Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Globo de Ouro 2020: ‘1917’ e ‘Era Uma Vez em… Hollywood’ são os grandes vencedores

Parte da equipe de “Era Uma Vez em… Hollywood” comemora o prêmio de melhor filme de comédia / musical (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA Photographer).

A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) realizou na noite do último domingo, dia 05, a 77a cerimônia de entrega do Globo de Ouro, no The Beverly Hilton Hotel, em Los Angeles (Califórnia). E os grandes vencedores foram “1917” (Idem – 2019) e “Era Uma Vez em… Hollywood” (Once Upon a Time… in Hollywood – 2019).

 

Concorrendo a cinco Globos de Ouro, “Era Uma Vez em… Hollywood” é o maior vencedor desta edição em termos de números. A produção foi agraciada pela HFPA com três prêmios importantes: melhor filme – comédia / musical, roteiro para Tarantino e ator coadjuvante para Brad Pitt. Baseado na história real do assassinato da atriz Sharon Tate, o longa é um dos títulos mais fortes da atual temporada de premiações americana.

 

Sam Mendes agradece o Globo de Ouro de melhor filme de drama por “1917” (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA Photographer).

 

Com uma trama ambientada na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1919), “1917” surpreendeu por vencer os Globos de Ouro de melhor filme de drama e direção para Sam Mendes, que recebeu seu primeiro Globo de Ouro como diretor há 20 anos por “Beleza Americana” (American Beauty – 1999), perdendo apenas a estatueta de trilha sonora. Sam Mendes derrotou Todd Phillips por “Coringa” (Joker – 2019) e os favoritos Bong Joon-ho por “Parasita” (Gisaengchung – 2019, Coreia do Sul), Martin Scorsese por “O Irlandês” (The Irishman – 2019) e Quentin Tarantino por “Era Uma Vez em… Hollywood”.

 

Joaquin Phoenix recebeu seu Globo de Ouro por “Coringa”, na categoria de melhor ator em filme de drama, das mãos de Glenn Close (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA Photographer).

Empatados em termos de números com “1917” estão “Coringa” e “Rocketman” (Idem – 2019). Colocando o filão de super-heróis fora da zona de conforto por abordar temas como doença mental, bullying e desigualdade social, “Coringa” faturou os Globos de Ouro de melhor ator em filme de drama para Joaquin Phoenix, estarrecido no palco, e trilha sonora para Hildur Guðnadóttir. Inspirado na vida de Elton John, o musical “Rocketman” (Idem – 2019) recebeu as estatuetas de melhor ator em filme de comédia / musical para Taron Egerton e canção original por “I’m Gonna Love Me Again”, de Elton John e Bernie Taupin, perdendo apenas na categoria de filme de comédia / musical.

 

No entanto, a maior perdedora da 77a edição do Globo de Ouro foi a Netflix. Totalizando 17 indicações nas categorias destinadas ao cinema com “O Irlandês”, “Meu Nome é Dolemite” (My Nam eis Dolemite – 2019), “Dois Papas” (The Two Popes – 2019) e “História de um Casamento” (Marriage Story – 2019), a gigante do streaming conseguiu apenas uma estatueta pelo último. Dirigido e roteirizado por Noah Baumbach, “História de um Casamento”, líder de indicações desta edição, seis ao todo, rendeu à Laura Dern o prêmio de melhor atriz coadjuvante pelo papel da advogada especializada em divórcio. O resultado da cerimônia pode ser considerado um balde de água fria para a companhia, que tenta conquistar cada vez mais espaço em premiações, tendo o Oscar como objetivo.

 

O Globo de Ouro 2020 bagunçou diversos bolões de apostas, inclusive na categoria de melhor animação, conquistada por “Link Perdido” (Missing Link), de Chris Butler. Realizado em stop-motion, o longa, produzido pela Laika Entertainment e distribuído pela Fox, hoje pertencente à Disney, derrotou quatro gigantes: “Como Treinar o Seu Dragão 3” (How to Train Your Dragon: The Hidden World – 2019), da DreamWorks Animation, e as produções da Casa do Mickey, “Frozen 2” (Frozen II – 2019), “O Rei Leão” (The Lion King – 2019) e “Toy Story 4” (Idem – 2019), o franco favorito.

 

Bong Joon-ho agradece o prêmio por “Parasita” (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA Photographer).

