Onde foram os passistas?
Ativista negro, embaixador e cidadão samba paulistano de 2004, Waldir Britto, o Dicá, é compositor, batuqueiro, passista e fundador da Velha Guarda da Rosas de Ouro, junto com a embaixatriz do samba Maria Helena. É pesquisador cultural e estudioso da cultura popular brasileira e afrodescendente.
Dando sequência a série “Tbt SRzd” – gíria popular que significa “throwback Thursday”, traduzida do inglês, significa “quinta-feira do retorno” ou “quinta-feira do regresso” –, voltamos ao ano de 2013 para recordar um dos artigos assinado pela então colunista do SRzd.
Onde foram os passistas?
A pergunta fica sempre no ar, porque aquelas pessoas que gostavam de “dançar o samba” nos terreiros já não dançam mais como antes, seja nos terreiros das escolas de samba ou nos desfiles. O que será que nos levou a isso?
És vezes pensando cá com meus botões, fico a imaginar, o que aconteceu?
Será que foi o “embranquecimento” das escolas de samba?
Será que foi o novo padrão de desfile que se formou ao longo do tempo, esquecendo a arte e priorizando o espetáculo visual?
Ou será que foi o tempo dos desfiles que diminuiu e agora todos que desfilam são obrigados a correr?
Cá pra nós, ver baianas correndo num desfile é feio demais, carregar cerca de quarenta quilos em desabalada carreira é o fim!
Mas ta aí, tá tudo ai, só não vê quem não quer…
Mas voltando para os detentores da nobre arte de sambar, a grande verdade é que os homens já não sambam mais!
Talvez devido à contribuição negativa que as escolas de desfile impuseram à classe, talvez seja o novo “modus operandis” das escolas modernas, o certo é que o “passista” que existia nas agremiações está com seus dias contados… a cada dia mais minguante!
Antigamente era uma beleza ver os passistas das escolas em ensaio de rua, nas quadras e nos desfiles “dando no pé”. Fechavam o “trinômio do samba”.
A dança, o canto e o ritmo, a base que mantinham as escolas de samba estava latente, viva e alegre, pois fora disso, o restante sempre foi fantasia, alegoria… enfim, ilustração para que haja compreensão do enredo. Porém essas são as três partes básicas que representam o samba, aliás o bom samba brasileiro.
É como cantava o poeta Zeca da Casa Verde nos tempos bons de Brasilândia…
“E que bom que vai ser só quero ver/ Todo mundo sambando pra valer” Serenim, serenim oba, serenim, serenim oba”
Ou…
“Quem não dá no pé dá nas cadeiras, quem não dá nas cadeiras da no pé”…
E aquela gente humilde da Brasilândia ia sambando até o amanhecer, me perdoem, mas não dá pra esquecer… Quem conhece a felicidade, não consegue conviver com a normalidade, quer ser feliz a vida inteira…
Em São Paulo, é uma grande verdade que os lendários passistas e cabrochas, foram sucumbindo através do tempo…
Tornaram-se “componentes”, ilustrações do enredo, muitos até parecem “passageiros da agonia”, pois deve ser de lascar passar num desfile com os braços pra cima, batendo palma e cantando (quando canta) no calor de uma bateria, claro que não dá pra todo mundo sambar, mas pô “se mexe aí!”
É de doer…
As causas são muitas, mas penso que as principais é o tempo de desfile que diminuiu, e a falta de importância dada ao samba no pé, pois tudo que não é julgado como quesito, vai se tornando obsoleto, ou seja, não precisa nos desfiles…
E a gente observa os passistas e cabrochas sumindo do cenário. Tem muita gente rebolando, mas samba que é bom…
A pergunta que deixo como reflexão é.
Onde estão os passistas?
As cabrochas, as rainhas de bateria? Os pandeiristas? A ala de compositores nas escolas de samba?
Se alguém souber por favor, estou procurando faz tempo…
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