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Um olhar diferente sobre os desfiles do Grupo Especial de SP

As sete escolas que passaram pela primeira noite dos desfiles do grupo especial de São Paulo apresentaram criatividade, composição de cores e homenagens. A forte chuva que antecedeu a abertura do carnaval paulistano não foi empecilho e mais de 20 mil pessoas abrilhantaram a passarela do samba. A seguir, síntese do desfiles:

Do nordeste ao melhor amigo do homem

Tom Maior

A escola trouxe a região nordeste do Brasil e homenageou Elba Ramalho. Com toque sanfoneiro, a nova voz que interpretou o samba de enredo – Bruno Ribas – manteve a cadência. Enquanto isso o bailado do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jairo e Simone, brilhava nas cores do pavilhão vermelho e amarelo. A escola, presidida por Luciana Silva mantém elos familiares, além do casal citado acima há também o mestre de bateria – Carlão – casado com a musa Andreia. Esta é irmã da porta-bandeira e tia da rainha, Pâmella, filha do primeiro casal. São essas raízes, igualmente ao querido povo nordestino, que alegram o caloroso Brasil.

Mocidade Alegre

Com seu jubileu de ouro, a Mocidade Alegre comemorou os 50 anos de tradição. A cor dourada esteve presente nas alegorias e fantasias. Mauricio Pina, há 30 anos no carnaval, brilhou igualmente com o aniversário da escola. Em sua estreia, Tiganá mostrou empatia imediata como primeira voz no carro de som. A “Morada do Samba” é uma agremiação aguerrida, organizada e seus desfiles são marcantes pelo sincronismo dos componentes. A presidente, Solange Cruz, veio ao lado da Ritmo Puro, a qualificada bateria comandada pelo marido Mestre Sombra.

Unidos de Vila Maria

Sob o manto azul da Padroeira do Brasil, a Unidos de Vila Maria ascendeu a fé no sambódromo. Na introdução da escola, uma menina, vestida de branco, trazia a imagem da santa e a exaltava ao público. Destaque para a ala das Baianas, vestida de Nossa Senhora Aparecida. Fantasia inigualável. A escola inteira estava muito bem vestida, com requinte e cuidado. Daniel, o cantor sertanejo, desfilou no último carro. A última alegoria retratou a Basílica, local de devoção na região norte de São Paulo. O samba de enredo, na voz de Clóvis Pê, levantou a arquibancada e Sidnei França estreou com maestria.

Acadêmicos do Tatuapé

Muito aplaudida, a vice-campeã Acadêmicos do Tatuapé retratou a África com um desfile tecnicamente impecável. Alegorias, composições, fantasias, canto, sincronismo e evolução marcantes. Na comissão de frente os protetores de Ifá e as alas seguintes com a presença de orixás. A composição de cores transformou a passarela do samba em um estiloso tapete. Os componentes cantaram e evoluíram com entusiasmo. Normalmente os temas africanos são ricos em suas apresentações e a escola da zona leste consolidou essa característica com muito axé.

Gaviões da Fiel

A comunidade da Gaviões da Fiel entrou na avenida com a incumbência de homenagear a metrópole paulistana onde os sonhos, as oportunidades e a esperança se renovam a cada dia. São Paulo é uma cidade audaz e resistente, onde boa parte da economia brasileira nasce, portanto, cantá-la em um desfile de carnaval é oportuno para evidenciar que o homem trabalha, mas também se diverte. Chamada carinhosamente de terra da garoa, nome dado a uma da alas, a alvinegra levou seus componentes para o sambódromo em uma elevada temperatura. O canto, caracterizado na voz de Ernesto Teixeira, foi um dos pontos altos da escola.

Acadêmicos do Tucuruvi

O presidente Jamil é um homem contemporâneo e sua escola Acadêmicos do Tucuruvi trouxe um tema sazonal. Após muitos debates e polêmicas com a nova gestão da cidade de São Paulo, a agremiação levantou o moral dos artistas de rua e mostrou que essa atuação, há muito, deixou de ser ato subversivo. É pura arte. Mestre Guma, sambista tradicional, animou a arquibancada com a sua bateria. Danças de rua, acrobacias e muitos pontos da cultura urbana estavam presentes nas alegorias, coreografias e fantasias. O grafite foi um dos itens especiais, e no contexto do enredo uma homenagem voltada aos artistas do segmento.

Águia de Ouro

A amizade é uma das riquezas conquistadas e mantidas pelo ser humano. E por que não estendê-la ao mundo animal? Há muito ouvimos que o cachorro é o melhor amigo do homem e, de modo peculiar, o presidente da Águia de Ouro, Sidnei Carrioulo, evidenciou sua predileção por este animal. A comissão de frente trouxe mendigos e seus fiéis companheiros. Nas alegorias e fantasias víamos personagens como Dino, Vigilante Rodoviário e Bidu entre os foliões. A escola mostrou um enredo lúdico e exibiu protagonistas de filmes e desenhos históricos sobre o cachorro.

Foto: Foto: Robson Fernandjes / LIGASP / Fotos Públicas

Religião e cidades brasileiras marcam segundo dia dos desfiles

Mancha Verde

Com pedido de licença ao orixá Zé Pilintra, o presidente da Mancha Verde abriu a segunda noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo. Paulo Serdan e sua comunidade homenagearam um dos nomes mais caricatos em território nacional, José. Este rapidamente ganhou uma abreviação, que gruda como goma de mascar. São muitos “Zés” que alcançam a popularidade. Assim também ocorre com a rainha e bateria, Viviane Araújo, um dos nomes mais carismáticos do carnaval brasileiro. Com uma comissão de frente harmônica, seguida do abre-alas que trouxe o mineiro Zé do Patrocínio, em menção à liberdade, a alviverde relembrou, entre tantos outros, Zé Carioca e Zé do Caixão. O desfile foi fechado por uma alegoria voltada à variação dos comércios, afinal, em cada loja sempre há um Zé.

