‘Não me arrependo e faria de novo’, diz coreógrafo da Gaviões da Fiel sobre cena forte em comissão de frente

Desfile 2019 da Gaviões. Foto: SRzd – Cláudio L. Costa

Em entrevista ao “Programa No Mundo do Samba” exibida na Rádio Trianon, o coreógrafo Edgar Junior da Gaviões da Fiel, fez uma análise do trabalho apresentado na Avenida e celebrou a indicação ao Prêmio SRzd Carnaval SP 2019 na categoria de melhor comissão de frente do Carnaval de São Paulo em 2019.

Durante a entrevista, Edgar Junior falou sobre a repercussão da exibição e disse que, mesmo após as notas dos jurados, não se arrepende da encenação em que um componente vestido de Diabo interagiu com outro, caracterizado como Jesus Cristo, num duelo entre o bem e mal.

Neste quesito, a Gaviões recebeu dos quatro jurados, apenas uma nota máxima e outras três 9,9.  Os pontos perdidos foram relacionados a falhas de acabamento nos figurinos.

Ouça o depoimento:

Juiz exingui processo contra a comissão de frente da Gaviões da Fiel

O juiz Felipe Albertini Nani Viaro, da 26.ª Vara Cível de São Paulo, extinguiu a ação que pedia retratação da  Gaviões da Fiel pela exibição feita no sambódromo do Anhembi em que teria encenado o triunfo do Satã sobre Jesus.

O advogado Carlos Alexandre Klomfahs alegou na ação que a escola “desrespeitou o símbolo e a religião cristã” ao apresentar em sua comissão de frente uma disputa entre duas figuras religiosas, Jesus e o diabo, na qual, aparentemente a figura cristã é vencida pela representação maléfica.

Klomfahs diz ter pedido à agremiação, oriunda da maior torcida organizada do Corinthians, que “se retratasse em 24 horas sobre o tema do enredo”, mas não obteve resposta. Na decisão, o magistrado acolheu integralmente o parecer do Ministério Público de São Paulo.

Desfile 2019 da Gaviões da Fiel. Foto: SRzd – Ana Moura

O promotor José Carlos Mascari Bonilha afirmou que “houve apenas um desfile carnavalesco em que a figura do demônio, símbolo do mal, açoita e humilha Jesus, símbolo da fé cristã”. Ele apontou que “não há absolutamente nada que indique a necessidade de retratação”.

“Em momento algum acontecem ofensas diretas à fé cristã, à liturgia cristã ou aos cristãos em si. Existe, apenas, alegoria carnavalesca, de conteúdo simbólico, indicando que o ‘mal’ pode vencer o ‘bem’. Pelo que se observa da representação, não houve ataque ao cristianismo, apenas manifestações artísticas usando alegorias cristãs”, explicou o promotor.

“O fato de o requerente não ter gostado da crítica e da utilização de elementos religiosos para elaboração dela, não implica a prática de crime ou excesso no exercício da liberdade de expressão. Não gostar de manifestações culturais ou mesmo não concordar com essas manifestações (e a forma que elas são feitas) é perfeitamente razoável e aceitável dentro de um contexto democrático. Todavia, importa ressaltar que o desagradável não é excesso de exercício de direito ou crime”, completou.

Na avaliação de Bonilha “não existe qualquer ato lesivo ao patrimônio público'” Ele destacou que não se pode dizer que “a ação principal teria natureza de ação popular. O ordenamento jurídico pátrio não admite que pessoa física, em nome próprio, ingresse com ação para tutelar interesses da coletividade, salvo o caso excepcional da ação popular (Lei n.º 4.717/1965), em casos de atos lesivos ao patrimônio público”.

Na decisão, o juiz alertou que “a oposição de embargos fora das hipóteses legais e/ou com postulação meramente infringente poderá levar à imposição de multa”.

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Frente Evangélica acusou escola de crime

O líder da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados, Lincoln Portela, do PR de Minas Gerais, disse em nota manifestar “profunda indignação e repúdio ao espetáculo” e acusou: “aquela apresentação não é arte, é crime”.

Além da repercussão negativa entre os cristãos, três dos quatro jurados que avaliaram a apresentação da comissão de frente no item acabamento, conforme justificativas divulgadas pela Liga-SP. Assista um trecho:

Em vídeo, gravado na quadra da entidade no bairro do Bom Retiro antes da apuração, o presidente da escola, Rodrigo Gonzalez falou sobre a polêmica em discurso para a sua comunidade, exaltou o nome de Jesus Cristo, pregou o amor e comandou uma oração:

Ao final da apuração, a Gaviões, mesmo estando entre as favoritas ao título do Grupo Especial com a reedição do enredo “A saliva do santo e o veneno da serpente”, apresentado originalmente em 1994, ficou com um surpreendente e modesto nono lugar.

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