Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Especial Oscar 2022: categoria de melhor ator coadjuvante

A 94a cerimônia do Oscar está agendada para 27 de março de 2022 (Foto: Divulgação – Crédito: Richard Harbaugh / ©A.M.P.A.S.).

O Oscar 2022 será realizado no Dolby Theatre, em Los Angeles, no formato presencial (Foto: Divulgação / Crédito: AMPAS).

Quando a lista de indicados ao Oscar foi divulgada, Kodi Smit-McPhee era considerado o franco favorito à estatueta de melhor ator coadjuvante por seu desempenho em “Ataque dos Cães” (The Power of the Dog – 2021, Reino Unido / Canadá / Austrália / Nova Zelândia / EUA), algo fortalecido até mesmo por sua vitória no Globo de Ouro. Mas o resultado do SAG Awards “embolou” toda a disputa por colocar na dianteira Troy Kotsur, que interpreta o pai da protagonista no drama “No Ritmo do Coração” (CODA – 2021, EUA / França / Canadá).

 

Os cinco indicados ao prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) são: Ciarán Hinds por “Belfast” (Belfast – 2021, Reino Unido), Jesse Plemons por “Ataque dos Cães”, Troy Kotsur por “No Ritmo do Coração”, J.K. Simmons por “Apresentando os Ricardos” (Being the Ricardos – 2021, EUA) e Kodi Smit-McPhee por “Ataque dos Cães”. Dos cinco indicados, quatro concorrem por produções originais do streaming. A única exceção é Ciarán Hinds.

 

A “sacudida” causada pelo SAG Awards, realizado pelo Sindicado dos Atores dos Estados Unidos (Screen Actors Guild – SAG), se deve ao fato de o seu prêmio, chamado de Actor, ser o principal termômetro das categorias de atores, principais e coadjuvantes, do Oscar, pois parte dos membros do Sindicato também integra a AMPAS e tem direito a voto. Ao contrário do Globo de Ouro, concedido pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA), composta por jornalistas que, obviamente, não são membros da Academia – apesar do momento de crise enfrentado pela HFPA em virtude da série de escândalos que abalaram suas estruturas, colocando em xeque sua credibilidade, o peso do Globo de Ouro não pode ser desconsiderado.

 

Troy Kotsur em cena de “No Ritmo do Coração” (Foto: Divulgação).

 

Com 15 prêmios individuais recebidos por “No Ritmo do Coração, até a presente data, Troy Kotsur pode se tornar o segundo ator deficiente auditivo a vencer o Oscar, sendo o primeiro homem a conquistar tal feito, ficando lado a lado, no livro de História da instituição, de sua colega de elenco, Marlee Matlin, a primeira e única atriz surda a ser agraciada pela AMPAS, na categoria de melhor atriz por “Filhos do Silêncio” (Children of a Lesser God – 1986, EUA), de Randa Haines. Dirigido por Sian Heder, Kotsur se destaca por compor seu personagem, Frank Rossi, de maneira bastante peculiar, pois o pescador é um homem que não tem medo de demonstrar seus pensamentos e sentimentos, sobretudo em relação à família, nutrindo amor incondicional por seus filhos.

 

Principal concorrente de Kotsur, Kodi Smit-McPhee chama a atenção em “Ataque dos Cães”, de Jane Campion, ao apostar todas as suas fichas na introspecção de seu personagem, Peter Gordon, que luta para conquistar a confiança do irmão do padrasto enquanto coloca em prática um plano macabro. É um trabalho que utiliza a sutileza para esconder a verdadeira personalidade de um jovem que precisa, ainda, enfrentar o preconceito enraizado numa terra de caubóis. Até o momento, o ator conquistou 32 prêmios individuais pelo longa.

 

Kodi Smit-McPhee em cena de “Ataque dos Cães” (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

 

Dividindo a cena com Smit-McPhee em “Ataque dos Cães”, Jesse Plemons tem na sensatez o principal elemento da composição de George, irmão do protagonista vivido por Benedict Cumberbatch e padrasto do personagem de Smit-McPhee. Desta forma, o ator oferece o necessário contraponto à dinâmica preconceituosa do local, concedendo civilidade a um ambiente hostil no qual o preconceito não é apenas contra homossexuais, mas, também, contra índios e qualquer outro indivíduo que não atenda às expectativas do protagonista nem siga sua cartilha. Até o momento, Plemons não recebeu nenhum prêmio por sua atuação neste filme.

