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‘Era Uma Vez em… Hollywood’: Tarantino subverte a história em prol da fábula

Em 09 de agosto de 1969, o assassinato brutal da atriz Sharon Tate, grávida de oito meses de seu primeiro filho, fruto do relacionamento com Roman Polanski, chocou o mundo. A barbárie cometida por seguidores de Charles Manson aconteceu na mansão do casal em Cielo Drive, rua ao norte de Beverly Hills, e teve outras quatro vítimas fatais: Jay Sebring, Abigail Folger, Voytek Frykowski e Steven Parent. Na noite seguinte, o grupo liderado por Charles ‘Tex’ Watson, braço direito de Manson, ganhou dois integrantes e cometeu mais dois assassinatos em Los Angeles, os de Leno e Rosemary LaBianca. Amplamente explorado pela mídia nos últimos 50 anos, o caso chamado de Tate-LaBianca expôs a insanidade da Família Manson, que vivia no Rancho Spahn, antiga locação de produções cinematográficas e televisivas de faroeste. E nesta quinta-feira, dia 15, esta história invade as salas de exibição pelas mãos de Quentin Tarantino em seu nono filme, “Era Uma Vez em… Hollywood” (Once Upon a Time… in Hollywood – 2019).

 

Filme subverte a História em prol da fábula (Foto: Divulgação).

Produzido, dirigido e roteirizado por Tarantino, “Era Uma Vez em… Hollywood” começa em 08 de fevereiro de 1969 e foca em dois personagens ficcionais para contar a barbárie que vitimou Tate (Margot Robbie), mas na versão de seu realizador, que exalta Hollywood de maneira bastante peculiar. Assim, o público é apresentado ao astro em decadência Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê e fiel escudeiro, Cliff Booth (Brad Pitt). Vizinho de Tate e Polanski em Cielo Drive, Dalton é um beberrão que sonha em voltar ao panteão hollywoodiano, mas, para isso, precisa se sujeitar às imposições do sistema e à megalomania de cineastas, bem como impressionar Marvin Schwarzs (Al Pacino), executivo que decide tirá-lo do limbo. Em meio a isso, Cliff conhece Pussycat (Margaret Qualley), jovem seguidora de Manson (Damon Herriman) que o leva até o Rancho Spahn, onde ele se arrisca para reencontrar um velho conhecido, George Spahn (Bruce Dern), proprietário do local que está sob os cuidados de outra fiel de Manson, Squeaky Fromme (Dakota Fanning).

 

Brincando com o gênero do faroeste por meio de uma incursão aos bastidores da indústria, inserindo elementos de comédia e ação com pitadas de gore, Tarantino brinda a plateia com um filme calcado num roteiro inteligente que utiliza muitos elementos ficcionais para abordar uma trama macabra que poderia ter sido uma produção de terror se não fosse real, permitindo que todas as peças se encaixem em seu ato final. Isto também se deve à montagem de Fred Raskin, de “Django Livre” (Django Unchained – 2012) e “Os Oito Odiados” (The Hateful Eight – 2015), que mantém o ritmo narrativo da primeira à última cena. Contudo, a edição de Raskin contém um pequeno deslize temporal que envolve a ida de Tate ao cinema para assistir ao próprio filme, “Arma Secreta contra Matt Helm” (The Wrecking Crew – 1968), enquanto as situações envolvendo Dalton e Booth se desenrolam.

 

No entanto, “Era Uma Vez em… Hollywood” tem como principal alicerce o elenco integrado entre si e seus respectivos personagens. Neste ponto, os destaques são Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, inspiradíssimos como dois profissionais que sonham com os dias de glória no showbusiness. A dupla esbanja química em cena e assimila com muita perspicácia as características de Dalton e Booth. No que tange ao elenco, os outros destaques são Al Pacino, que brilha como um executivo de estúdio, e Luke Perry, o eterno Dylan McKay de “Barrados no Baile” (Beverly Hills 90210 – 1990 – 2000). Apesar do pouco tempo de tela no papel de Wayne Maunder, ator popularmente conhecido como o Scott Lancer de “Lancer” (Idem – 1968 – 1970), Perry chama a atenção não apenas pela desenvoltura de sua atuação, mas por este ser seu último trabalho no cinema – o ator morreu em março deste ano em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e não teve a oportunidade de assistir ao corte final do longa.

 

“Era Uma Vez em… Hollywood” passeia pelos bastidores da indústria do entretenimento (Foto: Divulgação).

 

“Era Uma Vez em… Hollywood” é uma produção que também impressiona por seu refinamento estético, proporcionado pela técnica impecável, sobretudo em relação à direção de arte, figurino e fotografia, que recriam com propriedade as décadas de 1950 e 1960, inclusive suas produções de cinema e televisão. Desta forma, o espectador é convidado por Tarantino a uma viagem aos tempos em que a comunidade hollywoodiana rompia com o conservadorismo, acompanhando as transformações impostas pelas turbulências enfrentadas pela sociedade americana, a maior parte delas causada pela Guerra do Vietnã e por tensões raciais – tensões estas impulsionadas por um homem racista travestido de hippie, que passou parte da infância e juventude em reformatórios e prisões, fã de Beatles e que sonhava com a fama no showbusiness, Charles Manson.

 

Mais do que um filme sobre o assassinato brutal planejado pela mente perturbada do criador de uma seita, “Era Uma Vez em… Hollywood” é sobre a indústria do entretenimento que tinha na figura do anti-herói de faroeste o homem que se redime por caminhos tortuosos para ganhar o status de “mocinho”. No fim das contas, Tarantino subverte a História em prol da fábula, brincando com o sonho representado pelo famoso letreiro em Los Angeles e, de certa forma, remetendo à narração final de “Uma Linda Mulher” (Pretty Woman – 1990), de Garry Marshall: “Bem-vindo a Hollywood! Qual é o seu sonho? Todo mundo vem para cá; esta é Hollywood, a terra dos sonhos. Alguns sonhos se tornam realidade, outros não; mas continue sonhando”.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

Ana Carolina Garcia

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