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O glamour pioneiro das ‘Divinas Divas’

Talvez num futuro não muito distante a história recente do Brasil não seja mais contada pelos livros – muitos deles com a credibilidade abalada – mas pelos documentários. Quando se percebe a quantidade e a qualidade dos documentários que têm sido produzidos ultimamente, percebe-se que temos em mãos um acervo cada vez mais importante e significativo para o estudo e a compreensão do que andamos fazendo nas últimas décadas. “Divinas Divas” pode e deve estar neste acervo.

Dialogando de perto com outros docs de mesma pegada (“Hi-Fi”, “Dzi Croquettes”, “Lampião da Esquina” entre outros), “Divinas Divas” faz um registro histórico-emotivo-pessoal da trajetória do Teatro Rival, na Cinelândia carioca, local pioneiro na produção e exibição de shows de travestis no Brasil, nos anos 60. A história é contada em dois níveis: o primeiro é a narração da atriz e diretora do filme Leandra Leal, neta de Américo Leal, o criador do espaço. Em off, Leandra expõe suas memórias do Rival, na qualidade de quem passou a infância circulando pelas coxias e bastidores do lugar, convivendo com as divinas divas do título. O segundo nível narrativo é fornecido por afetivos depoimentos das próprias travestis, que ensaiam um espetáculo comemorativo de meio século de suas carreiras. Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios abrem seus corações e seus guarda-roupas para falar de histórias, vida, prazeres, decepções e sonhos, num país que usava o desbunde para tentar minimizar o peso de uma ditadura.

A diretora (estreando com talento) é generosa com suas entrevistadas: dirige sem pressa, lhes proporciona grandes closes e uma muito bem-vinda fluidez em seus momentos de palco que parecem resgatar uma nostálgica glória ainda não perdida. Ou o “canto do cisne”, como diz melancolicamente uma das depoentes. A esta melancolia se une a alegria incontida que somente quem esteve ou está sob as luzes da ribalta conhece intensamente. Além de reflexões sobre a arte. Afinal, como diz uma das entrevistadas, “a arte é uma coisa muito divina para ser normal”.

“Divinas Divas” ganhou o Prêmio de Melhor Documentário pelo voto popular e foi eleito Melhor Documentário pelo Prêmio Felix (voltado para produções com temáticas relativas à diversidade de gênero) no Festival do Rio 2016, o Prêmio do Público da Mostra Global do Festival South by Southwest, em Austin, no Texas e Melhor Filme pelo Júri Popular e Melhor Direção no 11º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, em João Pessoa.

Estreou no dia 22.

Celso Sabadin

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