‘Ex-Pajé’ mostra a evangelização das tribos indígenas da Amazônia
Numa época em que a cinebiografia de Edir Macedo está em cartaz em todo o Brasil, com ingressos esgotados e salas vazias, o diretor e roteirista Luiz Bolognesi leva para a tela grande as consequências de anos de evangelização de tribos indígenas da Amazônia por meio da história dos Paiter Suruí. Agraciado com o prêmio especial do Júri Oficial de Documentários da Mostra Panorama na última edição do Festival de Berlim, “Ex-Pajé” (2018) é uma das estreias desta quinta-feira, dia 26.
O documentário começa com uma citação do antropólogo francês Pierre Clastres explicando o conceito de etnocídio e, em seguida, mostra a tribo Paiter Suruí em 1969, quando aconteceu o primeiro contato com os brancos. Rapidamente, a imagem de arquivo cede lugar às da tribo em 2017, vivendo não apenas entre as suas tradições e os desígnios da Igreja Evangélica, como também absorvendo a cultura de uma sociedade globalizada e conectada em tempo integral. Neste ponto, os índios utilizam o poder das redes sociais como instrumento de denúncia contra madeireiros, por exemplo.
Tudo isso é apresentado à plateia por meio de Perpera Suruí, pajé respeitado pelo seu povo que abnegou sua base espiritual após ouvir do pastor que sua crença o levaria ao inferno. Agora ex-pajé, Perpera vive em constante questionamento, sobretudo por se sentir atormentado pelos espíritos da floresta, segundo ele, “bravos por causa da igreja”.
No decorrer do longa, o espectador pode observar com afinco o dilema dos Paiter Suruí, que buscam suas raízes sempre que algum problema grave acontece, principalmente em termos de saúde. Isto é mostrado claramente quando uma mulher é internada após ser picada por uma cobra e a medicina tradicional pouco pode fazer para ajudá-la. Com isso, Perpera é chamado para novamente atuar como líder espiritual da tribo, clamando a todos que parem de consumir produtos dos brancos, inclusive alimentos, enquanto ela não se recuperar. “Enquanto ficarmos de dieta, ela tem chance. Se consumirmos algo, ela pode morrer”, diz o ex-pajé que ainda solicita a construção de uma flauta da cura, retomando sua posição do passado mesmo com medo de incomodar o pastor.
Produzido por Luiz Bolognesi e sua esposa, a cineasta Laís Bodanzky, “Ex-Pajé” assume o tom imparcial necessário a documentários para explorar as consequências da colonização branca sobre uma tribo outrora isolada na região da fronteira entre os estados de Mato Grosso e Rondônia. É uma produção consistente em conteúdo e necessária em tempos de desvalorização cultural num país incapaz de preservar sua memória e suas raízes.
Assista ao trailer oficial:
Comentários