 

Oferecendo ao público um trabalho intrinsecamente ligado ao seu passado, pois nasceu e cresceu em Balfast, cidade que dá título ao longa, testemunhando todo o conflito entre protestantes e católicos, chamado de “The Troubles”, assim como seu diretor, Kenneth Branagh, Ciarán Hinds compõe o personagem com destreza, atuando em total sintonia com Judi Dench. É uma interpretação capaz de emocionar o espectador, e que rendeu ao ator quatro prêmios individuais até a presente data.

 

Com apenas um prêmio individual conquistado até o momento por “Apresentando os Ricardos”, de Aaron Sorkin, J.K. Simmons surge em cena como um pilar na vida do casal protagonista, tanto pessoal quanto profissional, no que tange à sensatez imprescindível para que possa dar suporte emocional sobretudo à personagem de Nicole Kidman. Não é o maior desafio de sua carreira, mas é um trabalho consistente que chama a atenção no longa.

 

No cenário atual, considerando o SAG Awards, pode-se dizer que Troy Kotsur é quem ocupa a posição mais confortável da disputa pelo Golden Boy, tendo Kodi Smit-McPhee como concorrente mais forte, enquanto Ciarán Hinds, J.K. Simmons e Jesse Plemons têm chances menores de vencer a estatueta.

 

A 94ª cerimônia de entrega do Oscar será realizada em formato presencial no próximo domingo, dia 27, no Dolby Theatre, em Los Angeles, com apresentação de Amy Schumer, Regina Hall e Wanda Sykes. No Brasil, a maior festa do cinema mundial será transmitida ao vivo pelo canal por assinatura TNT e pela Globoplay.

 

Confira um pequeno perfil dos indicados:

Ciarán Hinds:

Ciarán Hinds em “Belfast” (Foto: Divulgação).

Nascido em 09 de fevereiro de 1953 em Belfast (Irlanda do Norte), Ciarán Hinds teve como maior influência sua mãe, que chegou a trabalhar como atriz. Ainda na juventude, trancou o curso de Direito na Queen’s University of Belfast para seguir a carreira artística, pavimentando seu caminho no teatro antes de estrear na televisão, na série “Out of Past” (Out of Past – 1969 – 1980, Reino Unido), em 1977.

 

Em 1981, Hinds estreou no cinema com o longa-metragem “Excalibur, a Espada do Poder” (Excalibur – 1981, Reino Unido / EUA), de John Boorman, mas continuou trabalhando com teatro e televisão, meio de comunicação que lhe deu notoriedade junto ao grande público graças à participação num episódio da série “Screen Two” (Screen Two – 1985 – 1998, Reino Unido), em 1995, e ao telefilme “Jane Eyre” (Jane Eyre – 1997, Reino Unido), de Robert Young.

 

Entre seus filmes, estão: “Mães em Luta” (Some Mother’s Son – 1996, Irlanda / EUA), de Terry George; “Oscar e Lucinda” (Oscar and Lucinda – 1997, EUA / Austrália / Reino Unido), de Gillian Armstrong; “A Soma de Todos os Medos” (The Sum of All Fears – 2002, EUA / Alemanha / Canadá), de Phil Alden Robinson; “Estrada para Perdição” (Road to Perdition – 2002, EUA), de Sam Mendes; “Munique” (Munich – 2005, EUA / Canadá / França), de Steven Spielberg; “Sangue Negro” (There Will Be Blood – 2007, EUA), de Paul Thomas Anderson; “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 – 2011, Reino Unido / EUA), de David Yates; e “Silêncio” (Silence – 2013, EUA / Reino Unido / Taiwan / Japão / México / Itália), de Martin Scorsese.

 

Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.

 

* Entre os quatro prêmios individuais recebidos por sua performance em “Belfast”, estão: o KCFCC Award, do Kansas City Film Critics Circle Awards; o NBR Award, do National Board of Review, USA; e o PFCS Award, da Phoenix Film Critics Society Awards.

 

Jesse Plemons:

Jesse Plemons em “Ataque dos Cães” (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

Nascido em 02 de abril de 1988 em Dallas, no estado americano do Texas, Jesse Lon Plemons começou a carreira artística aos 10 anos de idade, no longa-metragem “Finding North” (Finding North – 1998, EUA), de Tanya Wexler, seguido por “Marcação Cerrada” (Varsity Blues – 1999, EUA), de Brian Robbins.

