A Mostra Panorama do Cinema Mundial é a responsável por uma das surpresas do Festival do Rio 2018: “Verão” (Leto – 2018), de Kirill Serebrennikov. Baseado nas memórias de Natalya Naumenko, o filme conta a trajetória de duas figuras importantes para o rock russo: Mayk Naumenko (Roman Bilyk) e Viktor Tsoi (Teo Yoo), que considerava o New Wave o futuro do rock.
No início dos anos 1980, a tensão entre Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) era altíssima e os jovens soviéticos tinham pouco acesso à cultura ocidental, principalmente à música porque as bandas americanas e inglesas eram consideradas subversivas. Logo, para aproveitar os produtos da cultura ocidental de países capitalistas, os jovens precisavam driblar não apenas o governo, mas também a fatia mais conservadora da população.
Neste contexto, a juventude começou a se rebelar contra as imposições do Estado e regravar as canções de suas bandas favoritas, entre elas Sex Pistols, Rolling Stones, The Who, Blondie, Joy Division e por aí vai. Foi assim que Mayk começou, traduzindo as músicas para o russo e regravando-as, mas de forma contida para não ser pego pelos censores. Nesta época, conheceu Tsoi, que assumiu postura e estilo diferentes de seu mentor, Mayk, tornando-se um grande astro da música, adorado ainda hoje, 28 anos após sua morte num acidente de carro – Naumenko morreu um ano depois, em 1991, em decorrência de uma hemorragia cerebral. Mais do que músicos que se admiravam e buscavam um lugar ao sol num país que vivia uma situação conturbada, que se agravou com a Guerra do Afeganistão (1979 – 1989), Naumenko e Tsoi eram rivais pelo coração da esposa do primeiro, Natalya (Irina Starshenbaum).
Apresentando as dificuldades profissionais e amorosas, “Verão” tem como fio condutor de sua trama a questão ideológica que dificultava o acesso dos soviéticos aos produtos da indústria cultural, oriundos, em sua maioria, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Isto é condensado numa interessante sequência ambientada num trem, onde um idoso se levanta e começa a esbravejar contra um dos jovens: “endeusando o ocidente. O Estado não te deu educação?”, completando: “Você canta música de nossos inimigos ideológicos… vá se tornar um patriota!”.
É neste ponto que o filme sai da biografia musical para invadir o campo político, tecendo críticas à ex-URSS e deixando claro ao espectador que a juventude clamava por liberdade, pois gostaria de viver como em qualquer outro país. Todos estes elementos são apresentados em total comunhão, mérito do roteiro rico em detalhes e estruturado com esmero.
Tecnicamente impecável, “Verão” chama a atenção por sua bela fotografia em preto e branco, montagem, trilha sonora, direção de arte e caracterização. No entanto, sua força está na interação do trio principal, composto por Roman Bilyk, Teo Yoo e Irina Starshenbaum, que surge em cena como um pilar na vida destes dois homens em busca de sucesso e liberdade artística e de expressão.
Levando para as telas uma trama embalada pelo velho rock and roll, “Verão” é interessante por não apostar em estereótipos e, consequentemente, assimilar com propriedade os loucos anos 1980, colocando toda a energia, provocação e questionamentos em Skeptik. Interpretado por Aleksandr Kuznetsov, o personagem reúne os sonhos e angústias de Mayk, provocando-o a todo instante, mas com pitadas de humor ácido.
Indicado à Palma de Ouro na última edição do Festival de Cannes, “Verão” é uma produção russa de roupagem americana que, certamente, faria enorme sucesso junto ao público se fosse realizada por qualquer estúdio hollywoodiano.
* “Verão” tem lançamento previsto para 15 de novembro no Brasil. Suas próximas sessões no Festival do Rio serão nos dias: 08/11, às 21h, no Estação NET Ipanema; e 10/11, às 16h10, no Reserva Cultural Niterói.
Assista ao trailer oficial legendado:
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