Vai-Vai honra suas tradições em desfile que lhe faz voltar a sorrir

Desfile 2019 da Vai-Vai. Foto: SRzd – Bruno Giannelle

“…Os escravos fugiam das fazendas entre os séculos XVI e XIX, e se abrigavam nos quilombos para se defenderem da escravidão e resgatarem a cosmovisão africana e os laços de família perdidos com a escravização…”.

Esta é uma das definições destes espaços de resistência do povo negro no Brasil; os Quilombos.

Resistência e negritude, dois conceitos tão relacionados ao Vai-Vai, a mais popular escola de samba da cidade de São Paulo. E foi inspirada justamente nos Quilombos que ela trouxe para a Avenida na madrugada deste domingo (3) o enredo: “Vai-Vai: O Quilombo do futuro”.

E após uma temporada de pré-Carnaval tensa, por disputas políticas dentro da entidade, cruzou a faixa amarela ao final da pista com um sorriso no rosto e a sensação de que fez mais um vez um desfile para se orgulhar.

+ galeria de fotos do desfile da Vai-Vai

+ vídeo: largada do desfile 2019 da Vai-Vai

Presidente
Neguitão

Carnavalescos
Hernane Siqueira e Roberto Monteiros

Intérprete
Grazzi Brasil

Coreógrafa de comissão de frente
Chris Brasil

1º casal de MSPB
Pingo e Paula

Mestre de bateria
Tadeu

Rainha de bateria
Camila Silva

O projeto foi desenvolvido pelos carnavalescos Roberto Monteiro e Hernani Siqueira.

Roberto Monteiros é carioca, 39 anos, desenhista e projetista. Atua no carnaval carioca desde 1999 e já foi campeão na equipe de Alexandre Louzada com a Beija-Flor de Nilópolis em 2011 e Mocidade Independente de Padre Miguel em 2017.

No Carnaval Paulista teve passagem pelo Vai-Vai na conquista do 14º título. As experiências dele estão somadas a passagens por escolas como Portela, Acadêmicos do Grande Rio, Unidos do Viradouro e Império Serrano, ao lado de grandes nomes como Joãozinho Trinta e Paulo Barros.

Hernani Siqueira, 43 anos, começou no Carnaval carioca em 1991 ao lado de Viriato Ferreira na Imperatriz Leopoldinense.

Em São Paulo iniciou em 1998 na Acadêmicos do Tucuruvi e acumulou experiências assinando desfiles no Grupo Especial e no Grupo de Acesso em escolas como Acadêmicos do Tatuapé, Império de Casa Verde, Unidos do Peruche, Leandro de Itaquera e Camisa Verde e Branco.  Nas mãos dessa dupla, a missão de carnavalizar o Quilombo o futuro, assim explicado:

“Eis o elo perdido, que todos encontrem os seus, conectem-se com o cordão do umbigo, com os velhos mentores de suas tribos. Dos em cor de bronze e ébano esculpidos, esse sou eu. Estou na estrada, sou o senhor do tempo, rezo por calmaria e sopro pra fazer vento, meus braços vertem-se em asas se necessito pressa, o tempo urge, a hora é essa. Ouvi o chamado de vossos tambores, dos cantores, o clamor por justiça. Que corra a notícia que o Afronauta Griot está em Terra, avisa aos poetas, magos, trovadores que tenho a chave da sala secreta que guarda as raízes de nossa esfera, aos pintores, que trago todos os matizes para que realizem a primavera. Minha missão só se encerra quando o sol subir ao meio dia e, assim, da sombra eliminada a geografia, que nunca mais sobre nós, haja treva. Desacorrentem a história, recuperem a memória, restituam o esplendor, a glória à Mãe das civilizações, que os livros devolvam os tons, as tantas nuances marrons à terra dos Faraós, façam com o colorido em nós a face dos Orixás, porque o Orum é assim, não há em Aruanda nenhum que não seja retinto, nenhum tão diferente de mim, minha África é Mãe da magia, berço da metalurgia, da escrita. Essa idosa senhora trouxe o sol da religiosidade à alma do ser humano, não é por acaso o Sinai erguido em solo africano. Ali e na vizinhança o mundo emerge da infância e torna-se adulto. Eu, por ordem de Mãe, com sua chancela, a mesma com que autorizou Mandela, assino o indulto aos que mantiveram a herança dos meus, no breu, em estado oculto. É chegada a hora. Meu povo canta, ri, reza e chora às vésperas de uma nova aurora e, acampado no negro céu do Cruzeiro do Sul, deuses de África adornam os altares e acendem a lua de Palmares pra iluminar a marcha à santa Liberdade… Mas, povo de minha raça, não se esqueça, Maafa, quando velas invasoras singram o oceano, em fímbrias do solo africano insuflam conflitos, instauram sangrentos ritos e, algo sem precedente surge no livro da humanidade, a escravidão negra. É carregado de angústia e dor que retorno a esse instante, mas sou Griot, um tambor, do Criador, ordenança, trago-vos isso, à lembrança para que nunca mais, a tal semelhança, algo nos acometa. Ó! Povo da pele preta, atento, quando cortejado. Naquele nefasto momento chegaram juntos, impostores do profano e do sagrado envoltos num mesmo véu, um, à sangue, retalhou nossa terra, o outro, nosso céu. Na escuridão dos tumbeiros, reis, rainhas, guerreiros presos às correntes do cativeiro cruzaram o Atlântico, muitos enlouqueceram, outros tantos mancharam as vestes de Iemanjá com o sangue de suas crianças.  Por esses, no Novo Mundo, meu povo foi ao profundo para religar-se à essência. Não sabiam o que traziam, os sem valia, nos porões dos negreiros, erraram, esses forasteiros. Como calar num guerreiro seu canto revolucionário? Não há, em sã consciência, alguém que a outro pertença que resista à violência de seus sonhos libertários. E nas Américas, um novo cenário. Fundem-se nossas culturas, como se fundem os matizes de originais tinturas extraídas de diferentes raízes para assim tornar possível uma pintura nova, fecunda e arrojada. Eis a envergadura da diáspora africana nas terras do Mundo Novo. É uma nave colossal, fulgurante, colorida, voa com a elegância da negra que dança ao som dos tambores, canta com a voz quase santa que borda a garganta de nossos cantores, faz na instigante cadência do jazz, do samba, um novo grito do Ipiranga, traz, do passado, os pilares para que se reerga Palmares, o porto seguro e, do tesouro ancestral, em urgência espacial, a pedra fundamental do Quilombo do futuro. Pousa no céu da Vai, Vai. No contato imediato, além do terceiro grau, eu, o Griot Afronauta, autorizo, à ribalta meus tambores, ousem meus trovadores, poetas, magos, atores no palco do Carnaval”.

Para uma agremiação dona da maior galeria de títulos do Carnaval paulistano e portanto acostumada a disputar as primeiras colocações, o décimo lugar do ano passado, naturalmente, não foi bem digerido.

Mas os dias que se seguiram após a disputa carnavalesca, não acalmaram os ânimos e revelaram manifestações diversas vindas de parte de seus apaixonados torcedores por meio das mídias sociais. As insatisfações, não se limitaram ao ambiente virtual da internet, concretizando-se em atos de vandalismo, como a pichação da fachada da sede no dia 16 fevereiro.

A partir daí, movimentos de oposição fizeram de 2018 um dos anos mais complicados na história da Vai-Vai. Não bastasse a crise política, a escola ainda teve de conviver com o ato criminoso de um componente seu durante os ensaios técnicos, quando agrediu uma mulher em pleno Anhembi.

+ clique aqui e relembre tudo o que aconteceu no turbulento ano da Vai-Vai

Mas como todo o Quilombo, resistiu e superou as dificuldades do caminho até chegar na pista para fazer o que sabe melhor; desfilar.

Quatro concorrentes foram para a disputa de samba na agremiação em 2018 e a escolha foi pela obra de Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, André Ricardo, Dema, Gui Cruz, Rodolfo Minuetto, Rodrigo Minuetto e KZ. Os versos mexem com os brios dos milhares de fãs da escola e foram cantando com força ao longo de toda a apresentação, impulsionada pelo brilhante desempenho da bateria de mestre Tadeu.

