Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘A Pequena Sereia’: nova versão faz jus à animação original

“A Pequena Sereia”: nova versão é protagonizada por Halle Bailey (Foto: Divulgação).

Lançado em 1989, “A Pequena Sereia” (The Little Mermaid – 1989, EUA / Japão) surpreendeu a todos ao demonstrar que a animação produzida pela The Walt Disney Company não mais agonizava. O gênero cinematográfico sobre o qual o estúdio foi construído havia sobrevivido a tempos muito difíceis e incertos, marcados pela perda dos irmãos Walt e Roy Disney, e produções que não lembravam os anos dourados da Casa do Mickey. Dirigida por Ron Clements e John Musker, esse longa-metragem animado levou a magia de volta à Disney, conquistando público e crítica na mesma intensidade, o que também é atribuído à participação de Alan Menken e Howard Ashman, que  concederam ao filme os elementos de um grande musical como os da Broadway.

 

A animação protagonizada por Ariel (voz de Jodi Benson), baseada no conto de Hans Christian Andersen, invadiu as salas de exibição com alegria e cores vivas, colhendo frutos na temporada de premiações, inclusive as estatuetas do Oscar de melhor trilha (Menken) e canção original (Menken e Howard) para “Under the Sea”. E isso aumentou ainda mais a responsabilidade de Rob Marshall, o responsável por dirigir a nova versão do longa de 1989, “A Pequena Sereia” (The Little Mermaid – 1989, EUA), a principal estreia da próxima quinta-feira (25) no circuito exibidor.

 

Segunda revisão de Marshall ao passado da Casa do Mickey, a primeira foi “O Retorno de Mary Poppins” (Mary Poppins Returns – 2018, EUA), sequência de “Mary Poppins” (Mary Poppins – 1964, EUA), de Robert Stevenson, “A Pequena Sereia” é um híbrido de animação e live-action que respeita o clássico que o originou, mas de maneira a apostar numa trama mais aprofundada que explora não apenas a diferença entre dois mundos, como também questões familiares tanto de Ariel (Halle Bailey) quanto do Príncipe Eric (Jonah Hauer-King), dois jovens que anseiam por liberdade, subvertendo as regras das sociedades nas quais estão inseridos. Para a realeza, não importa se no mar ou em terra, certas convenções são imutáveis e, uma delas, é baseada no medo do mundo desconhecido, impedindo o relacionamento entre eles.

 

 

Neste contexto, drama, ação e romance dominam a narrativa em detrimento do musical, gênero que guiou a animação original. Com isso, o tom sombrio ganha mais espaço, pois Úrsula (Melissa McCarthy) e suas enguias são mais assustadoras na nova versão, apesar das doses de comicidade da Bruxa do Mar, defendida com propriedade por McCarthy, atriz e comediante que apresentou atuações forçadas e/ou artificiais em muitos de seus filmes anteriores, como por exemplo, “Caça-Fantasmas” (Ghostbusters – 2016, EUA / Austrália), de Paul Feig. O desempenho da atriz é um dos mais impressionantes deste longa-metragem da Casa do Mickey, pois permite que ela exprima todo o seu lado caricatural em prol da vilã que é uma das mais icônicas do catálogo Disney, algo que pode ser observado com afinco na sequência de “Poor Unfortunate Souls”.

 

No entanto, Melissa McCarthy não brilha sozinha em cena, pois Halle Bailey é o grande destaque, ofuscando a todos ao seu redor. Vítima de preconceito racial e alvo de inúmeras críticas desde o anúncio de sua escalação como Ariel, Bailey constrói a personagem com leveza e naturalidade, assimilando as características da princesa animada por Mark Henn há mais de 30 anos, mas sem deixar de esmiuçar a dor de uma jovem cujo sonho parece impossível: assumir a forma humana para viver um grande amor. E a dor fica muito nítida logo nos primeiros minutos dessa superprodução, na sequência embalada por “Part of Your World”, tão potente quanto na animação.

 

Halle Bailey e Jonah Hauer-King em cena de “A Pequena Sereia” (Foto: Divulgação).

 

Se “Part of Your World” e “Poor Unfortunate Souls” conseguem manter a força do clássico, o mesmo não pode ser dito sobre “Under the Sea”, que não tem o mesmo impacto da animação, inclusive no que tange à estética, pois a computação gráfica, mesmo impecável como nesse filme, não é capaz de repetir a elegância dos traços da animação tradicional. “Under the Sea” continua alegre a divertida, não há como negar, mas perde no encantamento se comparada à original. Contudo, isso não influencia o resultado de “A Pequena Sereia”, que se destaca como um dos melhores títulos da onda de remakes dos clássicos Disney, tendo Sebastião (voz de Daveed Diggs) e Sabidão (voz de Awkwafina) como alívio cômico, ofuscando Linguado (voz de Jacob Tremblay).

 

A nova versão de “A Pequena Sereia” tem de ser assistida com atenção para melhor compreensão da história apresentada sobretudo nas entrelinhas, pois não se restringe ao conto de fadas nem à importância dos pais em respeitarem as escolhas e sonhos de seus filhos, superando seus próprios medos. Há tempos, a The Walt Disney Company está comprometida em atender às demandas da sociedade contemporânea, buscando produzir títulos alinhados a questões urgentes, como representatividade, diversidade e inclusão. E é exatamente isso que esse longa oferece à plateia.

 

“A Pequena Sereia” é um filme guiado pela mensagem de respeito às diferenças e ao meio ambiente e, por esta razão, sua sequência final é de extrema importância em tempos conturbados, mostrando que a coexistência pacífica é possível de ser alcançada, basta a aceitação do próximo como ele é, sem pré-julgamentos calcados na origem e/ou aparência, por exemplo. No mundo de Ariel e Eric, a diferença torna a união mais forte. E, no mundo real, também deveria ser assim.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

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