Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘A Viúva das Sombras’: ‘A Bruxa de Blair’ made in Rússia

“A Viúva das Sombras” é inspirado em eventos reais (Foto: Divulgação).

Há 22 anos, “A Bruxa de Blair” (The Blair Witch Project – 1999) popularizou um recurso narrativo que tinha como objetivo potencializar a atmosfera de suspense e terror proposta pelos diretores e roteiristas Daniel Myrick e Eduardo Sánchez: o found footage, que consiste em conferir característica documental a filmes de ficção. Hoje clássico, o longa sobre jovens documentaristas que desaparecem numa floresta nos arredores da cidade de Burkisttville, no estado americano de Maryland, assombrada pela bruxa do título, é uma referência para o cinema, sobretudo independente. Utilizando a mesma fórmula da produção que arrecadou quase US$ 250 milhões em todo o mundo, o cineasta estreante Ivan Minin leva às telas uma trama sobrenatural ambientada na densa floresta em São Petersburgo (Rússia), que entra em cartaz nesta quinta-feira, dia 25, nos cinemas brasileiros: “A Viúva das Sombras” (Vdova – 2020, Rússia).

 

Ao contrário de “A Bruxa de Blair”, o terror russo é inspirado em eventos reais que impulsionam a lenda em torno de uma entidade que aterroriza a floresta há muitos anos, conhecida como Viúva das Sombras, atacada por moradores locais após matar o marido traidor, morrendo em seguida na água gélida. Em busca de vingança, a Viúva, de acordo com a lenda, impede a saída de quem se aventura pelo local. Partindo deste princípio, Minin começa seu filme explicando que centenas de pessoas já desapareceram na floresta, mas nem todas tiveram seus corpos encontrados, para, então, contar a história de uma equipe de resgate que adentra a mata à procura de um adolescente de 14 anos, mas acaba se deparando com uma mulher em estado de choque após presenciar eventos sobrenaturais.

 

“A Viúva das Sombras” marca a estreia de Ivan Minin na direção de longas-metragens (Foto: Divulgação).

 

Reunindo uma série de clichês inerentes aos gêneros nos quais é classificado, “A Viúva das Sombras” é um filme afobado no que tange à antecipação de situações em decorrência do uso exacerbado da trilha sonora e de recursos sonoros, que, nitidamente, tinham como objetivo impulsionar o suspense e o terror. Carente de uma trama desenvolvida com esmero e, também, de jump scares, o longa custa a engrenar, tornando-se um tanto repetitivo, algo que pode ser atribuído em parte à falta de experiência de seu realizador. Contudo, estes não são os únicos problemas apresentados no decorrer de pouco mais de uma hora e 20 minutos de duração.

 

Oscilando entre o found footage e a câmera tradicional, o longa se perde ao manter as ações da viúva na subjetividade, cortando bruscamente sequências que poderiam ter tido resultados melhores se algum elemento fosse apresentado ao espectador. Isto se deve à preocupação de Minin em copiar “A Bruxa de Blair” ao invés de criar uma identidade própria para o seu filme, fazendo dele um bom exemplar do cinema produzido na Rússia.

 

Sem nenhuma atuação consistente e/ou interessante, “A Viúva das Sombras” funciona apenas como passatempo para o público, perdendo a oportunidade de discutir a lenda e os registros de eventos sobrenaturais num ambiente hostil no qual as únicas sensações permitidas aos seres humanos são medo e impotência.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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