Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Festival do Rio 2018: ‘Infiltrado na Klan’

“Infiltrado na Klan”: Adam Driver e John David Washington, um dos esnobados desta edição do Oscar (Foto: Divulgação).

Organização segregacionista que ainda está em atividade nos Estados Unidos, a Ku Klux Klan (KKK) é tema de inúmeras produções do cinema americano, que abordam seu modus operandi que tem na barbárie o principal alicerce. E uma delas integra a programação da 20a edição do Festival do Rio, “Infiltrado na Klan” (BlacKkKlansman – 2018), de Spike Lee.

 

Selecionado para a Mostra Panorama do Cinema Mundial, o longa leva às telas as entranhas da KKK por meio da história real de Ron Stallworth (John David Washington), primeiro policial negro de Colorado Springs (Colorado), que, nos anos 1970, iniciou uma investigação para deter os planos da Klan, infiltrando-se junto de seu parceiro judeu, Flip Zimmerman (Adam Driver).

 

Conduzido com competência por Spike Lee, “Infiltrado na Klan” oferece ao espectador uma trama rica em conteúdo e estruturada com esmero, que tem na montagem de Barry Alexander Brown uma grande aliada. Contudo, o filme peca ao apresentar alguns personagens estereotipados, uma vez que tem como objetivo mostrar que os membros da Klan são homens e mulheres comuns e acima de qualquer suspeita. Neste ponto, os atores Ashlie Atkinson (Connie Kendrickson) e Jasper Pääkkönen (Felix Kendrickson) se destacam negativamente porque construíram seus personagens de forma caricata. Enquanto Atkinson beira o ridículo para arrancar risadas da plateia, o finlandês Pääkkönen aposta numa composição que remete imediatamente a Smythe, personagem de Michael Byrne em “Coração Valente” (Braveheart – 1995), no que tange ao olhar desconfiado e à linguagem corporal que indicam o planejamento de algo execrável.

 

Topher Grace vive David Duke, ex-líder da KKK e um dos organizadores dos protestos de agosto de 2017, em Charlottesville, Virginia (Foto: Divulgação).

Outro destaque negativo do elenco é Topher Grace (David Duke), que interpreta o líder da KKK. Popularmente conhecido como Eric Forman da série “That 70’s Show” (Idem – 1998 – 2006), o ator compõe um personagem de extrema relevância para a trama de forma artificial e inconvincente. Com isso, a responsabilidade de segurar “Infiltrado na Klan” fica com John David Washington e Adam Driver.

 

Washington e Driver estão em total sintonia e dão a exata dimensão do poder da KKK sobre quem considera fora dos padrões aceitáveis para a sociedade, como negros e judeus, por exemplo. A dupla vive personagens historicamente perseguidos, mas que nunca militaram em prol de minorias, levando suas vidas com aparente tranquilidade e sem nenhuma preocupação acerca dos perigos que os rondam. Desta forma, a investigação proposta por Stallworth os modifica gradativamente, permitindo que olhem para a ameaça da Klan de forma realmente crítica.

 

Classificado como policial e comédia, “Infiltrado na Klan” retrata não apenas o preconceito racial, como também a intolerância em relação aos policiais, muitas vezes vistos como algozes, inclusive os que atuam corretamente, como Ron Stallworth, que se torna vítima não apenas pela cor de sua pele, como também por sua profissão, uma vez que ela se torna impedimento para um relacionamento amoroso. Ou seja, trata-se de um filme complexo em todos os aspectos.

 

John David Washington e Laura Harrier, que interpreta Patrice Dumas, presidente da Black Student Union (Foto: Divulgação).

 

Ao longo de quase 2h15 de duração, esta adaptação da obra “Black Klansman”, de Ron Stallworth, não se preocupa em julgar indivíduos, mas seus ideais e os atos cometidos. Neste ponto, uma sequência no terço final do filme chama a atenção por contrapor os discursos de negros e brancos, num trabalho primoroso da já citada montagem, intercalando cenas de uma reunião da Black Student Union com as da cerimônia da Klan, tendo “O Nascimento de Uma Nação” (The Birth of a Nation – 1915) como assunto comum. Dirigido por David W. Griffith, homem sulista que cresceu ouvindo histórias sobre a Guerra de Secessão (1861 – 1865), o filme é considerado o primeiro clássico do cinema americano e foi muito criticado por seu conteúdo racista, que, para muitos, foi o responsável pelo fortalecimento da KKK no início do século passado – “se fosse hoje, seria chamado de blockbuster”, diz o personagem de Harry Belafonte (Jerome Turner).

 

Apesar de derrapar por apostar no estereótipo para a construção de alguns personagens, “Infiltrado na Klan” é uma produção impactante que traça um paralelo entre a década de 1970 e os dias atuais. Para isto, tece críticas à Hollywood e ao governo do presidente Donald Trump, sobretudo ao mostrar imagens dos protestos violentos que assolaram a cidade de Charlottesville, no estado americano da Virginia, em agosto de 2017, que tiveram David Duke como um dos organizadores.

 

* “Infiltrado na Klan” tem lançamento previsto para 22 de novembro no circuito comercial. Suas próximas sessões no Festival do Rio serão nos dias: 06/11, às 21h30, Cine Odeon; 07/11, às 18h30, no Reserva Cultural Niterói; 09/11, às 16h, no Estação NET Ipanema; e 10/11, às 18h40, no Kinoplex São Luiz.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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