Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

‘A Favorita’: imponência arquitetônica e degradação moral

“A Favorita” recebeu 10 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e direção (Foto: Divulgação).

Livremente inspirado na história real da Rainha Anne da Inglaterra, “A Favorita” (The Favourite – 2018) entrou em cartaz nesta quinta-feira, dia 24, como um dos principais títulos da atual temporada de premiações.

 

Dirigido por Yorgos Lanthimos, de “O Lagosta” (The Lobster – 2015), o longa mostra os bastidores da corte no início do século XVIII, focando nas fragilidades da Rainha Anne (Olivia Colman), tanto em termos de saúde quanto de alienação, pois ela não fazia ideia do que acontecia do lado de fora dos portões do palácio. Emocionalmente desestruturada devido aos 17 filhos perdidos, a Rainha é manipulada por sua dama de companhia e amante, Sarah (Rachel Weisz), que se sente ameaçada com a chegada de sua prima, Abigail (Emma Stone), jovem que sonha em ascender custe o que custar.

 

Fugindo do clichê de monarquia perfeita, “A Favorita” joga na tela um universo sombrio que beira o grotesco, contrapondo imponência arquitetônica e degradação moral. Para isto, utiliza como combustível a ganância de pessoas que não se furtam em usar umas às outras para atingir seus objetivos, apresentando à plateia relações de poder e dependência emocional, bem como as consequências da alienação de sua governante. E tudo isso calcado na manipulação dos desejos mais íntimos da soberana.

 

Primando pelo figurino e inserção da trilha sonora por uma montagem para lá de eficiente, este filme de época chama realmente a atenção pela fotografia e pela escalação do elenco. Assinada por Robbie Ryan, a fotografia ousada utiliza lentes grande-angulares, distorcendo um pouquinho a imagem, trabalhando luzes e sombras de maneira a transmitir ao espectador as mais variadas emoções provocadas pelas situações vividas pelas personagens. E tais situações tornam-se críveis graças ao desempenho do trio principal.

 

Rachel Weisz e Olivia Colman em cena (Foto: Divulgação).

 

Enquanto Olivia Colman brilha ao desconstruir a imagem intocável da realeza, esmiuçando suas fraquezas, medos e traumas, Rachel Weisz e Emma Stone surgem como animais peçonhentos prestes a dar o bote. Para isto, Weisz e Stone equilibram força e sutileza num domínio cênico ímpar, sobretudo a segunda. Vencedora do Oscar de melhor atriz por “La La Land – Cantando Estações” (La La Land – 2016), Stone vive a fase mais madura de sua carreira e engole suas companheiras de cena muitas vezes apenas com o olhar frio e malicioso. É um belo trabalho da atriz outrora subestimada pela indústria e pela crítica especializada.

 

Dividido em oito capítulos, “A Favorita” começa acelerado, mas ganha densidade a cada sequência para apresentar uma conclusão fora do lugar comum dos filmes de época. É uma produção sobre o lado mais sombrio do ser humano, impulsionado pela ganância e falta de caráter.

 

* “A Favorita” concorre a 10 estatuetas do Oscar: melhor filme; direção para Yorgos Lanthimos; atriz para Olivia Colman; atriz coadjuvante para Emma Stone e Rachel Weisz; roteiro original para Deborah Davis e Tony McNamara; figurino para Sandy Powell, também indicada por “O Retorno de Mary Poppins” (Mary Poppins Returns – 2018); design de produção para Fiona Crombie e Alice Felton; fotografia para Robbie Ryan; e edição para Yorgos Mavropsaridis.

 

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Assista ao trailer oficial legendado:

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