Nesta sexta-feira (25) e sábado (26), a partir das 20h e no domingo (27), a partir das 19h, o Teatro Oficina recebe o espetáculo “Odara – Tradição, Cultura e Costumes de um Povo”, que reúne em seu elenco, mais de 65 profissionais entre atrizes, bailarinos, dançarinos, cantoras, músicos, percussionistas, capoeiras, sambistas, técnicos, produtores e promotores da cultura e das tradições de matriz africana que estão no alicerce da construção da sociedade brasileira.
“Em um momento necessário e de protagonismo, o que ‘Odara’ propõe ao espectador? As pessoas podem se questionar: mais um espetáculo que resgata a ancestralidade? O que traz de diferente?”, provoca o diretor geral de harmonia na Nenê de Vila Matilde, Márcio Telles, que é quem comanda a peça e há 20 anos levou a mesma proposta para os palcos de periferias e centros culturais.
“Bom, essa foi exatamente a pergunta que me fiz quando resolvi trazer a montagem de volta para os palcos e batalhei para que se desenrolasse especificamente no Oficina e que tivesse no elenco pessoas reais que praticam em suas vidas cotidianas o que entregam no teatro. Por que ‘Odara’ agora? Ainda é extremamente urgente falar de ‘Odara’ por razões que estão aí, todos os dias, nos jornais e nas ruas”, diz Telles.
Com duração de 120 minutos e elenco majoritariamente negro, o espetáculo reúne diversas manifestações importantes para a manutenção e a resistência de narrativas yorubás, seja na música, na dança, na literatura e na dramaturgia.
A criação do mundo segundo a diáspora e uma visão yorubá são os fios condutores de uma montagem cujo conceito une a singela tradição Griot com a explosão inerente de quem pisa no chão do Oficina.
“Este teatro, como seus próprios integrantes falam, inclusive eu que estou aqui há 11 anos, é um terreiro eletrocandombléico. Tem vida própria, assim como o corpo. Essa união impregna a peça de uma energia singular”, afirma o diretor.
“Acho que ‘Odara’ tem um conceito de narrativa e uma visão estética que lhe são muito peculiares. Caminho nesse chão há muito tempo e recolhi dentro de todo o período de pesquisa aquilo que me tocava de forma muito profunda dentro do nosso território negro. Além desse garimpo e dessas vivências, admiro extremamente o trabalho e a trajetória do Balé Folclórico da Bahia e o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo”, conclui Telles.
“Odara – Tradição, Cultura e Costumes de um Povo” traz a narrativa da criação do mundo segundo referências da mitologia yorubá. Olorun, o senhor supremo do universo, resolveu acabar com o ócio reinante no Orun e decidiu criar um mundo habitado por seres semelhantes a ele. Para tanto, convocou todos os Orixás e, sob o comando de Obatalá, ordenou que partissem para criar o Ayê, a terra. A peça segue com o surgimento de novos povos, desde a vida livre do negro na África, passando pelo tráfico de escravos até o período contemporâneo, mostrando que, além do sofrimento, houve resistência que manteve vivos os costumes, a tradição e a cultura, apresentando ao longo de 120 minutos uma dramaturgia enriquecida com manifestações populares como dança dos Orixás, capoeira, samba-reggae, puxada de rede e samba de roda, ilustrando um patrimônio cultural inestimável e preservado. Nesse sentido, “Odara” propõe um novo grito, uma nova revolução, uma retomada dos territórios e das ruas, uma chamada de alegria e afeto, aguerridos, contra qualquer tipo de escravidão, violência e intolerância.
O espetáculo foi concebido em maio de 1997 como projeto cultural para atender, de forma sócio e arte educativa, comunidades periféricas da cidade de São Paulo e municípios limítrofes. A proposta pedagógica era implementar atividades culturais focadas no resgate e na preservação da cultura afrodescendente, usando inicialmente, as ferramentas da dança, do teatro e da música.
No Acervo da Memória e do Viver Afrobrasileiro (atual Centro Cultural Jabaquara) e com o apoio fundamental de Mãe Silvia de Oxalá (in memorian), Telles reuniu artistas e gestores de vários coletivos, como Afro II, Dandara, Okun, Quilombo Capoeira e Adarrum, e realizou o primeiro espetáculo, “Raízes de Ketu”, que estreou no Teatro Taib, localizado no bairro do Bom Retiro e que, atualmente, chama-se Casa do Povo.
A partir daí “Odara” aflorou como um grupo de resistência e perdurou por longos anos. Em 2005, o projeto migrou para o bairro de Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte de São Paulo, como uma alternativa à elevação da autoestima e da valorização de moradores de uma periferia onde o risco social era e ainda é parte da rotina de jovens, crianças e suas famílias. Assim, o Projeto Odara passa a fazer parte de uma Organização Não Governamental, a Omo-Ayê, tendo como presidente Margarida Moura (in memorian).
Nesta linha de desenvolvimento, um amplo trabalho social contribuiu direta e efetivamente para a execução de políticas públicas de promoção que viabilizaram oportunidades de inserção, criação de oportunidades de trabalho e geração de renda para jovens em situação de grande vulnerabilidade social por meio de um ateliê de confecções e cursos profissionalizantes de moda étnica (roupas e bordados afros). Esta iniciativa participou do projeto São Paulo é uma Escola e, também, do Projeto VAI.
Neste processo evolutivo, o Projeto Odara estreou no Teatro Itália, na região central paulistana, e seguiu em grande temporada no Café Concerto Uranos. Em meados de 2017 ocorreu a estreia de “Brasilidade Nagô” no Teatro Oficina. Atualmente sediado na Casa Florescer, o Odara fortalece-se com aulas de dança e vivências afro gratuitas, promovendo a inclusão de mulheres trans e famílias em situação de vulnerabilidade social. Depois de uma curta temporada, mas com grande plateia em agosto, o espetáculo volta à cena nos finais de semana de outubro.
O espetáculo acontece no Teatro Oficina, que fica na Rua Jaceguai, 520 – Bixiga. Os ingressos são vendidos no local, sempre uma hora antes da peça, no valor de R$ 40 (inteira), R$ 20 (estudantes, maiores de 60 anos, professores de rede pública, classe artística mediante comprovação, moradores do bairro mediante comprovante de residência) e R$ 5 (estudantes secundaristas de escola pública, imigrantes, refugiados, moradores de movimentos sociais de luta por moradia mediante a comprovante) – limitados a 10% da lotação diária. Clique aqui para mais informações.
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