Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘A Vida Invisível’ comove sem cometer o pecado da pieguice

Dirigido por Karim Aïnouz, “A Vida Invisível” disputou uma vaga dentre os finalistas de melhor filme internacional no Oscar 2020 (Foto: Divulgação).

Representante brasileiro na disputa por uma vaga entre os finalistas da categoria de melhor filme internacional do Oscar 2020, “A Vida Invisível” (2019) chega às salas de exibição brasileiras nesta quinta-feira, dia 21. Dirigido por Karim Aïnouz, o longa é a adaptação cinematográfica de “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha.

 

Ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1940 e 1950, o longa mostra a separação de uma família devido às convenções sociais nas quais ela está inserida, mas sob a ótica do amor incondicional entre as irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler). Sonhando com a aprovação no Conservatório de Viena, a jovem Eurídice precisa lidar com a partida inesperada de Guida para a Grécia, imaginando a irmã feliz ao lado do marinheiro por quem se apaixonou. Sem notícias e precisando seguir com a própria vida, Eurídice se casa com Antenor (Gregório Duvivier), numa relação desprovida de amor, paixão e respeito. Enquanto isso, Guida retorna ao Brasil, grávida de seu filho, situação inconcebível para os padrões da época, sendo expulsa pelo pai envergonhado, iniciando uma história de dor e desencontros.

 

“A Vida Invisível” venceu o prêmio de melhor filme da Mostra Um Certo Olhar (Um Certain Regard) no Festival de Cannes deste ano (Foto: Divulgação).

Primando pela recriação de época e por sua fotografia, “A Vida Invisível” é um melodrama que apresenta ao público o preconceito enraizado e institucionalizado não apenas contra os negros, sintetizado numa sequência ambientada num restaurante, como também contra a mulher. Isto pode ser observado principalmente em Guida, tanto em seu trabalho no estaleiro quanto na condição de mãe solteira, o que lhe impede de se relacionar com homens capazes de respeitá-la como ser humano. É um retrato duro e sem concessões da falta de liberdade e voz das mulheres naquele período, muitas delas sem condições de lutar contra as regras que lhes foram impostas.

 

Produzido por Rodrigo Teixeira, este vencedor do prêmio de melhor filme da Mostra Um Certo Olhar (Um Certain Regard) no Festival de Cannes deste ano tem como alicerces o roteiro desenvolvido com esmero por Aïnouz, Murilo Hauser e Inés Bortagaray e as atuações de Carol Duarte e Julia Stockler, ambas estreantes em longas-metragens. Enquanto Duarte trabalha as diversas camadas de Eurídice com propriedade, Stockler surge em cena com força para dar vida à jovem vitimada pelo preconceito e que precisa recomeçar do zero para sobreviver às adversidades, com a desenvoltura de uma veterana, inclusive ao contracenar com Fernanda Montenegro (Eurídice idosa), gigante em cena mesmo que em participação pequena.

 

“A Vida Invisível” também chama a atenção pela maneira como explora o corpo, pois nada neste longa é gratuito, nem mesmo as cenas de nudez e sexo conduzidas por Karim Aïnouz de forma a valorizar o orgânico inclusive nos sons. E é esta opção pelo orgânico que concede doses de vitalidade a este filme que comove sem cometer o pecado da pieguice em nenhum momento, garantindo o título de um dos melhores lançamentos deste ano.

 

Assista ao trailer oficial:

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