Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Especial Oscar 2023

Jimmy Kimmel será o mestre de cerimônias do Oscar 2023 (Foto: Divulgação / Crédito: ©A.M.P.A.S.).

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) se prepara para a 95a cerimônia de entrega do Oscar, que será realizada no próximo domingo, dia 12, no Ovation Hollywood, do Dolby Theatre, em Los Angeles. Por se tratar do prêmio mais cobiçado do cinema mundial, um especial com análises das categorias principais (melhor filme, direção, ator, atriz, ator coadjuvante e atriz coadjuvante) e um pequeno perfil de seus indicados será publicado ao longo da semana, começando nesta segunda-feira, dia 06, pela categoria de melhor atriz coadjuvante.

 

Quando a AMPAS anunciou a lista de indicados ao Oscar em 24 de janeiro, o impacto do retorno da “Regra Dois, Elegibilidade” sobre os concorrentes à uma vaga entre os finalistas de melhor filme, principalmente, ficou muito óbvio. Dos 10 longas-metragens na corrida pela estatueta principal, somente um é de plataforma digital, o drama de guerra “Nada de Novo no Front” (Im Westen nichts Neues – 2022, Alemanha / EUA / Reino Unido), da Netflix, que, no ano passado, viu uma de suas adversárias, a AppleTV+ vencer o Oscar principal com “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá), dirigido e roteirizado por Siân Heder.

 

No período mais complexo e difícil da pandemia de Covid-19, a instituição afrouxou suas regras, permitindo que quaisquer títulos do streaming se candidatassem sem a obrigatoriedade de exibição comercial por sete dias consecutivos, com três sessões diárias, nas cidades de Los Angeles, Nova York, São Francisco, Chicago, Miami e Atlanta. Nesta edição, a AMPAS demonstrou por meio de sua lista de indicados a decisão de celebrar o modelo tradicional de cinema, calcado na experiência proporcionada pela tela grande da sala de exibição, local de socialização e fonte de renda.

 

Mesmo defendendo a coexistência pacífica entre o modelo tradicional e o streaming, a Academia segue tendo o primeiro como sua prioridade, principalmente no momento de retomada após a fase mais crítica da pandemia, que afetou o cinema como jamais visto. Isso pode ser observado, inclusive, no aceno ao cinema comercial que tem lhe rendido críticas sobretudo pelas indicações de “Avatar: O Caminho da Água” (Avatar: The Way of Water – 2022, EUA) e “Top Gun: Maverick” (Top Gun: Maverick – 2022, EUA), os dois campeões de bilheteria de 2022, com arrecadações mundiais de US$ 2,26 bilhões e US$ 1,49 bilhão, respectivamente – no mercado americano, as posições se invertem, sendo “Top Gun: Maverick” o mais lucrativo, com US$ 718,7 milhões, e “Avatar: O Caminho da Água” o vice, com US$ 667,8 milhões. Obviamente, o streaming pode abocanhar o Oscar de melhor filme pelo segundo ano consecutivo, se assim os votantes desejarem, mas, mesmo que isso aconteça, a Academia demonstrou que o modelo tradicional é a sua prioridade.

 

No entanto, é importante ressaltar que o aceno a blockbusters se deve não apenas à inegável qualidade dos longas-metragens, mas, também, à necessidade de aumentar a audiência da transmissão televisiva da cerimônia, que tem sofrido bastante nos últimos anos. A cerimônia do Oscar é um programa de televisão e, como tal, precisa dialogar com todos os públicos para alcançar índices satisfatórios, pelo menos. E depois de quedas significativas, a AMPAS acendeu o alerta, assim como a ABC, emissora responsável por sua transmissão nos Estados Unidos e pertencente à The Walt Disney Company.

 

Indicados ao Oscar 2023 no Academy Luncheon em 13 de fevereiro (Foto: Divulgação – Crédito: Richard Harbaugh / ©A.M.P.A.S.).

