A travessia da dama do samba no Jubileu de sua ‘Morada’

O carnavalesco Marco Aurélio Ruffinn traz mais um texto para os leitores do SRzd.

A coluna é publicada semanalmente, às quintas-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A travessia da dama do samba no Jubileu de sua ‘Morada’

A força do samba também está no Limão.

A escola de samba Mocidade Alegre chegou aos seus 50 anos de idade! O Jubileu de Ouro, completado no último dia 24.

Me impressiona a história dessa suntuosa agremiação.

Surgiu numa grande brincadeira de Carnaval, liderada por Juarez Cruz, seus irmãos Salvador e Carlos Cruz, e mais dois amigos.

Imagino que eles jamais pensaram no resultado dessa saborosa folia, que invadia as ruas da região central de São Paulo, na década de cinquenta.

Estava plantada uma das sementes do samba na Zona Norte.

A semente brotou e logo ganhou fama, tornando-se referência na cidade.

Muitos artistas passaram por lá.

Lembro-me de assistir ao show de Clara Nunes, por exemplo, artista que anos depois seria enredo da escola.

A própria Alcione, homenageada de 2018, deu canja, em seu início de carreira, naquele terreiro. Também tive o privilégio de presenciar.

A Mocidade era um polo artístico e de preservação das raízes do nosso povo. E ainda é.

O vigor está expresso em sua trajetória de glória!

Cresceu, e como. Dez vezes campeã do Grupo Especial.

Hoje a cinquentona é referência para as coirmãs que almejam um lugar ao sol.

Lembro que na edição de 2016 das “24 horas de Samba”, o presidente Renato Rodrigues, o Tomate, falou emocionado ao dizer do espelho que a Mocidade é para sua agremiação, a Dragões da Real. Ele afirmou e eu realmente acho.

Mas nem só de alegria vive o samba.

A tradicional festa do último final de semana, marcou o adeus à “Matriarca do Samba”.

Eterna primeira-dama, mãe ancestral da escola. Sua presença deixará saudades.

Rosa Moreira Cruz Bichara, ou simplesmente, Dona Rosa. O nome já era a sua síntese; a nobreza em flor.

Esposa de Seo Carlos, desempenhava seu papel com maestria. Portuguesa de nascimento, brasileira de coração. Era incansável. Atuava na quadra, no barracão,
simpática e amável, excelente anfitriã.

Relembro com saudades dos anos que eu, atuando na Leandro de Itaquera, era vizinho de barracão e ia filar uma “bóia” no barracão da Mocidade, onde ela mesma, muitas vezes, fazia questão de preparar o almoço, e compartilhava comigo histórias e passagens dos Carnavais de outrora.

Dessa simplicidade nasceu uma grande admiração.

Fez sua travessia.

Que passagem linda, surpreendida por uma festa em comemoração aos seus 78 anos de idade, emociona-se, e passa mal. Não resiste.

Foi compor a “Morada Celestial” daqueles que empunharam a bandeira do samba e fizeram da Mocidade Alegre um dos grandes expoentes de expressão da cultura brasileira.

Certamente, o céu está em festa!

À ti Dona Rosa, saudações sambísticas!

Nos encontraremos no Orun!