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O cangaço de shopping de ‘Entre Irmãs’

Quando logo na abertura de “Entre Irmãs” surgem os logotipos da Conspiração e da Globo Filmes, me ajeitei na poltrona esperando ver aquele tipo de cinema brasileiro de exportação, feito para estrangeiro (afinal, estas empresas são muito boas nisto). E incluo nesta categoria de “estrangeiro” esse tipo muito especial de brasileiro que conhece mais Miami que seu próprio quintal. Um público acostumado a ver seu país apenas de cima e de longe, preferencialmente da janela do avião.

Por outro lado, quando vi, ainda nos créditos iniciais, que o diretor é Breno Silveira, relaxei um pouco. Considero Silveira bastante competente dentro do estilo a que se propõe. Gostei de “À Beira do Caminho” e “Dois Filhos de Francisco”, embora tenha achado “Gonzaga” muito aquém do que poderia (e deveria) ter sido).

Mas, tudo bem, vamos ao filme propriamente dito. Esteticamente logo se percebe um estilo à procura do grandioso (mais tarde leria a palavra “épico” no material de divulgação), uma ambientação nordestina em fortes tons de terra e laranja, um sotaque que, a princípio, não incomodou meus ouvidos não muito familiarizados coma região. A princípio. Até o momento em que um sonoramente carioca “… maish nóish não estamoush na capital”, exclamado no meio do sertão, quase me derruba daquela mesma poltrona que eu me ajeitei no início deste texto. Aos poucos vai se verificando em “Duas Irmãs” a prevalência da narrativa televisiva sobre a cinematográfica, a busca pelo público condicionado aos cânones da tela comercial, a insistente redundância de informações que mais tarde certamente facilitará a edição do material para o formato de minissérie (quantas vezes é necessário dizer que o apelido de uma das protagonistas é vitrola? Quantas?).

A busca pelo grande público, mais sintonizado com o dia-a-dia pouco sutil das produções televisivas que propriamente com as nuances da tela grande, não seria exatamente um grande problema não fosse pela quase sempre inevitável consequência que esta opção mercadológica acarreta: a falta de verdade da obra. Mais até que a falta de verdade, a falta de alma. Ao optar por um cangaço de shopping, “Duas Irmãs” privilegia a espetacularização da estética em detrimento da dramaturgia, distancia seus personagens do que seria um humanismo minimamente desejável (apesar das boas atuações da dupla protagonista), desperdiçando assim uma bela oportunidade de retratar a situação da mulher nordestina dos anos 1930.

Mas provavelmente deverá render bons índices de audiência quando for picotado para caber melhor em alguma semana especial da televisão.

Celso Sabadin

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