 

As críticas ao aceno ao cinema comercial não foram tão duras quanto às acusações de falta de representatividade e inclusão após o anúncio da lista de indicados, especialmente no que tange a atores negros, representados por Angela Bassett e Brian Tyree Henry nas categorias coadjuvantes, respectivamente indicados por “Pantera Negra: Wakanda para Sempre” (Black Panther: Wakanda Forever – 2022, EUA) e “Passagem” (Causeway – 2022, EUA) – não há nenhum profissional negro concorrendo às estatuetas de melhor ator nem atriz. Essa é uma questão que tem sido amplamente debatida desde 2016, quando a cerimônia foi chamada de #OscarSoWhite (“Oscar tão branco”, numa tradução literal).

 

Neste contexto, a ausência de Viola Davis, considerada uma das favoritas por sua atuação em “A Mulher Rei” (The Woman King – 2022, EUA), bem como de outras atrizes que se destacaram ao longo da temporada de premiações, levantou dúvidas sobre os métodos utilizados na campanha de Andrea Riseborough por “To Leslie” (To Leslie – 2022, EUA), drama inspirado na história real de uma mãe solteira que ganha na loteria, mas desperdiça o prêmio devido ao alcoolismo que também a afastou de seus familiares, inclusive de seu filho.

 

Ainda sem previsão de estreia no Brasil, “To Leslie” é uma produção independente que recebeu elogios da crítica especializada americana, principalmente ao desempenho de Andrea Riseborough, que contou com o apoio de colegas de profissão na divulgação desse trabalho em redes sociais. Além disso, muitos eventos particulares para a promoção do filme foram realizados por Charlize Theron, Jennifer Aniston, Courteney Cox, Minnie Driver, Gwyneth Paltrow, Amy Adams e Kate Winslet, segundo o The Hollywood Reporter, para fortalecer o nome da atriz na corrida pela estatueta dourada.

 

A quantidade de profissionais da indústria hollywoodiana tecendo elogios à atriz, dentre eles, Susan Sarandon e Edward Norton, chamou a atenção daqueles que questionaram a ausência de outras atrizes, como a já citada Viola Davis, entre as finalistas do Oscar. E isso, aliado às chances remotas de uma produção de baixo orçamento brigar em pé de igualdade com grandes estúdios na campanha do prêmio da AMPAS, especialmente quando filmes de menor apelo comercial perderam espaço para blockbusters no circuito que tenta se recuperar da crise econômica oriunda da sanitária, foi o suficiente para colocar a Academia no olho do furacão.

 

O burburinho pós-anúncio chegou aos jornais, revistas e sites especializados, obrigando a AMPAS a revisar as campanhas individuais de cada filme e seus respectivos profissionais para saber se houve alguma violação às suas regras. Com isso, Andrea Riseborough corria o risco iminente de ter sua indicação rescindida pela Academia. O assunto foi debatido pelo Conselho Diretor na reunião de 31 de janeiro, quando a instituição decidiu manter Riseborough como uma das finalistas da categoria de melhor atriz. Mesmo assim, Riseborough optou por não comparecer ao evento para os indicados, o Academy Luncheon, em 13 de fevereiro.

 

“Com base nas preocupações que surgiram na semana passada em torno da campanha de premiação de ‘To Leslie’, a Academia começou uma revisão das táticas de campanha do filme. A Academia determinou que a atividade em questão não atinge o nível que a indicação do filme deva ser rescindida. No entanto, descobrimos mídias sociais e táticas de campanha de divulgação que causaram preocupação. Essas táticas estão sendo abordadas diretamente com as partes responsáveis”, afirmou Bill Kramer, CEO da AMPAS, em comunicado oficial após a reunião do Conselho Diretor.

 

O episódio envolvendo Andrea Riseborough colocou a instituição numa situação desconfortável, algo que, há tempos, tenta evitar. Afinal, não foram poucas as polêmicas em torno do Oscar nos últimos anos. Isso levou a Academia a anunciar que suas regras serão revisadas após a cerimônia, o que deverá ter consequências nos próximos meses a fim de evitar esse tipo de campanha que foge ao seu controle, o que pode colocar a credibilidade da indicação e, consequentemente, da própria AMPAS em xeque.

 

A 95a cerimônia de entrega do Oscar será apresentada por Jimmy Kimmel. No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela plataforma HBO Max.

 

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