Intérprete alerta sobre eliminatórias; escolas estão considerando ‘grife’ e excluindo quem não tem dinheiro

Instrumento. Foto: Reprodução.

A temporada de eliminatórias de samba-enredo causa, a cada ano, as mais diferentes reações entre os sambistas e admiradores do gênero.

Muitas opiniões, eternas discussões, em torno da fase mais quente do pré-Carnaval.

Desta vez, quem se manifestou sobre o tema foi um dos mais importantes nomes da folia paulistana; Dom Marcos. Intérprete e compositor reconhecido, um dos autores de um dos maiores clássicos de todos os tempos; “Catopês do milho verde, de escravo a rei da festa”, hino da Colorado do Brás em 1988, reeditado duas décadas depois, quando a agremiação estava no Grupo 1 da Uesp. Marcante, a composição foi incorporada como samba-exaltação e regravada no projeto “Ensaio de Escola de Samba”, do cantor e também compositor Leandro Lehart.

Ao registrar suas impressões sobre o estágio atual das disputas nas agremiações da cidade, protestou, sobretudo, defendendo os poetas que não dispõem de recursos financeiros para encarar os altos custos que os concursos demandam. Ainda alertou para o risco nas escolas que, segundo ele, escolhem seus sambas considerando a “grife” dos intérpretes que defendem as obras durante a competição. Leia o texto com as reflexões do artista na íntegra:

“O samba está a todo vapor nas quadras, muitos já ficaram pelos caminhos das eliminatórias, lindas obras, porém, é aquele velho “chavão”; “Só vai um para a Avenida”, mas cá entre nós, não é bem assim. Muitos não têm os recursos necessários para seguirem adiante, como torcida, ônibus, influências, enfim, dinheiro. Apesar de ser uma bela obra, não conseguem iluminar as cabeças dos senhores “jurados”, ou também, não querem luz alguma, sei lá… Com a palavra os responsáveis por uma safra boa ou não, presidentes, diretores, carnavalescos, “aspones”, enfim, gente que não sabe nem o que é escola de samba, o que representa um pavilhão, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira ou velha-guarda. Seguem a ordem dada e “pronto”. O que me deixa contente é essa nova safra de compositores e especialmente intérpretes de “Sampa”, que estão lutando contra muitos, por um merecido lugar. Muitos sambas de enredo estão sendo escolhidos observando o nome do intérprete que está a gravar e defender a obra. Creiam, temos que dar oportunidade e valor para essa nova safra. Só assim surgirão outros grandes intérpretes em São Paulo. Quem tiver o prazer de visitar as escolas de samba de São Paulo, vai se surpreender com a qualidade dos intérpretes que estão no aguardo de uma oportunidade, basta o samba querer”.

Dom Marcos. Foto: SRzd – Cláudio L. Costa

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