e do circuito exibidor. O que não aconteceu, colocando todos os holofotes num trio de enorme apelo popular, empurrado para 2021, composto por “Um Lugar Silencioso: Parte II” (A Quiet Place: Part II – 2021), de John Krasinski, “Velozes & Furiosos 9” (F9: The Fast Saga – 2021), de Justin Lin, e “Viúva Negra” (Black Widow – 2021), de Cate Shortland.

“Viúva Negra” é o primeiro filme da Fase 4 do UCM (Foto: Divulgação).

Inaugurando a Fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), “Viúva Negra” teve boa arrecadação, US$ 379,6 milhões, de acordo com o Box Office Mojo, mas foi prejudicado pela disseminação da variante Delta, além de ter recebido críticas dos exibidores por ter sido lançado simultaneamente na Disney+, com Premier Access e custo adicional. Mesmo assim, o lucro da Casa do Mickey com a disponibilização do longa no streaming foi significativo, US$ 60 milhões somente na estreia, segundo a Variety. Mas a Disney e a Marvel ainda tinham duas apostas no segundo semestre, “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings – 2021), de Destin Daniel Cretton, e “Eternos” (Eternals – 2021), de Chloé Zhao, que arrecadaram US$ 432,2 milhões e US$ 400 milhões, respectivamente, ao redor do globo. Mesmo assim, não foram capazes de ultrapassar Dom Toretto nem James Bond, que conquistaram US$ 726,2 milhões e US$ 774 milhões, mundialmente.

No entanto, o UCM demonstrou toda a sua força com um personagem há tempos amado pela público, Peter Parker / Homem-Aranha (Tom Holland), protagonista não apenas de um imbróglio que, em 2019, quase impediu a realização de “Homem-Aranha: Sem Volta para o Lar” (Spider-Man: No Way Home – 2021), produzido pelo braço Sony da Marvel em parceria com a Disney, como também de uma corrida que poderá deixar Toretto e Bond comendo poeira nas próximas semanas, uma vez que é a terceira maior abertura da História, com US$ 587 milhões, ficando atrás somente de “Vingadores: Ultimato” (Avengers: Endgame – 2019), US$ 1,2 bilhão, e “Vingadores: Guerra Infinita” (Avengers: Infinity War – 2018), US$ 640 milhões, dirigidos pelos irmãos Anthony e Joe Russo e que têm o personagem como um dos destaques do elenco. Com direção de Jon Watts, o novo filme do Cabeça de Teia foi recebido com alegria e alívio pelos exibidores, que têm priorizado títulos de apelo comercial para que possam se reerguer no momento de crise, apesar do avanço da nova variante, a Ômicron, originada na África do Sul, motivo de preocupação para todos e, na Europa, de novos lockdowns.

Quebrando recordes inclusive no Brasil, onde se tornou a maior abertura de todos os tempos, responsável por levar mais de cinco milhões de pessoas aos cinemas, somando R$ 105 milhões nas bilheterias, “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” pode, sim, ser considerado o título mais importante da retomada no cenário pandêmico por demonstrar que, aos poucos, o cinema renasce como uma Fênix após longo período sobrevivendo sob a ameaça de extinção face ao fortalecimento do streaming. Seu desempenho é a boia de salvação há meses sonhada e desejada pelos exibidores e pela indústria, pois comprova que, apesar das adversidades, o show tem e vai continuar. E que agora, Peter Parker / Homem-Aranha não é amigo e protetor apenas da vizinhança, mas do cinema em sua essência, algo que nem os detratores dos blockbusters podem negar.

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