Dragões tem imprevisto com casal em desfile criativo sobre Adoniran Barbosa

Desfile 2022 da Dragões da Real. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

Desfile 2022 da Dragões da Real. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

Já com o dia claro do sábado (23), a Dragões da Real foi a responsável por fechar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial no Sambódromo do Anhembi.

+ Vídeo: largada do desfile da Dragões da Real

Com dos vices campeonatos na elite do samba paulistano, a escola da Vila Anastácio apostou no enredo “Adoniran”, uma homenagem ao cantor e compositor Adoniran Barbosa. O projeto foi de autoria do carnavalesco Jorge Silveira.

A trilha sonora do desfile, conduzida pelo intérprete Renê Sobral, foi assinada por Thiago SP, Léo do Cavaco, Renne Campos, Marcelo Adnet, Darlan Alves, Rodrigo Atração, Alemão do Pandeiro, Alfredo Rubinato, Paulo Senna, André Carvalho e Tigrão.

A agremiação terminou seu desfile com 1 hora.

Assista a análise do desfile da Dragões da Real

Confira as entrevistas na dispersão do Anhembi

Galeria de fotos

Ficha técnica

Presidente
Renato Remondini (Tomate)

Carnavalesco
Jorge Silveira

Direção de Carnaval
Marcio Santana

Direção de harmonia
Rogerio Magalhães Felix

Intérprete
Renê Sobral

Coreógrafo de comissão de frente
Ricardo Negreiros

1º casal de MSPB
Rubens de Castro e Evelyn Silva

Mestre de bateria
Jorge Silveira

Rainha de bateria
Karine Grum

Enredo

“Adoniran”

Desperta, São Paulo!

Desperta para ver sair do túmulo o filho único da canção eterna, umbigo nas quinas, torto querubim das esquinas, das cruzas e encruzas, o verso, o reverso e o verbo sentido no gerúndio. Contesta com vida e diplomacia de bar a profecia do poetinha Vinicius. Convoca os dragões e demônios do batucar miúdo, os homis tudo, caixas de fósforo e de ressonância d’uma poesia rueira – aí, sim, a sua perfeita tradução. Quais, quais, quais, quais colá. Adoniran Barbosa andarilho, candeeiro observador aceso, plantou a flor de sua arte até mesmo em viaduto. O homem que falava aquilo que as pessoas enrolam pra dizer. Vorta neste enredo como “arma penada” para outra vez balançar cadeiras na porta de casa, animar serestas, enfiar a colher de pau no caldeirão agridoce da Pauliceia. Eis os cacos ajuntados do tempo por João Rubinato – sua graça na certidão – porta-estandarte, mosaico, caleidoscópio dos causos de um século todinho e de gentes como a gente.

Sua palavra traz a dona, o vendedor, o engraxate, o doutô. Desfiou a cidade mezzo linho, mezzo desalinho, Gioconda enigmática a sorrir Itália, Mooca, Casa Verde, riqueza e piolho, contraste. Tudo e tutti na rima que arranha ruído de povo. . Plac ti plac plac. Di dirim dim, di dirim dom dom.A roçadura entre a lembrança romântica do palacete assobradado de outrora e a dor doída ante a selva de pedra que se impôs. Como é que faz? Rasgou o coração, mas o dono mandou derrubá. A metrópole que mais cresce pôs concreto nos afetos. Restou a maloca no peito, saudosa e querida, dim dim donde nós passemo os dias feliz de nossa vida. Quando bate onze da manhã, pouco antes do sol a pino na moleira, o enxadão da obra que traz o progresso econômico a poucos, e o retrocesso das quimeras a tantos, descansa. Hora de almoçá a marmita na calçada. Arroz, feijão, torresmo à milanesa. A vida é dureza, João.

