Com falhas nas alegorias, Gaviões dá ‘Basta’ na Avenida

Desfile 2022 da Gaviões Da Fiel. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

Desfile 2022 da Gaviões Da Fiel. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

A Gaviões da Fiel foi a segunda agremiação a desfilar na noite deste sábado (23), Dia de São Jorge, padroeiro do Corinthians, no Sambódromo do Anhembi.

+ Vídeo: largada do desfile da Gaviões da Fiel

Com quatro títulos no Grupo Especial, a escola buscou quebrar o jejum de 19 anos sem títulos – o maior entre todas as escolas de samba da elite do samba paulistano – com o enredo “Basta!”, uma crítica social sobre temas que estão em debate no cenário atual do país e do mundo. O projeto foi desenvolvido pelo carnavalesco Zilkson Reis.

O samba-enredo foi composto por Grandão, Sukata, Jairo Roizen, Morganti, Guinê, Xérem, Claudio Gladiador, Ribeirinho, Claudinho, Meiners, Luciano Costa, Felipe Yaw, Marcelo Adnet, Fadico, Júnior Fionda, Lequinho, Fábio Palácio (Mentirinha), Leonel Querino, Altemir Magrão, Marcelo Valente, Sandro Lima e Rodrigo Dias. A interpretação foi na voz de Ernesto Teixeira.

A agremiação terminou seu desfile com 1 hora e 4 minutos.

Assista a análise do desfile da Gaviões da Fiel

Confira as entrevistas na dispersão do Anhembi

Galeria de fotos

Ficha técnica

Presidente
Amilton Alves Brito (Padinho)

Carnavalesco
Zilkson Reis

Direção de Carnaval
João Carlos, Clodoaldo Lima, Thiago Dionísio, Carlos Tadeu Miranda, Ernesto Teixeira, Tadeu Macedo e Eduardo Fontes

Direção de harmonia
Alexander Santos e Erica Jacobucci

Intérprete
Ernesto Teixeira

Coreógrafo de comissão de frente
Sérgio Cardoso

1º casal de MSPB
Wagner Lima e Gabriela Mondjian

Mestre de bateria
Ciro Castilho

Rainha de bateria
Sabrina Sato

Enredo

Basta!

Basta! Acaba aqui a história contada pelo opressor. Num levante à moda brasileira, o
carnaval segue seu ímpeto subversivo e faz revolução em plena avenida. Por todos os
pretos, miseráveis ou “vagabundos” relegados pela tirania. Por todos que ergueram
seus punhos e lutaram por justiça e igualdade. Por João Pedro, Miguel e outros mil
abandonados pela pátria-mãe hostil. Ouçam a voz da Fiel! É chegada a hora da luta sair
do papel!

Muito prazer, eu sou herdeiro da senzala Brasil. Sangue do sangue outrora derramado
por ganância e ambição. Sangue do sangue ainda hoje derramado por ganância e
ambição. Fruto da escravidão. Semente da revolução. Axé, meu irmão! Ressoam os
atabaques da libertação. É dia de gritar contra toda forma de opressão. Voa livre e
quebra as correntes, meu gavião.

Já fui mercadoria. Hoje resgato memórias lançadas ao mar. Reis e rainhas escravizados,
de mãos acorrentadas, de corações alados. Reis e rainhas eternizados no tronco dos
baobás sagrados. Ancestralidade é o recanto da liberdade da realeza negra, chama que
mantém viva a herança africana. Batuque, dança, fé e a força da savana. Relicário que
o tempo não eliminou. Não foi censura, chibata ou tortura que a minha cultura apagou.
E quando a justiça é cega, minha raiz se encarrega de dizer quem sou. Lembra de mim?
Sou aquele que a história renegou.