 

Aluno do Dallas Young Actors Studio, Plemons passou a adolescência entre as cidades de Mart (Texas) e Los Angeles (Califórnia) devido ao trabalho na televisão e no cinema, participando de filmes como “Pequenos Grandes Astros” (Like Mike – 2002, EUA) e “The Failures” (The Failures – 2003, EUA), respectivamente dirigidos por John Schultz e Tim Hunter.

 

Nos anos seguintes, Jesse Plemons atuou em diversos filmes, entre eles, “O Psicólogo” (Shrink – 2009, EUA), de Jonas Pate, “Battleship: A Batalha dos Mares” (Battleship – 2012, EUA / Japão), de Peter Berg, “O Mestre” (The Master – 2012, EUA), de Paul Thomas Anderson, “Dívida de Honra” (The Homesman – 2014, França / EUA), de Tommy Lee Jones, “Aliança do Crime” (Black Mass – 2015, EUA / Reino Unido), de Scott Cooper, “Judas e o Messias Negro” (Judas and the Black Messiah – 2021, EUA), de Shaka King, além de “Ponte dos Espiões” (Bridge of Spies – 2015, EUA / Alemanha / Índia) e “The Post: A Guerra Secreta” (The Post – 2017, EUA / Reino Unido), ambos de Steven Spielberg.

 

Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.

 

* O ator ainda não recebeu nenhum prêmio individual por sua performance em “Ataque dos Cães”.

 

Troy Kotsur:

Troy Kotsur em “No Ritmo do Coração” (Foto: Divulgação).

Nascido em 24 de julho de 1968 em Mesa, no estado americano do Arizona, Troy Kotsur foi diagnosticado com deficiência auditiva aos nove meses. O interesse pela atuação surgiu ainda na infância, quando foi incentivado por um de seus professores a participar de montagens teatrais. E foi no teatro que Kotsur construiu a base de sua carreira, quando estudava na Gallaudet University, instituição privada com programas voltados para surdos, no final dos anos 1980.

 

Respeitado nos palcos, Kotsur estreou na televisão num episódio de “Strong Medicine” (Strong Medicine – 2000 – 2006, EUA), em 2001. Nos anos seguintes, conciliou teatro e TV até participar de seu primeiro longa-metragem, o suspense “Número 23” (The Number 23 – 2007, EUA), dirigido por Joel Schumacher e protagonizado por Jim Carrey. Atuou nos filmes “Universal Signs” (Universal Signs – 2008, EUA), de Ann Calamia, e “Wild Prairie Rose” (Wild Prairie Rose – 2016, EUA), de Deborah LaVine, antes de aceitar o personagem que o alçou à fama mundialmente, Frank Rossi, em “No Ritmo do Coração”.

 

Priorizando títulos com temáticas sobre deficiência auditiva, Troy Kotsur estreou como diretor de cinema em 2013, na comédia-dramática “No Ordinary Hero: The SuperDeafy Movie” (No Ordinary Hero: The SuperDeafy Movie – 2013, EUA), vencedor do Shepherd Award, concedido pelo Rome International Film Festival, USA.

 

Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.

 

* Entre os 15 prêmios individuais recebidos por sua performance em “No Ritmo do Coração”, estão: o já citado Actor, do SAG Awards; o BAFTA Film Award, do BAFTA Awards; o Critics’ Choice Award, da Critics’ Choice Association (CCA); o BSFC Award, da Boston Society of Film Critics Awards; o Independent Spirit Award, do Film Independent Spirit Awards; o HCA Award, da Hollywood Critics Association; o Sierra Award, da Las Vegas Film Critics Society Awards; e o VFCC Award, do Vancouver Film Critics Circle.

 

J.K. Simmons:

J.K. Simmons em “Apresentando os Ricardos” (Foto: Divulgação).

Nascido em 09 de janeiro de 1955 em Detroit, Michigan (EUA), Jonathan Kimble Simmons se formou Bacharel em Música na Universidade de Montana antes de iniciar a carreira como ator. Estreou na TV no telefilme “Operação Oriente Médio” (Popeye Doyle – 1986, EUA), de Peter Levin, participando de sua primeira produção cinematográfica em 1994, a comédia-dramática “O Árbitro” (The Ref – 1994, EUA), de Ted Demme.

