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Raul Diniz em entrevista especial; ‘Peruche e Gaviões mudaram os rumos do Carnaval’

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Raul Diniz em entrevista especial

Um homem que fez sua inspiração se transformar em arte.

Fez da Avenida um quadro vivo, capaz de impressionar pela riqueza de detalhes, onde o traço permeia a folha e a tinta transforma o desenho em um novo universo.

Descrito como mestre e genial, foi considerado discípulo de uma linhagem de artistas que cravaram seu nome na história, como Fernando Pinto, Oswaldo Jardim, Joãozinho Trinta, Augusto de Oliveira, Edson Machado e tantos outros.

Neste cinquentenário dos desfiles oficiais do Carnaval paulistano, nada melhor do que dar a palavra para este exímio profissional das artes: Raul Diniz, em entrevista especial!

Sua trajetória começou nos idos dos anos oitenta, onde não existia a estrutura atual. Ainda sim, fez marcantes trabalhos no Carnaval paulistano. Ao recordar destes tempos e da Avenida  Tiradentes, qual a primeira lembrança em sua memória?

Raul Diniz: Lembro-me dos primeiros Carnavais que participei, com a Mocidade Alegre, sob o comando do saudoso Juarez da Cruz; “A ilusão do fantástico eldorado”, “Missão artística francesa” e o “Império das artes”, também de J. Muniz Junior, em 1984. Foi minha primeira experiência numa escola de ponta, meu grande aprendizado como carnavalesco. Foi lá que descobri os pormenores do Carnaval e a essência do samba de raiz. Era o tempo em que nós procurávamos coisas que sobravam das feiras no Pavilhão do Anhembi para criar e decorar as alegorias. Era realmente fascinante a maneira que o projeto era executado, o que realmente importava era usar a cabeça para criar coisas belas, sem ter muito no bolso. Na época não havia as facilidades e nem os recursos de hoje, o presidente tomava a frente dos trabalhos de barracão. As escolas não tinham patrocínio e nem tanto dinheiro. O Carnaval era mais romântico e criatividade era obrigação.

Olhando com carinho para este inicio, você teve algum espelho profissional para dar seus primeiros passos?

Raul Diniz: Não tinham tantos carnavalescos e também não eram reconhecidos pela mídia, eram poucos, naquela época, o grande nome do Carnaval era o Edson Machado, o primeiro que conheci. Procurei me espelhar na maneira que ele desenvolvia suas idéias, e aplicava as minhas, procurando novos materiais para enriquecer o visual das fantasias, o ponto forte daquele tempo.

Raul Diniz: As alegorias eram um acessório, as vezes muito simples, que serviam para enriquecer e dar mais corpo ao conjunto. Não existiam ainda os chamados profissionais do Carnaval, era tudo muito amador. Em alguns casos chagava a ser engraçado ver alegorias que só serviam para fazer volume sem ter qualquer ligação com o tema. As alegorias eram pequenas, construídas em cima de uma prancha de madeira com rodas de ferro muito frágeis que normalmente não chegavam ao final do desfile, havia muitos problemas, principalmente com os eixos. A função das alegorias, geralmente, era carregar o grande destaque. Aos poucos foram crescendo. Depois virou quesito e se transformou na coqueluche. São elas que consomem boa parte da verba.

Você estava presente nesta transição de palco principal, a Avenida Tiradentes, para o sambódromo do Anhembi. No seu ponto de vista qual foi a principal mudança na concepção dos desfiles?

Raul Diniz: Mudou muito. Algumas escolas de samba, na Tiradentes, utilizavam alegorias de mão, tripés com estandartes, quadripés com uma escultura em papel machê ou um destaque e carros alegóricos com pequenas dimensões. Na decoração usava-se muito espelho, papel laminado e purpurina para enriquecer o visual. As escolas desfilavam com até oito carros alegóricos, tripés e quadripés. O bacana nos desfiles da Tiradentes era a aproximação do público com os desfilantes. Após a criação da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, criaram novos regulamentos e o Carnaval começou a se profissionalizar.

