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Crônica de quem viu e viveu o primeiro título imperiano

Crônica de quem viu e viveu o primeiro título imperiano. Foto: Acervo

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

Crônica de quem viu e viveu o primeiro título imperiano

Em 1967, entre as enchentes corriqueiras e rastros de lama, o samba é a voz que traz a alegria para o povo.

Naquele tempo o Carnaval tinha outra dimensão, não existia luxo, era samba, festa, essência e romantismo.

Entre tantas fortes escolas a “Sociedade Esportiva Recreativa Beneficente Unidos do Parque Peruche”, retornava como campeã pela terceira vez consecutiva.

O sorriso estampado no rosto daquela “precária” comunidade contrasta com a situação do bairro. Dentre os jovens que participaram desta conquista destaco um nome: Deoclides de Paula Isidoro, uma pessoa, entre tantos outros nomes, que fizeram parte desta conquista. Um jovem rapaz que frequentava junto de seus irmãos Edélcio e Valdir “Badico” as festas e bailes do bairro, em um tempo que ir até o Centro era uma aventura, e a diversão era local.

Conviveu com a malandragem e alguns sambistas: Armstrong, Gilberto bonga, Seo Carlão (fundador da escola), Otacílio Ribeiro e seus irmãos. Foi apitador de bateria da extinta Acadêmicos do Peruche da Dona Ivonete e Seu Nagib, depois passou o apito o Armstrong.

Respirou o Carnaval por anos, fora jurado da Uesp a convite do falecido Seo Nelsinho e até hoje acompanha a distância o samba.

Mas o destino escreve páginas engraçadas, pois em fevereiro de 2005, a convite de Tiroga, um dos integrantes da escola, um jovem de 21 anos fora acompanhar junto de seu amigo Flávio o último ensaio técnico antes do dia principal, um clima festivo e alegre tomava conta da comunidade.

Era apenas o terceiro ano no grupo especial desta “Caçula do samba” que no ano anterior havia apresentado um belo desfile.

Ele acompanhou o ensaio, observou a estrutura, fez a sua leitura sobre o futuro desfile e a expectativa era de um bom trabalho que viria na Avenida.

Olhe o destino…

Poucos dias antes, este jovem acabara de sair da então Acadêmicos de São Paulo e estava desmotivado. Eis que no dia 5 de Fevereiro, por volta das 18h, Tiroga aparece no portão de sua casa praticamente o convocando para ir até o barracão. Chegando lá, ele e mais algumas pessoas são denominadas por confiança a serem harmonias responsáveis pelas alegorias da escola.

Desafio aceito, ele volta para sua casa, se alimenta e tem a madrugada mais louca em sua vida, entre passistas de várias escolas, amigos, chuva e frio, o céu presenteia a todos com um dos mais belos e históricos amanhecer já visto no Anhembi.

Alguns momentos que antecederam o início do desfile: lágrimas dos integrantes pelo falecimento do patrono, orações em corrente para um bom desfile, terços na mão de algumas baianas, foco e determinação da comissão de frente, e o capitão “Carlos Júnior” junto do seu time de canto energizando a escola.

Ele olha para o amigo Ulisses Salvador que sinaliza como positivo, abraça o amigo “Negão” e “Cachorrão” que sempre se mostraram fortes e valentes, mas naquele momento eram só lágrimas. Volta a sua posição para orientar a terceira alegoria.

E nas arquibancadas quase vazias, muitos curiosos surpresos pela dimensão do desfile e o canto forte da escola na Avenida. O momento em que os portões se fecharam foram de redenção.

O dia era 9 de Fevereiro de 2005, quadra de portas fechadas até a última nota, correria, choro, alegria e redenção, quis a vida que 38 anos depois a taça voltasse a Casa verde, ao Parque Peruche.

Curiosamente em uma escola de samba onde as reuniões para sua fundação foram feitas próximo ao local que Deoclides residia, ou melhor, algumas casas depois no Clube Saldanha da Gama.

Quis a vida que seu filho fizesse parte desta conquista!

Talvez por uma parcela do tempo ele tenha sentido a mesma sensação de seu pai, de ser campeão por uma escola do seu bairro.

Sim esta história é real e este que vos escreve quem viveu!

Ele é muito feliz por fazer parte desta conquista, a primeira da história do Império de Casa Verde que desencadeou para outras glórias.

Mas seu coração sempre será perucheano!

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