No entanto, não houve nenhuma surpresa na categoria de melhor filme estrangeiro, pois o Globo de Ouro foi entregue ao sul-coreano “Parasita”, um dos títulos mais fortes da temporada de premiações. O longa pavimenta seu caminho rumo ao Oscar, podendo, inclusive, chegar à categoria principal do prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS), que não tem a barreira do idioma em suas regras de elegibilidade para melhor filme, como a HFPA, que não aceita produções que tenham mais de 50% dos diálogos em língua não-inglesa. E a questão do idioma foi citada no discurso de agradecimento de Bong Joon-ho, uma vez que o público americano não está acostumado com legendas. “Depois de superar a barreira de 2,5 cm de altura das legendas, você será apresentado a muitos outros filmes incríveis. Apenas ser indicado junto com colegas, incríveis cineastas internacionais, foi uma grande honra. Acho que usamos apenas uma linguagem: o cinema”, disse o cineasta, acompanhado de uma tradutora.

 

A política entrou, de fato, em pauta com o discurso de agradecimento de Patricia Arquette. Vencedora do Globo de Ouro de atriz coadjuvante em série de TV / minissérie / telefilme por “The Act” (Idem – desde 2019), Arquette citou a ameaça de guerra contra o Irã, criticando o presidente Donald Trump e dizendo que deseja um país melhor para seus filhos. Outro assunto que entrou em pauta foi o drama da Austrália, que sofre com incêndios desde setembro do ano passado.

 

Vencedor dos Globos de Ouro de melhor ator em filme de comédia / musical por “Quero Ser Grande” (Big – 1988) e ator em filme de drama por “Filadélfia” (Philadelphia – 1993), “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (Forrest Gump – 1994) e “Náufrago” (Cast Away – 2000), Tom Hanks foi homenageado com o Cecil B. DeMille Award, concedido pela HFPA aos profissionais de cinema pelo conjunto da obra. A homenagem foi apresentada por Charlize Theron, que foi dirigida por Hanks em sua estreia como diretor de longas-metragens, “The Wonders: O Sonho Não Acabou” (That Thing You Do! – 1996), filme no qual Hanks também assinou o roteiro e interpretou o empresário de uma banda em ascensão. A atriz, indicada nesta edição ao prêmio de melhor atriz em filme de drama por “O Escândalo” (Bombshell – 2019), exaltou o colega e sua generosidade, dizendo que ele “faz o mundo ser um lugar melhor”.

 

Tom Hanks subiu ao palco bastante emocionado (Foto: Divulgação / Crédito: HFPA Photographer).

 

Ovacionado pelos presentes, Tom Hanks mal conteve a emoção durante seu discurso de agradecimento, arrancando lágrimas de seus familiares, sentados à primeira mesa em frente ao palco. Completando 40 anos de carreira em 2020, Hanks também destacou a importância do aprendizado com seus colegas, citando nomes como Denzel Washington, Meryl Streep e Antonio Banderas. “Fiquei melhor assistindo exemplos de alguns dos maiores atores que já passaram por este palco”, afirmou o ator, que também concorria ao Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante por “Um Lindo Dia na Vizinhança” (A Beautiful Day in the Neighborhood – 2019).

 

Indicada a três Globos ao longo da carreira, todos na categoria de melhor atriz em série de TV em comédia / musical por “Ellen” (Idem – 1994 – 1998), Ellen DeGeneres recebeu o Carol Burnett Award, que foi entregue pela primeira vez no ano passado à atriz que dá nome ao prêmio e recebeu cinco Globos de Ouro pelo “The Carol Burnett Show” (Idem – 1967 a 1978). Aplaudida de pé, Ellen DeGeneres subiu ao palco bastante emocionada, começando seu discurso com tom sóbrio ao lembrar os incêndios na Austrália. DeGeneres também aproveitou a oportunidade para homenagear Burnett, que estava na plateia, e para falar sobre as pessoas que influenciaram sua carreira, como Lucille Ball, receptora do Cecil B. DeMille Award em 1979.

