Juninho Branco relata dias de agonia durante internação: ‘É desesperador’

Juninho Branco. Foto: Reprodução.

Um dos intérpretes da escola de samba Morro Casa Verde, Juninho Branco, enfrentou nos últimos dias uma grande batalha em sua vida: a luta contra a Covid-19.

Ao SRzd, o sambista 42 anos, que já defendeu a Leandro de Itaquera e a Pérola Negra, falou sobre os desafios que enfrentou durante os 17 dias de internação.

“Cheguei no hospital Vitória, no Anália Franco, no dia 11 de março, na parte da tarde.  De cara já me puseram no oxigênio porque eu estava com a respiração bem comprometida e a saturação baixa. Depois, na tomografia, detectaram mais de 50% do pulmão acometido. A médica já me avisou que, devido ao meu quadro, seria necessária a internação. Eu estava muito assustado, pois a piora havia sido muito rápida. A dificuldade de respirar era muito grande. Demorou 12h para conseguir um leito para internação, o que hoje considero um privilégio, tendo em vista a situação atual dos hospitais e de tantas pessoas que precisam de internação e não estão conseguindo um leito”, disse.

Eu estava muito assustado

“Na madrugada do dia 13, eu tive uma piora maior na parte respiratória, onde tive muita falta de ar. É uma sensação horrível, você sente o ar entrando no corpo, mas parece que não está servindo pra nada, e sentir isso sabendo que já está com 15L de oxigênio, é desesperador. Foi quando fui levado para a UTI. Lá os médicos aumentaram o oxigênio, me deram mais medicamentos e foram francos comigo com relação à evolução dessa doença, falando dos estágios até a intubação. Ao mesmo tempo tentavam me tranquilizar, pois o medo dessa doença e do estado delicado que a gente fica, causa muita ansiedade e isso atrapalha muito. É muito difícil controlar a ansiedade, passam mil coisas na cabeça, o medo é muito grande. Mas só tenho a agradecer a equipe médica, de enfermagem e fisioterapia. Foram todos muito atenciosos e compreensivos com essas questões emocionais também”, relatou.

Juninho Branco. Foto: Morro da Casa Verde – Divulgação.

Juninho relatou que precisou usar uma máscara chamada VNI, que ajuda na respiração, aumentando a oxigenação e evita a intubação. Ele declarou que a máscara – que foi utilizada em horários alternados – o sufocou e era “extremamente apertada”, mas que os profissionais de saúde o ajudaram bastante durante este período.

Após alguns dias da UTI, o intérprete sentiu que seu corpo estava reagindo positivamente ao tratamento: “Mesmo estando muito fraco eu percebi que estava melhorando, a parte respiratória não me incomodava tanto e isso me deu um grande alívio”.

“Então tive alta da UTI e voltei para o quarto, onde pude ter a dimensão do quanto tudo aquilo tinha me debilitado, o quanto tinha emagrecido, pois foram muitos dias sem comer nada enquanto o corpo lutava contra a doença. Estava muito fraco. Mas aí comecei aos poucos a me recuperar. A primeira vitória foi conseguir tomar um banho (mesmo na cadeira de rodas e com ajuda dos enfermeiros) depois comemorei o fato de conseguir ir no banheiro fazer xixi em pé, depois consegui tomar banho em pé (tudo ainda usando oxigênio), assim por diante. Fui me recuperando, dia após dia, comemorando cada vitória”, celebrou.

O cantor informou que mesmo após a tão esperada alta, realizada no dia 28 de março, ainda está em recuperação: “Sinto muito cansaço e muita fraqueza no corpo, mas tudo dentro do esperado, segundo os médicos”.

Durante o período em que esteve internado, sambistas e familiares gravaram um vídeo em que desejaram uma boa recuperação para Juninho. Segundo ele, a energia positiva enviada por seus amigos foi fundamental para sua melhora.

“Quando tive condições de pegar o celular pra mandar uma mensagem para os meus pais e minha família para tranquilizá-los, foi quando comecei a ter noção de todo o movimento de orações, vibrações positivas, tantas postagens nas redes sociais de praticamente todas as escolas que eu já cantei, todos os amigos, fã clube da Banda dos Seguranças do Metrô, enfim, fiquei surpreso e extremamente emocionado. E hoje, só sinto  uma enorme e eterna gratidão. Gratidão a Deus por ter me permitido superar esses dias tão difíceis e estar bem! Gratidão a todas as pessoas que oraram por mim, que pensaram, vibraram positivamente para a minha recuperação! Gratidão por tantas mensagens carinhosas que eu recebi! E gratidão por coisas que ainda nem sei explicar!”, confessou.

Vaguinho e Juninho Branco. Foto: Morro da Casa Verde – Divulgação.

O intérprete da verde e rosa, que no próximo ano também vai liderar o carro de som ao lado de Vaguinho, também não deixou de agradecer a equipe do hospital.

“Agradeço também do fundo do coração à equipe de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, profissionais da limpeza, que mesmo estando no limite de cansaço, pois o hospital estava lotado, a rotina de trabalho deles era uma loucura, estavam todos muito desgastados física e emocionalmente, mas mesmo assim me trataram com muito cuidado e muito carinho. Isso também foi emocionante”, discursou.

Fazer festa e se aglomerar é a maior falta de respeito ao próximo

O sambista também fez um apelo para a população: “Nós, o povo, estamos sofrendo sim com tantas mortes e com tantas pessoas nos hospitais, porém, existe uma parcela grande da população que não está fazendo o mínimo, que é respeitar o isolamento e distanciamento social. Não estou falando das pessoas que precisam trabalhar, estou falando das festas que estão acontecendo por aí. Em um determinado momento, uma enfermeira coletava meu sangue para exames, e na TV passava uma reportagem de festas clandestinas. Eu fiquei revoltado e envergonhado ao mesmo tempo. Fazer festa, se aglomerar, no período em que estamos vivendo, é a maior falta de consciência e de respeito ao próximo. Então eu peço que as pessoas repensem, tem muita gente nos hospitais precisando de socorro, tem muita gente nos hospitais que deixa a família em casa e vai socorrer essas pessoas desconhecidas, e todos eles merecem, no mínimo, respeito”.

“Quero aproveitar para deixar meus sentimentos às tantas famílias que perderam entes queridos e ficaram despedaçadas nesta pandemia. Amigos do trabalho que se foram, tantos amigos do samba que partiram. Que Deus dê força para quem ficou poder prosseguir! Rezo todos os dias. Que Deus nos ajude e dê muita saúde, consciência, compaixão, reflexão e amor ao próximo! Pois só assim seremos merecedores de superar essa doença! Que a vacina chegue logo para todos!! Amém!!”, finalizou.

Juninho Branco. Foto: SRzd – Cesar. R. Santos

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