Na parte plástica, quesitos sempre questionados pela crítica em relação ao Vai-Vai, bom gosto e boas ideias apareceram, em carros e fantasias simples, em sua maioria, mas que mesmo diante de toda a chuva que tomaram nas horas que antecederam o início da segunda noite do Especial, passaram inteiras pela pista, como pequenos apontamentos, como o problema em um costeiro de uma destaque na quarta alegoria.

Nesse contexto, pisou firme na Avenida, honrou suas tradições e concluiu sua exibição com extrema tranquilidade, impondo uma evolução praticamente perfeita.

+ galerias de foto

+ comissão de frente

+ primeiro casal de MSPB

+ alegorias

+ veja o desempenho da escola nos últimos cinco anos

A partir das 14h30 da próxima terça-feira (5), o portal SRzd transmite ao vivo, em parceria com a Rádio Trianon AM 740, a apuração dos desfiles das escolas de samba do Carnaval de São Paulo 2019.

Pelo oitavo ano consecutivo os destaques dos desfiles das escolas de samba da cidade de São Paulo receberão troféu exclusivo, oferecido pelo portal SRzd.

Voto popular e análise da equipe SRzd, que acompanha os bastidores das escolas de samba durante todo o ano; a somatória destes dois levantamentos vai determinar o resultado do Prêmio SRzd Carnaval SP 2019, ação que valoriza a cultura do samba na capital paulista e seus protagonistas. Em caso de empate, prevalece sempre o voto dos profissionais do SRzd.

A votação popular, que estará disponível através de enquete na página da editoria do Carnaval de São Paulo no SRzd, será aberta após o final do último desfile dos Grupos Especial e de Acesso 1. O resultado será divulgado na terça-feira (5), antes da apuração oficial pela Liga Independente das Escolas de Samba. Clique aqui e conheça todas as categorias.

+ confira a ordem completa de desfiles no Anhembi

Grupo Especial

+ Sexta-feira, 1 de março

1ª – 23h15 – Colorado do Brás
2ª – 0h25 – Império de Casa Verde
3ª – 1h35 – Mancha Verde
4ª – 2h45 – Acadêmicos do Tucuruvi
5ª – 3h55 – Acadêmicos do Tatuapé
6ª – 5h05 – X-9 Paulistana
7ª – 6h15 – Tom Maior

+ Sábado, 2 de março

1ª – 22h30 – Águia de Ouro
2ª – 23h20 – Dragões da Real
3ª – 0h30 – Mocidade Alegre
4ª – 1h40 – Vai-Vai
5ª – 2h50 – Rosas de Ouro
6ª – 4h00 – Unidos de Vila Maria
7ª – 5h10 – Gaviões da Fiel

Grupo de Acesso 1

+ Domingo, 3 de março

1ª – 21h – Mocidade Unida da Mooca
2ª – 22h – Independente Tricolor
3ª – 23h – Barroca Zona Sul
4ª – 0h – Nenê de Vila Matilde
5ª – 1h – Leandro de Itaquera
6ª – 2h – Camisa Verde e Branco
7ª – 3h – Unidos do Peruche
8ª – 4h – Pérola Negra

Grupo de Acesso 2

+ Segunda-feira, 4 de março

1ª – 20h – Primeira da Cidade Líder
2ª – 20h50 – Amizade Zona Leste
3ª – 21h40 – Torcida Jovem
4ª – 22h30 – Estrela do Terceiro Milênio
5ª – 23h20 – Unidos de Santa Bárbara
6ª – 0h10 – Tradição Albertinense
7ª – 1h – Uirapuru da Mooca
8ª – 1h50 – Imperador do Ipiranga
9ª – 2h40 – Camisa 12
10ª – 3h30 – Combinados de Sapopemba
11ª – 4h20 – Dom Bosco
12ª – 5h10 – Morro da Casa Verde

+ veja os preços dos ingressos para todos os dias e setores de desfile em SP

Loja Quatro Estações. Foto: Divulgação

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