 

O Globo de Ouro buscou o politicamente correto no cardápio oferecido aos presentes, completamente vegano. Em contrapartida, teve como anfitrião o polêmico Rick Gervais, que disse que esta seria sua quinta e última vez como mestre de cerimônias da HFPA. O comediante britânico subiu ao palco carregando um copo de cerveja, tal qual no passado, causando desconforto em parte da plateia, preocupada com o teor de suas piadas, conforme o esperado, mas, nesta edição, a HFPA o deixou pouco tempo no palco. Em seguida, Gervais chamou Reese Witherspoon e Jennifer Aniston, ambas de “The Morning Show” (Idem – desde 2019), que anunciaram os primeiros vencedores da noite, Ramy Youssef, ator em série de TV de comédia / musical por “Ramy” (Idem – desde 2019), e Russell Crowe, ator em minissérie / telefilme por “The Loudest Voice” (Idem – 2019) – Crowe não pôde comparecer à premiação porque está na Austrália cuidando de sua família e casa devido aos incêndios.

 

Seguindo a tradição, a cerimônia da HFPA escalou herdeiros de celebridades como assistentes de palco. Outrora chamados de Mister / Miss Golden Globe, os embaixadores da 77a edição foram os irmãos Dylan e Paris Brosnan, filhos de Pierce Brosnan e Keely Shaye Smith, jornalista que durante muitos anos cobriu a indústria do entretenimento, inclusive para um dos programas mais importantes do segmento, o “Entertainment Tonight” (Idem – desde 1981).

 

O Globo de Ouro é considerado o segundo prêmio mais importante para a indústria hollywoodiana e um grande termômetro para o Oscar, apesar de seu resultado não impactar diretamente o da cerimônia realizada pela AMPAS, influenciando apenas nas campanhas dos indicados. Ao contrário do que acontece com as premiações dos sindicatos, que exercem influência significativa no Oscar, pois boa parte dos integrantes do Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos (Directors Guild of America – DGA) e do Sindicato dos Atores (Screen Actors Guild – SAG), por exemplo, são membros com direito a voto da AMPAS.

 

Confira a lista completa de vencedores:

Melhor filme – drama:

– “1917”.

Melhor filme – comédia / musical:

– “Era Uma Vez em… Hollywood”.

Melhor ator – drama:

– Joaquin Phoenix – “Coringa”.

Melhor atriz – drama:

– Renée Zellweger – “Judy: Muito Além do Arco-Íris” (Judy – 2019).

Melhor ator – comédia / musical:

– Taron Egerton – “Rocketman”.

Melhor atriz – comédia / musical:

– Awkwafina – “The Farewell” (Idem – 2019, China).

Melhor ator coadjuvante:

– Brad Pitt – “Era Uma Vez em… Hollywood”.

Melhor atriz coadjuvante:

– Laura Dern – “História de um Casamento”.

Melhor direção:

– Sam Mendes – “1917”.

Melhor roteiro:

– Quentin Tarantino – “Era Uma Vez em… Hollywood”.

Melhor canção original:

– “I’m Gonna Love Me Again” – “Rocketman”.

Melhor trilha sonora original:

– Hildur Guðnadóttir – “Coringa”.

Melhor animação:

– “Link Perdido”.

Melhor filme estrangeiro:

– “Parasita”.

Melhor série de TV – drama:

– “Succession” (Idem – desde 2018).

Melhor série de TV – comédia / musical:

– “Fleabag” (Idem – 2016 – 2019).

Melhor minissérie / telefilme:

– “Chernobyl” (Idem – 2019).

Melhor ator em série de TV – drama:

– Brian Cox – “Succession”.

Melhor atriz em série de TV – drama:

– Olivia Colman – “The Crown” (Idem – desde 2016).

Melhor ator em série de TV – comédia / musical:

– Ramy Youssef – “Ramy”.

Melhor atriz em série de TV – comédia / musical:

– Phoebe Waller-Bridge – “Fleabag”.

Melhor ator em minissérie / telefilme:

– Russell Crowe – “The Loudest Voice”.

Melhor atriz em minissérie / telefilme:

– Michelle Williams – “Fosse/Verdon” (Idem – 2019).

Melhor ator coadjuvante em série de TV / minissérie / telefilme:

– Stellan Skarsgård – “Chernobyl”.

Melhor atriz coadjuvante em série de TV / minissérie / telefilme:

– Patricia Arquette – “The Act”.

Cecil B. DeMille Award:

– Tom Hanks.

Carol Burnett Award:

– Ellen DeGeneres.

 

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*Fotos: Divulgação (Crédito: HFPA Photographer).

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