Ana Carolina Garcia. Foto: SRzd

Ana Carolina Garcia

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá, onde também concluiu sua pós-graduação em Jornalismo Cultural. Em 2011, lançou seu primeiro livro, "A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema", da Editora Senac Rio.

A AMPAS e a nova categoria do Oscar

A 92a edição da cerimônia de entrega do Oscar será realizada no dia 09 de fevereiro de 2020, no Dolby Theatre, em Los Angeles (Foto: Divulgação / Richard Harbaugh ©A.M.P.A.S.).

Na semana passada, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (Academy of Motion Picture Arts and Sciences – AMPAS) causou imenso burburinho e dividiu opiniões tanto na comunidade hollywoodiana quanto entre críticos e público após anunciar três mudanças no Oscar: cerimônia de três horas de duração, alteração da data da edição de 2020 e a criação da categoria de melhor filme popular.

 

Apesar das críticas negativas devido à decisão de não transmitir o anúncio de algumas categorias ao vivo para realizar uma cerimônia cronometrada, quebrando a tradição do Oscar e impedindo profissionais de diversas áreas de discursarem para todo o mundo, a AMPAS se viu no olho do furacão por causa da criação da categoria de melhor filme popular. No comunicado oficial da última quarta-feira, dia 08, a instituição não divulgou as regras nem o que de fato entende por filme popular, o que aumentou o burburinho.

 

Na verdade, diversos fatores contribuíram para a adição desta categoria, discutida há tempos pelo conselho da Academia. Obviamente, a queda de audiência da cerimônia nos Estados Unidos pesou bastante, pois, segundo o IndieWire, houve pressão da emissora que tem os direitos de transmissão da festa, a ABC, que pertence ao grupo Disney. Ou seja, é mais uma manobra de aproximar o público jovem que se distanciou da premiação nos últimos anos, apesar dos inúmeros esforços dos produtores que têm apostado em atrações musicais e apresentadores mais populares que dialoguem com facilidade com esta fatia importante dos telespectadores.

 

Protagonizado por Chadwick Boseman, “Pantera Negra” é considerado uma das apostas para o Oscar 2019 (Foto: Divulgação).

 

Logo após anunciar a criação da nova categoria, mas sem entrar em detalhes, conforme dito acima, a AMPAS foi acusada de beneficiar blockbusters, principalmente os estrelados por super-heróis, que têm o Universo cinematográfico da Marvel (UCM) como fonte mais rentável. E é neste ponto que a Disney surge novamente na discussão, pois é a responsável pelo UCM, que tem “Vingadores: Guerra Infinita” (Avengers: Infinity War – 2018) e “Pantera Negra” (Black Panther – 2018) no topo do ranking das bilheterias mundiais de 2018 com US$ 2,04 bilhões e US$ 1,34 bilhão, respectivamente, de acordo com o Box Office Mojo. Isto é, se o critério adotado for o do lucro, o estúdio do Mickey tem grandes chances de faturar a estatueta de melhor filme popular, considerando, ainda, o fato de “Pantera Negra” já ter sido apontado como uma das apostas para o Oscar 2019 por levar às telas uma discussão social por meio da origem de Erik Killmonger (Michael B. Jordan), focando também na importância das raízes para o indivíduo, responsabilidade para com terceiros e os efeitos colaterais do desejo de vingança, que origina uma ideologia política radical.

 

E a questão do lucro, adotada ou não como critério para a seleção dos títulos da categoria de melhor filme popular, merece ser destacada, uma vez que Hollywood é uma indústria e precisa de dinheiro para manter-se de pé. Com isso, a nova categoria surge como uma maneira de reconhecer os sucessos comerciais que, independente do gênero, fazem jus ao princípio mais básico do cinema: o do entretenimento. Sim, durante seus primeiros anos, o cinema tinha como propósito levar diversão às massas, mais precisamente ao proletariado, pois burguesia e aristocracia não se interessavam pelo espetáculo das imagens em movimento, proporcionado pela popularização de aparelhos como o cinetoscópio contínuo de Thomas Edison e o cinematógrafo dos irmãos Lumière, no período chamado de Primeiro Cinema (1895 – 1910), conhecido também como “cinema das atrações”.

 

Desta forma, a AMPAS segue outras instituições responsáveis por prêmios importantes para a indústria cinematográfica hollywoodiana, como por exemplo, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (Hollywood Foreign Press Association – HFPA) e a Broadcast Film Critics Association (BFCA), que entregam respectivamente o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards, duas premiações que não têm nenhum impacto sobre a votação da Academia, mas que são dois termômetros que influenciam diretamente a campanha pelo Oscar. No Globo de Ouro, os longas-metragens são divididos em três categorias distintas: animação, drama e comédia / musical; enquanto no Critics’ Choice são quatro, além da principal (melhor filme): terror ou ficção científica, animação, ação e comédia.

 

Além disso, é importante citar que o Screen Actors Guild, responsável pelo SAG Awards, criou uma categoria que reconhece o trabalho dos dublês, a de melhor equipe de dublês, algo que Jason Statham pleiteia junto à AMPAS há alguns anos. Em 2013, o ator disse em entrevista à revista Vanity Fair que a classe é subestimada, pois se arrisca em cena sem nenhum reconhecimento, tecendo críticas diretas à Academia e aos atores que, segundo ele afirmou à publicação, ficam “em pé em frente a uma tela verde, apertando o rosto e fingindo diversas façanhas”.

 

Sob o comando de John Bailey, que se reelegeu como presidente na semana passada, a AMPAS não desmerece nenhuma produção ao criar a categoria de melhor filme popular nem dá margens para que o Oscar se torne uma versão pomposa do MTV Movie Awards no futuro. No fim das contas, a instituição está reconhecendo a importância dos sucessos comerciais, aproximando-se, assim, do público que mais consome cinema ao buscar na sala de exibição momentos de diversão e relaxamento acompanhados de refrigerante e pipoca. Tudo isso sem deixar a seriedade inerente ao prêmio mais importante e cobiçado do cinema mundial em segundo plano. E, sinceramente, não há mal nenhum nisto.

 

A 91a edição da cerimônia de entrega do Oscar será realizada no dia 24 de fevereiro de 2019.

 

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