Lutando contra a falta de recursos, Peruche faz desfile para tentar se manter no Acesso 1

Desfile 2019 da Unidos do Peruche. Foto: SRzd – Bruno Giannelle

Protagonista por muitos anos no universo da folia paulistana, uma das mais tradicionais escolas de samba do País, a Unidos do Peruche, que completou em janeiro 63 anos de história, foi a penúltima a desfilar pelo Grupo de Acesso 1  2019, na madrugada desta segunda-feira (4), no sambódromo do Anhembi.

Clamando por dias melhores, cantou o tema: “Nascem do ventre africano os valores do mundo. África, um passado presente no futuro da humanidade”.

+ galeria de fotos do desfile da Peruche

+ vídeo: largada do desfile 2019 da Peruche

Presidente
Ney de Moraes

Carnavalesco
Amauri Santos

Intérprete
Toninho Penteado

Coreógrafos de comissão de frente
Jonathan e Paula

1º casal de MSPB
Jefferson e Thais

Mestre de bateria
Call

O desenvolvimento do enredo da Unidos do Peruche foi de Amauri Santos, de 49 anos e com passagens por agremiações do Rio de Janeiro, entre elas, Leão de Nova Iguaçu e Estácio de Sá. Em São Paulo, desenvolveu projetos das alegorias de Amarildo de Mello na Águia de Ouro e X-9 Paulistana.

E falar de África, sua cultura e tradições, não é exatamente uma novidade. Aliás, as páginas da agremiação registram uma série de desfiles com essa temática, entre eles, um que lhe rendeu o vice-campeonato do concurso; “Os sete tronos dos divinos Orixás, em 1989. Ainda estão nesse cardápio “Filhos da mãe preta” (1988), “O reino de Oyó visto pelos olhos de Xangô” (1994) e “Mamma África” (1998).  Neste ano, assim dividiu sua proposta:

1º Setor
África… Berço da humanidade!
Tu és a vida, és a cor, és o início de tudo!
Em meio à natureza surge um ser, o nosso ser… O ponto de partida
Num lugar místico e belo onde floresce a vida!
Uma terra fértil onde brota a força, o saber e a resistência de um povo
Brinca de viver o homem… Descobre a vida… Desvenda o mundo
Sou negro… Minha pele é negra… Meu orgulho também é negro!
Ouve-se um canto, “Orum Aiyê”. É o céu que abraça a terra
Revelando segredos sobre nossa espécie
Removendo de suas entranhas detalhes que os olhos possam ver
E preservando oculto o que só a espiritualidade nos revela
Tambores ecoam na batida precisa das mãos negras
Tribos em rituais dançam e contemplam a fertilidade que enobrece o viver
Ancestralidade corre em veias que irrigam o mundo
Gira Geledé! Espalha sua força… Divina, feminina…
Fertiliza a terra, embala a procriação humana
Exalta a continuidade da vida!
Vem… Desperta Lucy!
Mostra ao mundo quem somos e de onde viemos

2º Setor
Terra de tantos impérios.
De um povo a frente de seu tempo, que observou o ciclo da vida
Plantou sementes e dela se fez o pão
Símbolos e grafias escreveram mais um legado ao mundo
Desbravando fronteiras alcançou os astros
Na busca do autoconhecimento remediou e preservou o corpo
Explorou o solo, extraiu dele a matéria prima
E em cada passo um novo traço, agregando à vida um toque de arte!
Externando conceitos e valorizando a etnia, a moral e também a religião
A “massa” que esculpiu e modelou, valorizou a própria espécie
Talhou a madeira recriando a criação
Edificando matematicamente o mundo!
De novo bate forte o tambor, faz tremer esse chão, ritualiza…
Dança… E traz na dança a sensibilidade e a força que só negro tem
Prepara sua mala oh negro!
Pois uma longa viagem está por vir…
O mundo te espera!

3º Setor
Página infeliz da nossa história!
Mares de lamento e dor
Brota a lágrima clara… Escorre sobre a pele escura… Aguenta!
Pisa firme em outras terras, em um mundo outrora tão distante dos olhos
Traz nas mãos as marcas da lida, no peito a saudade e na cabeça sua bagagem
É hora de plantar em outro chão, dar ao branco outro tom
Ginga na roda negro! Arisco, esperto… Finge que é dança!
Bota a lenha pra queimar, prepara o cuscuz, acarajé e o abará… Alimenta este mundo!
Canta mãe preta! Nina… Ensina essa brincadeira de ser negro… Valoriza!
“Bota o Rei Congo no Congado” e traduz o seu saber.
Picassos rendem-se a sua arte “meu nego”… É primitivo? É futurista? É a arte… É a arte!
Lança ao mundo seus dons e seus tons
Toca charangueiros, mostra o afoxé, traz também agogô, xequerê e atabaque
Vem Ciata, socorre meu samba… Não deixa esse samba morrer…
Bate no terreiro… Será que é macumba?
Chama o orixá! Vem “Menininha”…
Encanta Verger… É o canto, é a dança…
É o meu Candomblé!

