Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Hollywood’: a terra é dos sonhos, mas a série…

“Hollywood” está disponível no catálogo da Netflix (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

Não é comum falar especificamente de séries neste espaço, mas uma merece especial atenção por abordar os bastidores da indústria cinematográfica americana em plena Era de Ouro (1930 – 1940): “Hollywood” (Idem – 2020). Dividida em sete episódios, esta produção original Netflix segue os passos de Quentin Tarantino em “Era Uma Vez em… Hollywood” (Once Upon a Time… in Hollywood – 2019) e subverte a História em prol da fábula.

 

Ambientada no final da década de 1940, “Hollywood” mostra ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) tentando a sorte no cinema, controlado por executivos preconceituosos que se recusam a apostar em novas temáticas e, assim, revolucionar a sétima-arte. Paralelamente a isso, a série mostra o “lado B” de uma indústria impiedosa que, ao não transformar em realidade o sonho de muitos, obriga-os a negar sua própria essência para conseguir o lugar ao sol ou a se prostituir para sobreviver na chamada Terra dos Sonhos.

 

Em “Hollywood”, Jake Picking interpreta Rock Hudson, um dos primeiros atores a revelar ter contraído o vírus HIV (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

 

Criada por Ryan Murphy e Ian Brennan, “Hollywood” mistura personalidades da nata hollywoodiana com personagens fictícios nesta tentativa de subversão da História que, certamente, não foi estudada a fundo pela equipe. Isto se deve ao fato de os roteiristas terem optado pela zona de conforto de rumores e fofocas de bastidores e periódicos da época retratada, jogando-os de qualquer jeito no liquidificador. Com isso, temas como o tratamento concedido aos atores do cinema mudo após a invasão dos talkies (filmes falados), bem como o papel da mulher, dos negros e dos homossexuais, não são explorados com afinco.

 

O resultado desastroso e inconsistente do roteiro influenciou diretamente o trabalho de todo o elenco, que não teve bases concretas para a construção de seus respectivos personagens. Completamente sem sintonia e carisma, o elenco entrega interpretações superficiais que não exploram o sonho nem o drama oriundo das imposições dos sistemas de estúdios e estrelas que a tudo controlavam num período em que o Código Hays vigorava.

 

Michelle Krusiec e Laura Harrier em cena de “Hollywood” (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

 

Com pouco apuro técnico, inclusive no que tange à fotografia e direção de arte, “Hollywood” tenta mostrar ao público o que poderia ter acontecido ao cinema caso questões como diversidade, representatividade e inclusão tivessem sido discutidas décadas atrás. Para isso, se aproveita de resultados recentes da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS), o Oscar, mostrando uma versão da cerimônia que, entre outras coisas, remete à vitória de “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul) – mais não deve ser dito para evitar spoilers.

 

Brincando com o simbolismo do letreiro outrora chamado de Hollywoodland (Bosque Sagrado), “Hollywood” não deve ser encarada somente como fábula, pois é, na verdade, uma crítica ao modelo instituído por estúdios desde os primórdios de uma indústria que, gradativa e tardiamente, tem implementado mudanças acerca de diversidade, representatividade e inclusão. Tal crítica surge no momento no qual a Netflix tenta se consolidar entre as grandes companhias para enfrentá-las em pé de igualdade com títulos em temporadas de premiações cujo ápice é a cerimônia do Oscar. O problema, aqui, é que o resultado final é para lá de preguiçoso e não sai da superfície em nenhum momento.

 

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