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‘7 Dias em Entebbe’: fórmula convencional

Profissional respeitado dentro e fora do Brasil devido ao êxito de “Tropa de Elite” (2007) e “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” (2010), José Padilha iniciou sua carreira em Hollywood com o elogiado “Robocop” (RoboCop – 2014), ao lado de Michael Keaton e Gary Oldman. E nesta quinta-feira, dia 19, seu segundo longa-metragem hollywoodiano chega às salas brasileiras: “7 Dias em Entebbe” (7 Days In Entebbe – 2018).

 

Protagonizado por Daniel Brühl (Wilfried Böse) e Rosamund Pike (Brigitte Kuhlmann), o filme é baseado na história real do sequestro do voo 139 da Air France que saiu de Tel-Aviv (Israel) com destino à Paris (França), com uma escala em Atenas (Grécia), no dia 27 de junho de 1976 com mais de 200 pessoas a bordo. Depois de abastecer em Benghazi (Líbia), o avião seguiu para Entebbe (Uganda), onde ficou por alguns dias sob a proteção do então presidente do país africano, o ditador Idi Amin (Nonso Anozie), que liberou o antigo terminal do aeroporto para os reféns, separando os judeus dos outros.

 

Sequestro contou com o apoio do ditador Idi Amin (Nonso Anozie), presidente de Uganda à época (Foto: Divulgação).

 

Divisor de opiniões na última edição do Festival de Berlim, realizada em fevereiro deste ano, este drama tem polêmica como subtítulo, tal qual a série de Padilha para a Netflix, “O Mecanismo” (2018). E tamanha polêmica se deve ao fato de o roteiro assinado por Gregory Burke conceder espaço aos terroristas que exigiam a libertação de presos pelo governo de Israel, permitindo a Padilha mostrar sem rodeios as motivações dos sequestradores, sobretudo dos alemães, Wilfried Böse e Brigitte Kuhlmann, integrantes do grupo Baader-Meinhof.

 

E é exatamente por meio da dupla germânica que o cineasta tece uma crítica aos burgueses que fingem não levar um estilo de vida capitalista e defendem cegamente uma causa sem conhecer as reais intenções de seus líderes. Desta forma, repetem chavões revolucionários que mais parecem tiras de jornais, algo mais explorado pela personagem de Pike, mas que pode ser resumido em uma frase de Böse: “Quero jogar uma bomba na consciência das massas”.

 

No entanto, também há espaço para apresentar o dilema moral dos dois terroristas, sobretudo de Böse, devido ao fato de serem dois alemães que sequestraram judeus 31 anos após o término da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Isto se agrava quando os passageiros judeus são separados do grupo e ameaçados tanto pelos terroristas da Frente Popular para Libertação da Palestina quanto por Idi Amin. “Não sou guarda de campo de concentração”, diz o personagem cujo lado humano surge ao conversar com uma refém sobrevivente do Holocausto.

 

O filme também mostra as opiniões distintas de Shimon Peres (Eddie Marsan) e do Primeiro Ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi) sobre a operação de resgate (Foto: Divulgação).

 

Evocando “Argo” (Idem – 2012) sempre que possível, principalmente no que tange à fotografia e montagem, que insere com precisão cirúrgica flashbacks e imagens de arquivo, a produção tem como ponto fraco a escalação de Rosamund Pike. Indicada ao Oscar de melhor atriz por “Garota Exemplar” (Gone Girl – 2014), Pike não acerta o tom e acaba construindo sua personagem de forma caricatural, forçando frieza e fragilidade emocional de maneira injustificável. Com isso, a atriz não fica à altura de seu parceiro de cena, Daniel Brühl, indicado à estatueta dourada de ator coadjuvante por “Rush: No Limite da Emoção” (Rush – 2014), que assimila com perspicácia as características do livreiro que se tornou terrorista, esmiuçando suas questões internas e morais num interessante trabalho de composição que em determinados momentos o coloca como ingênuo ao lado dos palestinos.

 

“7 Dias em Entebbe” aposta no conteúdo para apresentar à plateia os dois lados das negociações, inclusive os questionamentos do governo israelense, que tinha como regra não dialogar com terroristas, acerca da Operação Thunderbolt. Neste ponto, centraliza as figuras do então Primeiro Ministro Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi) e Shimon Peres (Eddie Marsan), que defendiam ideias distintas para salvar os reféns, tentando explorar o lado moderado de Rabin para transmitir a mensagem de José Padilha: a da necessidade do diálogo como antídoto para o radicalismo nocivo para todos – “Se não conseguirmos negociar, Shimon, essa guerra nunca vai ter fim”, diz o personagem de Ashkenazi próximo ao final deste longa-metragem quase didático e de fórmula convencional.

 

Assista ao trailer oficial legendado:

Ana Carolina Garcia

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