4º Setor
Nosso presente projeta o futuro, e o futuro é nosso!
A África mais uma vez salta à frente do mundo
Sábios trazem o novo, mostrando a capacidade deste povo
Criam, remodelam e traduzem ao mundo sua sapiência
Mestres nos mostram a resistência. Clamam pela liberdade e pela igualdade
E só seguindo estes ensinamentos semearemos o bem e louvaremos a paz…
Teremos uma humanidade livre!
E liberdade é a arte de transitar pela vida…
A paz na terra há de reinar… Não é utopia, já dizia Sun Rá!
Vamos acorrentar todo o preconceito construído ao longo do tempo
Recriaremos o passado e ele estará presente em nosso futuro
Veremos brilhar o sol que ilumina as mentes
Que respeita o verde, e que extingue os males
Onde a tolerância seja plena e credos sejam respeitados.
Uma nova era se aproxima, resgatando outra consciência
Pois está nascendo uma nova África com alicerces ancestrais
E diante de seus mais primitivos conhecimentos
Partilhará ao mundo seus mais belos conceitos
Raça não está na cor… Raça não está na dor…
Minha raça é humana!

Não por acaso, a Unidos do Peruche carrega o título de “Filial do Samba”.

Uma das pioneiras do samba na cidade de São Paulo, é celeiro de imortais nomes do Carnaval. Um deles, talvez um dos maiores deste país; Carlos Alberto Caetano. Seo Carlão, lenda viva da cultura popular, segue sendo um farol, não só para a agremiação, mas também para o próprio segmento.

Tradição e inesquecíveis Carnavais. Duas definições daquela que carrega as cores do Brasil em seu pavilhão. Novamente, a “peruchada” veio para a pista defender sua gloriosa trajetória e cantar o continente africano, mesmo diante do momento adverso.

Após a queda para o Acesso em 2018, mudanças no time de profissionais da escola.

Além do carnavalesco, mexida no primeiro casal. Thais Paraguassú e Jefferson Antônio defenderam na Avenida o pavilhão principal. Neste quesito, a escola recebeu três notas dez e um 9.8 no Carnaval de 2018. Thais completou seu quinto desfile na função. Jefferson, que assume o posto após elogiado desempenho como segundo mestre-sala na última temporada, entra na vaga deixada por Jefferson Gomes.

Além de todas essas mexidas, duas bem próximas ao desfile, uma de chegada; da dupla de coreógrafos, outra de saída, bastante sentida; a da Rainha de Bateria Stephanye Cristinne.

A “Filial” escolheu para ser seu hino neste ano a obra assinada por Tio Dô, Paulinho Sorriso, Juliano, Marcio Zanato, Thiago de Xangô, Arnaldo Luz e Douglas Chocolate, autores inspirados pela magia do continente africano e sua cultura.

Na Avenida ficou evidente a falta de recursos, refletida nas alegorias e fantasias, com problemas de execução e acabamento. Destaques positivos para as exibições do primeiro casal e comissão de frente, além da boa performance de Toninho Penteando na condução do carro de som.

A evolução foi outro motivo de preocupação na passagem perucheana, oscilante e que teve de ser apressada na reta final para o cumprimento do tempo regulamentar, concluído em cima do limite, aos 60 minutos.

+ galerias de foto

+ comissão de frente

+ primeiro casal de MSPB

+ alegorias

A partir das 14h30 da próxima terça-feira (5), o portal SRzd transmite ao vivo, em parceria com a Rádio Trianon AM 740, a apuração dos desfiles das escolas de samba do Carnaval de São Paulo 2019.

Pelo oitavo ano consecutivo os destaques dos desfiles das escolas de samba da cidade de São Paulo receberão troféu exclusivo, oferecido pelo portal SRzd.

Voto popular e análise da equipe SRzd, que acompanha os bastidores das escolas de samba durante todo o ano; a somatória destes dois levantamentos vai determinar o resultado do Prêmio SRzd Carnaval SP 2019, ação que valoriza a cultura do samba na capital paulista e seus protagonistas. Em caso de empate, prevalece sempre o voto dos profissionais do SRzd.

A votação popular, que estará disponível através de enquete na página da editoria do Carnaval de São Paulo no SRzd, será aberta após o final do último desfile dos Grupos Especial e de Acesso 1. O resultado será divulgado na terça-feira (5), antes da apuração oficial pela Liga Independente das Escolas de Samba. Clique aqui e conheça todas as categorias.

+ confira a ordem completa de desfiles no Anhembi

Grupo de Acesso 1

+ Domingo, 3 de março

1ª – 21h – Mocidade Unida da Mooca
2ª – 22h – Independente Tricolor
3ª – 23h – Barroca Zona Sul
4ª – 0h – Nenê de Vila Matilde
5ª – 1h – Leandro de Itaquera
6ª – 2h – Camisa Verde e Branco
7ª – 3h – Unidos do Peruche
8ª – 4h – Pérola Negra

Grupo de Acesso 2

+ Segunda-feira, 4 de março

1ª – 20h – Primeira da Cidade Líder
2ª – 20h50 – Amizade Zona Leste
3ª – 21h40 – Torcida Jovem
4ª – 22h30 – Estrela do Terceiro Milênio
5ª – 23h20 – Unidos de Santa Bárbara
6ª – 0h10 – Tradição Albertinense
7ª – 1h – Uirapuru da Mooca
8ª – 1h50 – Imperador do Ipiranga
9ª – 2h40 – Camisa 12
10ª – 3h30 – Combinados de Sapopemba
11ª – 4h20 – Dom Bosco
12ª – 5h10 – Morro da Casa Verde

+ veja os preços dos ingressos para todos os dias e setores de desfile em SP

Loja Quatro Estações. Foto: Divulgação

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