 

Conciliando teatro, televisão e cinema, J.K. Simmons conquistou o público aos poucos, especialmente após ter interpretado J. Jonah Jameson, o chefe de Peter Parker no Jornal Clarim Diário, em “Homem-Aranha” (Spider-Man – 2002, EUA), “Homem-Aranha 2” (Spider-Man 2 – 2004, EUA) e “Homem-Aranha 3” (Spider-Man 3 – 2007, EUA), todos dirigidos por Sam Raimi. Nos anos seguintes, o ator trabalhou em filmes como “Amor sem Escalas” (Up in the Air – 2009, EUA), de Jason Reitman, “Bravura Indômita” (True Grit – 2010, EUA), de Ethan e Joel Coen, “Homens, Mulheres e Filhos” (Men, Women & Children – 2014, EUA), de Jason Reitman, “Liga da Justiça” (Justice League – 2017, EUA / Canadá / Reino Unido), de Zack Snyder, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” (Spider-Man: No Way Home – 2021, EUA), de Jon Watts, além de “Whiplash: Em Busca da Perfeição” (Whiplash – 2014, EUA) e “La La Land: Cantando Estações” (La La Land – 2016, EUA / Hong Kong), ambos de Damien Chazelle.

 

Vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por “Whiplash: Em Busca da Perfeição”, Simmons recebe agora sua segunda indicação à estatueta dourada.

 

* O ator recebeu apenas um prêmio individual por sua performance em “Apresentando os Ricardos”: o DFCS Award, da Denver Film Critics Society.

 

Kodi Smit-McPhee:

Kodi Smit-McPhee em “Ataque dos Cães” (Foto: Divulgação / Crédito: Netflix).

Nascido em 13 de junho de 1996 em Adelaide, Austrália, Kodi Smit-McPhee é membro de uma família de atores, entre eles, seu pai, Andy McPhee. Começou a carreira ainda na infância, no longa “Stranded” (Stranded – 2006, Austrália), de Stuart McDonald. No mesmo ano, atuou no telefilme “Fatal Contact: Bird Flu in America” (Fatal Contact: Bird Flu in America – 2006, Nova Zelândia / EUA), de Richard Pearce.

 

No ano seguinte, Kodi Smit-McPhee começou a alçar voos mais altos com filmes como “Romulus, Meu Pai” (Romulus, My Father – 2007, Austrália), de Richard Roxburgh, “A Estrada” (The Road – 2009, EUA), de John Hillcoat, “Deixe-me Entrar” (Let Me In – 2010, Reino Unido / EUA), de Matt Reeves, que também o dirigiu em “Planeta dos Macacos: O Confronto” (Dawn of the Planet of the Apes – 2014, EUA / Reino Unido / Canadá).

 

Contudo, o ator ganhou notoriedade junto ao grande público ao participar da franquia “X-Men” (X-Men – iniciada em 2001), interpretando Kurt Wagner / Noturno, em “X-Men: Apocalipse” (X-Men: Apocalypse – 2016, EUA) e “X-Men: Fênix Negra” (Dark Phoenix – 2019, EUA / Canadá), respectivamente dirigidos por Bryan Singer e Simon Kinberg.

 

Esta é a sua primeira indicação ao Oscar.

 

* Entre os 32 prêmios individuais recebidos por sua performance em “Ataque dos Cães”, estão: o AFCA Award, da Austin Film Critics Association; o CFCA Award, da Chicago Film Critics Association Awards; o HFCS Award, da Houston Film Critics Society Awards; o ALFS Award, do London Critics Circle Film Awards; o NYFCC Award, do New York Film Critics Circle Awards; o PFCC Award, do Philadelphia Film Critics Circle Awards; o SFBAFCC Award, da San Francisco Bay Area Film Critics Circle; o SFCS Award, da Seattle Film Critics Society; o SLFCA Award, da St. Louis Film Critics Association, US; e o WAFCA Award, da Washington DC Area Film Critics Association Awards.

 

Leia também:

Especial Oscar 2022: categoria de melhor atriz coadjuvante

Especial Oscar 2022

Oscar 2022: AMPAS define protocolo de segurança contra a Covid-19

Oscar 2022: a hora e a vez do streaming?

Oscar 2022: ‘Ataque dos Cães’ lidera com 12 indicações

Comentários

 




    gl