Consequência. Nem sempre tive consciência, mas hoje sei o que me levou a este beco
sem saída, sem rumo, sem alternativa, que desde cedo me aprisionou. Pobreza, mazela,
a miséria da favela foi o que me educou. Preconceito. Você me vê bandido, mas não vê
quem me roubou. No lixão da vida, eu também sou professor. Eu já morri na fila à
espera do doutor. Covardia. Dia após dia, sigo o que você me programou. A máquina
gira produzindo mais rancor. Escravidão persiste no desamparo do trabalhador. As
migalhas que você me oferece só aumentam minha força para mostrar o meu valor!
Uns com tudo, tantos sem ninguém. O dinheiro move o mundo e dele somos reféns. Do
lado de lá, fartura adquirida com o suor dos nossos. Do lado de cá, a fome é servida
num banquete de ossos. Lá, luxo e ostentação. Aqui, pobreza e opressão. E assim
seguimos divididos, raivosos e corrompidos no ventre das mazelas sociais. É lá que
começa a guerra, mas é aqui que acaba a paz.

Liberdade. Quanto custa? Onde tem? A pátria armada faz de novo os seus reféns. Não
passarão? Já passaram – e foi por cima. E a sanha deles é calar a minha rima. Censura
silenciando a cultura. A tirania manipulando a verdade. E há quem diga que fuzis
garantem liberdade. O grito por respeito segue amordaçado. Um tiro na alma de quem
clama por dignidade. Guerra santa ainda ontem eu vi. Intolerância contra o povo de
Zumbi. Lembrei de tudo, de todos os irmãos que morreram em vão, aniquilados pela
maculada inquisição.

Das caravelas aos engravatados, tiranos disfarçados conduziram a história. Mas é
tempo de reconquista! É tempo de descolonizar o pensamento e valorizar a essência
nativa. É chegada a hora de reverter os processos de invasão e opressão que reprimiram
a nossa verdadeira alma tupiniquim. Como ensinou o cacique Raoni, é preciso lutar
contra os “importadores de consciência enlatada”, contra os usurpadores que desde
1500 se empenham em “passar a boiada”. Pois Pindorama é raiz que jamais será
“queimada”.

E é por isso que eu levanto a minha voz para saudar os bravos imortais que ousaram
sonhar e fazer diferente. Nomes marcados na história, gente que lutou pela gente. Lá
na África do Sul encontrei inspiração, o povo do Soweto resistiu à repressão. Era o rei
Mandela unificando uma nação. Com Frida, utopia florescia, um brado em forma de
poesia. A força da mulher lutando por transformação. E lá na Índia, Gandhi ensinou que
um povo livre se faz na força da união.

Peito aberto, cabeça erguida! Hoje piso na avenida pelos meus direitos! Independência
e vida para o povo dos guetos! Educação para as minhas crianças. Saúde para os meus
baluartes. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”! Floresce
a paz, que é descendente da justiça. A pele do Brasil é mestiça. Democracia semeando
a igualdade e a cidadania em todos os cantos da cidade. O poder da massa e o fim do
preconceito. Superado está aquele pretérito imperfeito. Glória aos guerreiros que
despertaram o novo tempo. Mesas fartas, filhos sãos e a natureza respeitada! Unem-se
todas as irmãs e os irmãos em corrente forte que jamais será quebrada.

Chegou o dia da revolução! Olho nos olhos do meu irmão e sei que posso festejar. O
amor rompe toda opressão. Calam-se os fuzis para a minha escola passar. Aqui nenhum
golpe prospera, nenhum tirano vai se criar. Somos Gaviões, a democracia corintiana nos
ensinou a lutar! Um por todos e todos por um. Nada mais nos impede de sonhar!

Logo do enredo 2022 da Gaviões da Fiel. Foto: Divulgação
Logo do enredo 2022 da Gaviões da Fiel. Foto: Divulgação

Prêmio SRzd Carnaval SP 2022

Pelo décimo ano consecutivo, os destaques dos desfiles das escolas de samba da cidade de São Paulo receberão troféu exclusivo, oferecido pelo portal SRzd.

Voto popular, imprensa especializada e análise da equipe SRzd, que acompanha os bastidores das escolas de samba durante todo o ano; a somatória destes três levantamentos vai determinar o resultado do Prêmio SRzd Carnaval SP 2022, ação que valoriza a cultura do samba na capital paulista e seus protagonistas. Em caso de empate, prevalece sempre o voto dos profissionais do SRzd.

A votação popular, que estará disponível através de enquete na página da editoria do Carnaval de São Paulo no SRzd, será aberta no domingo (24). O resultado será divulgado na terça-feira (26). Clique aqui e conheça todas as categorias.

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