Raul Diniz: Quando as escolas ganharam o novo espaço, o Anhembi, houve a transformação. As grandes arquibancadas impulsionaram o crescimento do espetáculo, surgiram novos carnavalescos, novos estilos de fantasias baseadas em estruturas de arame que deram mais leveza aos chapéus e costeiros. As alegorias foram crescendo em tamanho e qualidade. Estruturas enormes, grandes esculturas, efeitos especiais, estruturas mais elaboradas, acabamentos impecáveis, virou um enorme palco cenográfico. E o grande responsável por essa mudança foi o Walter Guariglio. Sua ousadia e provocação fizeram com que outros presidentes acompanhassem a evolução tornando o Carnaval de São Paulo o espetáculo que é atualmente.

Em sua visão, atualmente ainda cabem alguns elementos que ficaram lá na Avenida Tiradentes, como o zigue-zague das alas, os tripés, os balizas e as saudosas comissões de frentes?

Raul Diniz: As alas atualmente ficam confinadas em um espaço em que poucas coisas são permitidas, o zigue-zague e os balizas são impensáveis nos desfiles atuais com tantos regulamentos. Os zigue-zagues, antigamente, existiam porque não havia tantos componentes em alas como agora, os temas eram contados com mais alas e menos componentes, ao contrário de hoje, quando evoluem coletivamente valorizando determinados trechos do samba. Quanto aos tripés, acho que é um elemento útil para reforçar uma ideia do tema ou complemento de alguma alegoria, recurso que poucos carnavalescos utilizam. O Carnaval está sempre em evolução. As comissões de frente atuais são um elemento muito forte de abertura e passaram a ter um significado especial dentro do desfile, a meu ver é o impacto inicial que ilustra pontos importantes do enredo. Hoje tem a função de impressionar o público e os jurados com uma apresentação criativa e coreografias especiais. Lembrando que a apresentação da comissão de frente determina o andamento da escola dentro do tempo determinado pela harmonia.

Nestes cinquenta desfiles oficiais do Carnaval de São Paulo, cite cinco desfiles para recordar. Diga também quais personagens foram decisivos para cada um destes momentos:

Raul Diniz: Unidos do Peruche, presidente Walter Guariglio, carnavalesco Raul Diniz, enredo de Tereza Santos, samba de Ideval, mestre de bateria Lagrila e intérprete Eliana de Lima; Unidos do Peruche 1990, presidente Walter Guaríglio, carnavalesco Joãozinho Trinta, samba de Ideval e mestre de bateria Divino; Gaviões da Fiel 1994, presidente Dentinho, carnavalesco Raul Diniz, samba do Grego, intérprete Ernesto Teixeira e mestre de bateria Roberto Daga; Gaviões da Fiel 1995, presidente Dentinho, carnavalesco Raul Diniz, intérprete Ernesto Teixeira e mestre de bateria Roberto Daga, e Rosas de Ouro 2002, presidente Eduardo Basílio, mestre de bateria Zuca, compositores Marcelo Dias, Gudi, Júnior, Silas Augusto, Ricardinho e Baqueta, e os intérpretes Polengue do Cavaco e Nilson Valentim.

Raul Diniz: Poderia citar várias escolas, mas a meu ver, Unidos do Peruche e Gaviões da Fiel foram decisivas e auxiliaram, e muito, para mudar os rumos do Carnaval. A primeira implantou uma nova leitura nos desfiles trazendo ricas fantasias e grandes alegorias, a segunda, trouxe o público do estádios para dentro do sambódromo. Todas as escolas de samba ajudaram de alguma forma, e hoje elas apresentam este grande espetáculo, que é o carnaval da Cidade de São Paulo.

Deixe sua mensagem aos nossos leitores e admiradores de seu trabalho. Agradecemos por suas palavras neste momento tão emblemático da história do Carnaval de SP:

Raul Diniz: Em primeiro lugar quero agradecer a lembrança, porque não é fácil, depois de tanto tempo longe do Carnaval da cidade de São Paulo ainda continuar presente. Continuo acompanhando as escolas de samba do Brasil e faço uma comparação com os Carnavais europeus e vejo as diferenças inerentes a cada povo e a cada cultura. Parabéns a todos que de alguma forma procuram manter viva a cultura do samba e do Carnaval. Não deixe a cultura sambista e carnavalesca perder o romantismo. Para isso é importante que a escola tenha um enredo bem desenvolvido, um samba com conteúdo e qualidade musical e um conjunto harmonioso que faça o desfile ser lembrado nos anos seguintes com saudade.

Redação SRzd

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