Sancionada em agosto de 1979, pelo então presidente João Batista Figueiredo, a Lei da Anistia possibilitou o retorno ao Brasil de exilados políticos e seus familiares. Partindo desta premissa, a diretora e roteirista Flávia Castro leva às telas uma trama sobre a adaptação de uma adolescente em sua terra natal em meio às lembranças da infância. Selecionado para a Mostra Orizzonti da última edição do Festival de Veneza, “Deslembro” entra em cartaz nesta quinta-feira, dia 20.
No longa, Jeanne Boudier interpreta Joana, garota introspectiva que não quer deixar a França para retornar ao Brasil. Filha de uma exilada e de um dos desaparecidos do período da ditadura, Joana vive o dilema de apagar o passado ou desvendá-lo. E seja qual for a sua opção, o objetivo é um só: virar a página e seguir em frente administrando seus fantasmas, entre eles, o de seu próprio pai. Em meio a isso, precisa cuidar dos irmãos mais novos e lidar com as descobertas da adolescência, principalmente a do primeiro amor.
Com fotografia elegante e montagem eficiente, que insere flashbacks com precisão cirúrgica, “Deslembro” aborda o tema com delicadeza, focando prioritariamente nos conflitos de sua protagonista, defendida com muita dignidade por Boudier. Estreante na telona, a atriz compõe sua personagem sem excessos, explorando cada situação apresentada com naturalidade e competência. Neste ponto, é importante ressaltar a sintonia entre Boudier e Eliane Giardini, que interpreta a avó de Joana, Lúcia, condensando o drama de familiares que perderam seus entes queridos com firmeza e certa conformidade, tendo na neta a oportunidade de resgatar a alegria que lhe fora retirada com a perda do filho.
Contando com uma direção de arte rica em detalhes, “Deslembro” é um filme sobre processo de adaptação em suas mais variadas formas, mas que tem na sensibilidade o principal elemento de sua narrativa. Além disso, o longa encontra espaço para abordar as dúvidas de uma geração dividida entre seguir a ideologia dos pais e a exposição de produtos “imperialistas”, algo observado num diálogo entre Joana e o futuro namorado, também filho de exilados, que pergunta à menina o porquê de ela não consumir Coca-Cola.
Assista ao trailer oficial:
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