TBT: Você sabe o que é Entrudo?

Entrudo. Foto: Reprodução.

“TBT”é uma gíria popular que significa “throwback Thursday”. Traduzida do inglês, significa “quinta-feira do retorno” ou “quinta-feira do regresso”.

Simbolizado por #tbt, o termo é utilizado pelos usuários de redes sociais como hashtag para marcar fotos e vídeos que se refiram ao passado.

A partir desta semana, o SRzd abre seu acervo para relembrar reportagens especiais realizadas com sambistas. É um momento para matar a saudade de momentos marcantes de acontecimentos e da trajetória de muitos protagonistas da folia paulistana.

Iniciando a série “Tbt SRzd” da temporada 2020, voltamos ao ano de 2012 para recordar um dos artigos que teve grande repercussão assinado pela então colunista do SRzd, Maria Apparecida Urbano.

Dona Cida é historiadora, escritora, decoradora e considerada uma das mais respeitadas autoridades do Carnaval de São Paulo. Há mais de 40 anos começou a se interessar pelo samba e desenvolveu vários projetos, sendo a primeira carnavalesca da folia paulistana.

Maria Apparecida Urbano prestigia posse das Imperatrizes do Samba. Foto: Divulgação

Você sabe o que é Entrudo?

Embora nos dias de hoje o Entrudo não seja tão conhecido ou lembrado, principalmente pela maioria dos jovens, vamos falar um pouco do que foi essa brincadeira que chegou ao Brasil por volta de 1560, com a vinda dos colonizadores portugueses e que aqui permaneceu por muito tempo.

Fala-se muito sobre o Carnaval e as escolas de samba nos últimos tempos e é até normal esquecermos o que ficou para trás. De 1560 até começo do século XIX, parece que ficou uma lacuna. A bem da verdade, porém, essa brincadeira do entrudo permaneceu bem viva e atuante em nosso país por alguns séculos, ou seja, da época que aqui chegou até o início do século XIX, existindo ainda hoje alguns rescaldos do que ele foi.

O Entrudo era uma brincadeira carnavalesca que consistia em se jogar água muitas vezes não tão limpas, farinhas, ovos, ou até pó de mico nas pessoas. Brincava-se em família, dentro das casas, desde as mansões as casas mais humildes, entre vizinhos, em passeios públicos, pegando muitas vezes pessoas desavisadas ou distraídas.

Com o passar dos tempos surge o limão de cheiro, uma pequena esfera feita de cera e oca por dentro, onde era colocada água perfumada. Essa pequena esfera era atirada uns nos outros. Surgiram também as seringas, às vezes muito grandes que levavam muita água a ser usada na molhadeira do Entrudo.

Entrudo. Foto: Reprodução.

Por muitas vezes o Entrudo foi proibido até com intervenção policial, mas continuava provocando as autoridades por décadas e décadas. Como se sabe ainda hoje muitas crianças brincam com seringas plásticas, espirrando água em quem passa. É uma prova de que o Entrudo não morreu totalmente.

No início do século XIX, deu-se a vinda da Família Real Portuguesa para o Rio de Janeiro, fato inédito na história mundial, de um monarca europeu estabelecer o centro do poder num país da América.

A cidade do Rio de Janeiro se transformou então com a chegada dos europeus, que trouxeram novidades principalmente da França, especialmente para o Carnaval onde surgiram fantasias, máscaras e os grandes bailes.

O Entrudo, que até então dominava o Carnaval, foi se afastando da sociedade de elite e do centro da cidade, porém permanecia no meio do povo.

Em 1851 são fundadas as primeiras sociedades carnavalescas de elite da cidade, denominadas “Grandes Sociedades”. Para organizar os desfiles pelas ruas mais movimentadas do Rio de Janeiro, foi criado o Congresso das Sumidades Carnavalescas.

As primeiras sociedades que se destacaram foram: Tenentes do Diabo, Democráticos, Fenianos. É interessante notar que cada sociedade trazia em seus desfiles cerca de 20 ou mais carros alegóricos, confeccionados com esmero.

Carro alegórico dos Democráticos. Foto: Reprodução.

Posteriormente começaram a aparecer sociedades menores, formadas por grupos, clubes, blocos, ranchos e cordões, contando com a participação de pessoas das camadas mais populares da cidade. Elas passaram a ser chamadas em conjunto “Pequenas Sociedades Carnavalescas”, a exemplo das Grandes Sociedades, e ficaram responsáveis pelos próprios desfiles.

Mesmo durante esses grandiosos desfiles, nos intervalos entre a passagem de uma sociedade a outra, o público presente não deixava de jogar o Entrudo.

Com o passar dos anos as Grandes Sociedades foram deixando de participar da folia de rua, passando a comemorar o Carnaval em seus salões.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro o Carnaval de rua a cada ano foi crescendo mais. Desfilavam os blocos, os ranchos, os cordões, até chegarmos às primeiras décadas do século XX quando, começou a ocorrer a fundação das escolas de samba.

Aos poucos foram sendo determinados lugares mais apropriados para a realização dos desfiles, tendo chegando o século XXI com magníficos desfiles, com espaço próprio para as suas apresentações.

Desfile 2020 da Vila Maria. Foto: SPTuris – Jose Cordeiro

Portanto, enquanto o Entrudo atravessou séculos, as escolas de samba ainda não completaram um século. O tempo passou sem se perceber o que o Entrudo representou para a história do Carnaval em nosso país.

Foram bem mais de trezentos anos de brincadeiras por todo o território brasileiro, onde ricos, nobres, pobres e escravos se divertiam.

Essa época infelizmente ficou esquecida principalmente pelos que se dizem divulgadores do Carnaval. Também foram esquecidos os gigantescos desfiles das “Grandes Sociedades” das quais as escolas de samba, que talvez nem sabem, herdaram as apresentações dos carros alegóricos e dos destaques, além dos próprios princípios de organização que eram exemplares na época.










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