Unidos do Peruche

Em seu terceiro ano, o carnavalesco Murilo Lobo assina um enredo genuinamente brasileiro, voltado à capital Salvador, palco de raças, cultura e fé. O povo baiano é, sem dúvida, um dos perfis mais animados do país. Suas 365 igrejas, os terreiros e toda a religiosidade representam o elo homogêneo das crenças. Na comissão de frente da Unidos do Peruche, o coreógrafo Régis Santos, encenou por meio dos componentes, personagens baianas. A terceira alegoria trouxe mamãe Oxum, alta, bela e imponente. A cidade foi a primeira a receber milhões de escravos, razão pela qual uma das alegorias encenou esse momento histórico e triste. Houve também a capoeira em plena avenida. Destaco a presença de Bernadete, uma das vozes femininas mais tradicionais do carnaval de São Paulo.

Império de Casa Verde

Tido como um dos principais carnavalescos, Jorge Freitas assinou o segundo enredo da escola Império de Casa Verde e prometeu evidenciar a paz. A passarela do samba é uma grande oportunidade para levantar essa bandeira. Do início ao fim, a nação imperiana mostrou um desfile tecnicamente perfeito. Alas coreografadas, acabamento de fantasias e alegorias ímpares, além de criatividade, luxo e sincronismo. Houve um momento em que a cabine, onde está a redação do SRzd, ficou escura, tamanha a grandiosidade do abre-alas. Destaco a última alegoria, com a presença de crianças, trajando a bandeira de cada país. A ideia foi promover a paz, por meio dos pequenos, o futuro da nação. Mestre Zoinho fechou o desfile com sua qualificada bateria. A única a colocar o coração da escola como última ala. A arquibancada aplaudiu de pé.

Dragões da Real

Embora nossa cultura não seja monárquica temos alguns reis e rainhas, nomeados por razões diversas. E no sertão nordestino há uma canção brasileira eternizada na voz do rei do baião, a Asa Branca, nome estampado no enredo da Dragões da Real. O grito de guerra soou pela voz de Fagner, um dos principais nomes da canção nordestina. E por falar em música, o samba enredo foi um dos pontos marcantes, inclusive porque na melodia era possível identificar a inesquecível obra de Gonzagão. Na primeira alegoria, ao invés de um esqueleto bovino, a escultura de um dragão. Pura sapiência. E o pau-de-arara foi reproduzido com riqueza de detalhes. Retratos na parede – outro costume – também foram expostos. Ah, houve também componentes que se transformaram em calangos, tudo para evidenciar situações do sertão. No final do desfile, uma alegoria com um grande cangaceiro e sua sanfona.

Vai-Vai

Um tributo à Mãe Menininha do Gantois. Esse foi o enredo da Vai-Vai que desenhou um terreiro na avenida. Antes da largada, o ator Milton Gonçalves leu parte da sinopse, ao lado de mãe Carmen, filha da homenageada. O abre-alas, com 22 metros de comprimento, empolgou a arquibancada, e esta, ovacionou os componentes. Os orixás mais conhecidos vieram nas alegorias e alas; as águas de oxalá, literalmente, lavaram a avenida. Alas coreografadas mostraram uma saracura diferente do que o público está acostumado a ver. O desfile foi assinado por uma comissão e um dos nomes é de Alexandre Louzada, campeão duas vezes com a alvinegra. Atleta Cafu, ex-ministro Orlando Silva e Dodô, da banda Pixote foram personalidades presentes no desfile.

Nenê de Vila Matilde

Amanhecia quando a Nenê de Vila Matilde ultrapassou a faixa amarela, com destino aos 530 metros. O canto de Agnaldo Amaral embalou os componentes e a arquibancada para interpretar a história de Curitiba, cidade caracterizada pela sustentabilidade e índices menores de analfabetismo. Atualmente é uma das regiões mais citadas nos noticiários, em função de aspectos políticos que promete lavar a corrupção. Alas compactas, coreografadas, fantasias e plumas, tudo apresentado com a energia peculiar da Nenê. Escola tradicional que mantém sua comunidade marcante.

Rosas de Ouro

Para fechar a noite, a tradicional escola da Brasilândia convidou a todos para um banquete, desde uma refeição simples até a mais sofisticada. Falar de banquete em São Paulo é, sem dúvida, fomentar um dos pontos que mais movimenta a metrópole, a gastronomia. Em sua estreia, André Machado teve o cuidado de incluir personagens que anseiam por uma refeição, os moradores de rua. Retratou também momentos sazonais em que a comida é servida em abundância como a páscoa e o natal. Na quarta alegoria, um bolo de casamento onde estava a presidente Angelina Basílio e seu noivo Sergio. Uma das pessoas mais influentes e queridas na roseira é a administradora Ana Paltrinieri, que veio vestida de madre Teresa. Era pura luz! A escola finalizou o desfile com uma mensagem de solidariedade à classe menos favorecida.

E o Carnaval de 2017, mais uma vez, é registrado pela economia criativa.

Boa sorte a todas as agremiações. Axé!

Aurora Seles

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