Só que adiante um pouco, bãosis, a Lua se insinua, cicerone formosa das farras e dos amores que a noite atrai. Trabalhador também vadeia, vam s´embora camaradas.. Primeiro, o Arnesto nos convidou prum samba lá pros lados d’onde mora. Nós fumos, mas ao chegar no Brás… Não encontremos ninguém. Que baita reiva! Isto não se faz. Só que bamba que é bamba não balança, ensinou algum filósofo do copo cheio. A noite ainda criança solta as mariposas em vorta das lâmpidas malandras que dedilham o cavaquinho até a coisa isquentá. Esticam tanto a corda mi… Que, beijo em beijo, vira tudo aliança e prova de carinho. Difícil não se derreter com as frechadas do olhar, o peito parece táubua de tiro Álvaro, todo esburacado, nem tem mais onde furar. Poeta se apaixona de cruzamento em cruzamento, pede pro amor ficar mais um pouquinho, até o baile emudecer. Mas também para ele dá a hora, mora longe, o maquinista sempre entrega Jaçanã como destino. Se perder o trem que parte às onze, xiiiiii, só amanhã de manhã. A mãe nem dorme, coitada, enquanto o marmanjo não chega: o homem-menino é folião apaixonado, mas tem casa para olhar. E se o sujeito for casado? Aí só resta implorar: joga a chave, Matilde. Joga a chave, meu bem.

Contam os sabidos que quando o ébrio ainda engatinhava, Pirapora de Bom Jesus se esparramou São Paulo adentro com o samba de bumbo a tiracolo. Sim, cordões caipiras forjados em cruz, curimba e raízes rurais foram o berço da fuzarca no estado. Já crescido, Adoniran viu-se um pouco em Geraldo Filme balançando o terreiro com a mão na zabumba, bebeu Dionísio Barbosa, o revolucionário folião da Barra Funda, fez ecoar o tambu de Henricão, que escreveu a glória do Bixiga e partiu levando saudades. Sambistas romeiros a encantar o espírito da Pauliceia e inspirar as fricções urbanas da obra do demônio sagrado que, ao contrariar a morte, regressa à sua Vila Esperança, aurora dos carnavais. A partir de um fevereiro em que amou Maria Rosa, a primeira colombina, sua arte foi o abrigo para tantos gênios primeiramente chamados de vagabundos.

E se a metrópole teimava em crescer na carona de espigões e contradições, o couro paulistano não titubeou quando chamado ao toque. Rompidos os cordões umbilicais, viraram escolas de samba. Camisa, Vai-Vai, Peruche, Vila Maria. E o Nenê, óbvio. Sujeito pessoa física e jurídica. Cartorial forma de dedicação, ares de crônica musical de Rubinato. Sampa do matriarcado também. Sua bênção, Madrinha Eunice, fundadora da Lavapés, a pioneira. Saudades, Dona Olímpia. Saudades, Tia Zefa. Saudades todas. Mas ói nois aqui traveiz pra arrumá um batuque campineiro, de rua, de bar, de Avenida.

Adonirando aqueles que encontra, o poeta ajeita o chapéu, passa o dedo no bigode fino e capricha no acento italiano para rever a sua São Paulo bem no capítulo final do espetáculo ainda inconcluso. Cruzou a fronteira e venceu o que os homens do lado de cá desconhecem porque é carnaval, delírio fantasiado de liberdade – nome de bairro e mantra. Ele brinca, faz estrelá ou chuvê, as horas vareiar, pita e dedilha até triunfar o Sol da vida real, este que entrega o adeus à escola e o tamborim respeitado ao melhor dos ritmistas.

Canta, enfim, pra subir, mas deixa um recado: já fui e sou uma brasa. Se assoprarem, posso acender de novo.

Será?

Bem, não convém duvidar: este aí, ah, nem garoa apaga.

Quaisgudum, tchau!

Adoniran.

Logo do enredo 2022 da Dragões da Real. Foto: Divulgação
Logo do enredo 2022 da Dragões da Real. Foto: Divulgação

Prêmio SRzd Carnaval SP 2022

Pelo décimo ano consecutivo, os destaques dos desfiles das escolas de samba da cidade de São Paulo receberão troféu exclusivo, oferecido pelo portal SRzd.

Voto popular, imprensa especializada e análise da equipe SRzd, que acompanha os bastidores das escolas de samba durante todo o ano; a somatória destes três levantamentos vai determinar o resultado do Prêmio SRzd Carnaval SP 2022, ação que valoriza a cultura do samba na capital paulista e seus protagonistas. Em caso de empate, prevalece sempre o voto dos profissionais do SRzd.

A votação popular, que estará disponível através de enquete na página da editoria do Carnaval de São Paulo no SRzd, será aberta no domingo (24). O resultado será divulgado na terça-feira (26). Clique aqui e conheça todas as categorias.

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AGaivotinha. Foto: Divulgação

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