Produzido por Denzel Washington, “A Voz Suprema do Blues” (Ma Rainey’s Black Bottom – 2020) apresenta à fatia mais jovem do público uma figura lendária do blues, Ma Rainey (Viola Davis), chamada de Mãe deste gênero musical criado por escravos nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos no final do século XIX, influenciado pela tradição africana. Marcando a despedida de Chadwick Boseman, o eterno Rei T’Challa / Pantera Negra do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM), o longa está disponível na Netflix desde a última sexta-feira, dia 18.
Baseado na peça “Ma Rainey’s Black Bottom”, de August Wilson, “A Voz Suprema do Blues” foca na gravação do álbum “Black Bottom” num estúdio de Chicago, em 1927, mostrando o lado irascível de Ma Rainey, que precisava lutar diariamente por respeito e para manter seu espaço na indústria fonográfica, controlada por homens brancos. Em meio a isso, o longa aborda o relacionamento conflituoso com Levee (Chadwick Boseman), trompetista impetuoso que a desafiava constantemente.
Com direção de George C. Wolfe, “A Voz Suprema do Blues” apresenta similaridades com adaptação de peça da Broadway de Wilson, “Um Limite Entre Nós” (Fences – 2016), produzido, dirigido e estrelado por Washington, que dividiu a cena com Davis, no que tange à priorização da linguagem teatral em detrimento da cinematográfica. Com isso, o longa aposta somente nos diálogos e na força cênica do elenco, sobretudo de Davis e Boseman.
Despontando como dois nomes fortes na corrida pelo próximo Oscar, Viola Davis e Chadwick Boseman entregam duas atuações consistentes e que se complementam. Enquanto Viola Davis parece encarnar Ma Rainey, mergulhando na personagem como poucas atrizes são capazes de fazer, esmiuçando a insegurança e os traumas escondidos atrás da imagem de mulher forte e inabalável, Chadwick Boseman entrega uma performance igualmente poderosa. Inicialmente apresentado como um jovem em busca do sonho americano no cenário que antecede a Grande Depressão, Levee é composto de maneira a ter todas as suas camadas exploradas pelo ator, que trabalha com a mesma perspicácia tanto o lado mulherengo do músico quanto a dor da perda brutal da mãe e das feridas oriundas do preconceito racial, fazendo deste último trabalho uma despedida à altura do homem que deixou sua marca na História do cinema.
Produção original Netflix, “A Voz Suprema do Blues” derrapa na técnica, especialmente na reprodução da Chicago do final dos anos 1920 nas sequências ambientadas fora do estúdio de gravação, mas cumpre o objetivo de discutir o preconceito racial enraizado e institucionalizado na sociedade americana desde os seus primórdios.
Assista ao trailer oficial legendado:
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