Odirley Isidoro faz sua estreia no portal SRzd.
Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.
As publicações de sua coluna serão semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!
Descia a ladeira da Praça da Bandeira com o Tinhorão e encontrei Sebastião Eduardo do Amaral, também conhecido como Pé Rachado.
Ele estava procurando o Chico Pinga pra falar de samba, ele que sempre foi um visionário, bebeu na fonte lá no morro da Mangueira com o amigo Cartola e decidiu que estava na hora de trazer novos ares ao mundo do samba, e assim, juntou uma rapaziada boa e fundaram a verde e rosa da Zona Sul, abençoada com o manto do poeta e de Dona Zica.
Pé Rachado sempre esteve a frente do seu tempo, já tinha alcançado o posto máximo no samba por diversas vezes, no Bixiga, mas estava inquieto.
Com o fim dos Cordões ele estava decidido que não ia fazer samba e sim formar pessoas para o samba; assim nasceu sua escola, ou melhor, Faculdade!
Nos tempos de gramado de portuguesinha conheci o saudoso Dagmar, caixeiro de guerra dos bons que saiu por anos na Bela Vista para desfilar pela escola do bairro. Dagmar trabalhava nas obras do metrô e gostava de jogar sinuca e tomar um Cinar na tendinha do velho portuga, lá no Bosque da Saúde. Mulherengo, não perdia a chance de tirar uma casquinha e foi nessa casquinha, que ele dançou.
Faltando uma semana para os desfiles, Pé Rachado encontrou o Dagmar sentado na esquina da Rua Padre Machado com a Rua Bela flor, com as roupas todas jogadas e uma mala de couro antiga com seus documentos, logo, Pé Rachado olhou para o malandro e entendeu que a sua flor lançou espinhos e o malandro foi pra valeta.
Chico Pinga, que passava pelo local, decidiu dar a mão ao Dagmar e ele foi dormir no barracão improvisado da escola. Porém, tinha que dar uma mão nas fantasias. Dagmar aprendeu com as damas a costurar e até manejar cola quente, de pedreiro durante o dia, a artesão pela noite. Coisas do samba!
Fantasias prontas para o desfile e todo mundo estava indo pra Avenida, mas o abre-alas não queria sair do lugar.
Foi ai que Dagmar teve seu ato de nobreza, juntou uns pingados e comprou sete fichas. Correu no orelhão, pegou o listão da Telesp no armazém do português e ligou para uma rapaziada da portuguesinha, e logo surgiu um guincho.
A comunidade que não fora pra Avenida aplaudia a chegada do Guincho e Dagmar acenava como se fosse o campeão moral da noite.
Seo Pé Rachado sorria e entendia que aquele momento era a glória para o nobre Dagmar e, assim, ele caiu novamente nas graças de sua companheira, que ao ver o ato do malandro, o aceitou de volta, com todo amor.
E ele foi para Avenida fazer, para muitos malandros do samba, um dos melhores Carnavais da verde e rosa da Zona Sul.
Outros tempos… Salve a Barroca!
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