Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘Coringa’: Joaquin Phoenix surge como forte candidato ao Oscar de melhor ator

Protagonizado por Joaquin Phoenix, “Coringa” venceu o Leão de Ouro em Veneza e é líder de indicações ao Oscar 2020 (Foto: Divulgação / Warner Bros.).

Criado em 1940 por Bob Kane e Bill Finger, o Coringa é um dos principais inimigos do Batman e, no passado, foi defendido brilhantemente na tela grande por Jack Nicholson e Heath Ledger em “Batman” (Idem – 1989) e “O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight – 2008), respectivamente. Enquanto Nicholson apostou na loucura com traços de humor, Ledger compôs o personagem de forma mais perturbadora e violenta, o que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, entregue postumamente. Há três anos, o Palhaço do Crime ganhou novo intérprete em “Esquadrão Suicida” (Suicide Squad – 2016), Jared Leto, que dividiu opiniões do público e da crítica. Agora, o icônico vilão da DC volta às salas de exibição elevando a insanidade à potência máxima em “Coringa” (Joker – 2019), mas sob a responsabilidade de Joaquin Phoenix. Com direção de Todd Phillips, da trilogia “Se Beber, Não Case” (The Hangover – iniciada em 2009), o longa é a principal estreia desta quinta-feira, dia 03.

 

Em “Coringa”, Arthur Fleck / Coringa volta a aterrorizar Gotham City, ainda mais caótica e anárquica em meio a uma greve de garis e tantos outros problemas sociais, como o corte de verbas na saúde, interrompendo o seu tratamento psiquiátrico. Trabalhando como palhaço e cuidando da mãe, antiga funcionária de Thomas Wayne (Brett Cullen), pai de Bruce Wayne (Dante Pereira-Olson), Arthur sonha em se tornar um comediante famoso, mas as constantes derrotas impostas pela vida e pelo sistema que ignora pacientes psiquiátricos de baixa renda permitem que o lado mais obscuro de sua personalidade venha à tona, transformando-o gradualmente no Palhaço do Crime.

 

Explorada nos mínimos detalhes pelo roteiro bem construído de Phillips e Scott Silver, a transformação de Arthur em Coringa tem como maior trunfo o talento e a versatilidade de Phoenix. Frágil num momento, perturbador e ameaçador em outro, Phoenix constrói o seu Coringa de maneira a trabalhar com propriedade as emoções de um homem acometido por uma doença mental e que é obrigado a se confrontar com o passado até então desconhecido quando seu mundo começa a desmoronar – “Eu só não quero mais me sentir tão mal”, diz ele. Isto pode ser observado não apenas no olhar que exprime dor, como também na risada insana capaz de deixar o espectador com calafrios. É uma atuação sublime que coloca Joaquin Phoenix como um dos nomes mais fortes para disputar a próxima temporada de premiações americana, inclusive o Oscar, prêmio no qual já foi indicado nas categorias de melhor ator, “O Mestre” (The Master – 2012) e “Johnny & June” (Walk the Line – 2005), e ator coadjuvante, “Gladiador” (Gladiator – 2000).

 

Robert De Niro vive o apresentador de talk-show Murray Franklin (Foto: Divulgação / Warner Bros.).

 

Bebendo diretamente da fonte do cinema de Martin Scorsese, sobretudo de “Táxi Driver” (Taxi Driver – 1976) e “O Rei da Comédia” (The King of Comedy – 1982), ambos estrelados por Robert De Niro, que aqui assume o posto de coadjuvante como o apresentador de talk-show Murray Franklin, “Coringa” prima por seu design de produção, fotografia, figurino e trilha sonora, que cresce em sintonia com a transformação de Arthur, potencializando sua dor, raiva, insanidade e violência. Outro fator que chama a atenção é a montagem de Jeff Groth, parceiro de Phillips em “Cães de Guerra” (War Dogs – 2016), que costura com habilidade realidade e ilusão.

 

Vencedor do Leão de Ouro no último Festival de Veneza, “Coringa” é um drama profundo que aborda temas importantes como doença mental, bullying e desigualdade social que origina uma onda de violência sem precedentes na fictícia Gotham City, que passa a tratar um psicopata sem nada a perder como ídolo. Ou seja, não é mais uma adaptação cinematográfica de HQ’s voltada para o público de todas as idades, mas uma produção perturbadora e violenta.

 

*Classificação indicativa: 16 anos.

 

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Assista ao trailer oficial legendado:

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