Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

Cinema e o cenário pós-pandemia

“Tenet”: Christopher Nolan quer que seu filme seja o primeiro sucesso pós-pandemia (Foto: Divulgação / Credito: Warner Bros.).

Fechadas desde março em decorrência da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), salas de cinema de diversos países amargam enorme prejuízo, podendo, inclusive, fecharem as portas definitivamente, como a americana AMC que, de acordo com o The Hollywood Reporter, corre o risco de declarar falência – circulam rumores de potencial interesse da Amazon em comprar a AMC, segundo a Variety. Ainda sem previsão de reabertura, as redes estudam protocolos de segurança para que possam receber o público, boa parte dele composto por crianças e idosos.

 

Nos Estados Unidos, a Casa Branca incluiu as salas de exibição em seu plano de reabertura, mas sua implementação depende da situação de cada estado. Naquele país, há quem pense ser possível voltar às atividades dos cinemas, mas a realidade ainda é um impedimento, pois a pandemia não está sob controle e não existe medicamento nem vacina específicos para a Covid-19 – Gavin Newson, governador da Califórnia, afirmou em 28 de abril que a reabertura levará “meses, não semanas”. Mesmo que alguns estados estivessem habilitados a retomar este tipo de serviço em segurança, algumas companhias já adiantaram a decisão de esperar lançamentos de blockbusters para reabrirem suas portas.

 

“Trolls 2” está confirmado para 08 de outubro nos cinemas brasileiros (Foto: Divulgação).

Enquanto os cinemas não reabrem, as grandes redes declaram guerra contra a Universal Pictures por quebrar a janela de exibição, lançando a animação “Trolls 2” (Trolls World Tour – 2020), previamente agendada para o circuito comercial, em premium VOD. Esta mudança de estratégia também poderá ser adotada pela Disney, que já anunciou o lançamento de “Artemis Fowl: O Mundo Secreto” (Artemis Fowl – 2020) direto em sua plataforma digital, a Disney Plus. Paralelamente a isso, Christopher Nolan lidera uma corrida para que seu próximo longa-metragem, “Tenet” (Idem – 2020), seja o primeiro título a entrar em cartaz após a pandemia. Segundo a Variety, o cineasta está fazendo pressão para que as salas americanas sejam reabertas em julho, no auge do verão no hemisfério norte, período mais lucrativo daquele mercado.

 

Independentemente do país, os cinemas enfrentarão dificuldades num primeiro momento porque o temor de parte do público é real, uma vez que cinemas são propícios para a disseminação do novo Coronavírus por serem locais fechados e com aglomeração de pessoas. Por esta razão, é necessário implementar protocolos rígidos visando à segurança dos espectadores. Isto inclui não apenas limitar a capacidade das salas para garantir o distanciamento, como também sua desinfecção ao término de cada sessão, algo imprescindível por se tratar de um vírus cuja contaminação também acontece por contato em superfícies, o que, num efeito dominó, ainda chama a atenção para a higienização dos óculos 3D – quem nunca abriu a embalagem e se deparou com os óculos sujos, muitas vezes, até com marcas de dedos?! A preocupação procede e, no momento de reabertura, os cuidados terão de ser excessivos para o bem de todos, evitando, até mesmo, uma temida segunda onda de contágio. No entanto, o processo de desinfecção das salas entre as sessões ocasionará um aumento no intervalo entre elas e, consequentemente, a redução do número de sessões diárias.

 

Se adotados, tais cuidados aumentarão os custos para as redes de cinema, inclusive em equipamentos de proteção individual para seus funcionários, sobretudo equipes de limpeza e manutenção. Neste ponto, surge a questão do lucro depois de tanto tempo de prejuízo com ingressos e bombonieres (pipoca e refrigerante custam caro e em muitos mercados rendem mais que as entradas). E, novamente no efeito dominó, o valor do ingresso poderá sofrer as consequências, causando o afastamento de uma parcela dos clientes impactada pela crise econômica que se abateu em todo o mundo. Encontrar o meio-termo será uma missão árdua, mas não impossível.

 

Ainda não se sabe qual será o protocolo de segurança implementado nas salas brasileiras nem o seu impacto sobre o consumidor no cenário pós-pandemia, o chamado “novo normal”. Procuradas pela coluna, as redes Cinemark, Cinépolis, Kinoplex e Espaço Itaú, por meio de suas respectivas assessorias, não se pronunciaram sobre o assunto. Também procurado, o tradicional Grupo Estação, até a presente data, não se manifestou.

 

Conforme dito desde o início da pandemia, as produções mais afetadas serão as menores, que não têm à disposição o orçamento dos estúdios, repletos de lançamentos de grande apelo popular que serão necessários para que os exibidores possam se reerguer, como os já citados blockbusters. Com isso, o circuito tradicionalmente voltado para filmes de arte e independentes poderão se adaptar e oferecer, por algum tempo, títulos mais populares, contrariando parte de seus clientes fiéis.

 

Com as salas de exibição fechadas, a saída para ajudar o setor a se manter de pé em meio à crise mundial foi encontrada no passado: cinema drive-in. Bastante popular há algumas décadas, esta forma de entretenimento concede ao público a segurança necessária para assistir aos filmes no que tange ao distanciamento social. No entanto, alguns drive-ins podem limitar o número de pessoas por carro, como o que será montado na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Com curadoria de Ricardo Cota, da Cinemateca do MAM-RJ, o evento terá capacidade para cerca de 150 veículos, com duas pessoas, cada, e deverá ser inaugurado ainda este mês. A versão 2020 dos drive-ins também oferece outras atrações, entre elas, shows. É o caso do LoveCine Drive-In, que será realizado entre os dias 28 de maio e 28 de junho na Jeunesse Arena, também na Barra, com capacidade aproximada para 180 carros.

 

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