Centro de polêmica por fantasia de Hitler, Walmir Sparapane lamenta ‘tanto ódio’

Walmir Sparapane. Foto: Acervo pessoal

Com a vida completamente modificada.

Assim está Walmir Sparapane desde que passou a ser um dos principais assuntos nas redes sociais, não só nas destinadas aos sambistas, mas também ao público em geral, pela ampla repercussão da fantasia que utilizou durante o ensaio técnico da escola de samba Águia de Ouro no último sábado (2) em São Paulo.

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A reportagem SRzd ouviu Sparapane horas depois de a diretoria da agremiação paulistana ter oficializado, por meio de nota, sua exclusão do desfile deste ano (leia a nota na íntegra).

A polêmica gira em torno do figurino usado pelo artista, uma referência ao líder alemão Adolf Hitler (1889 – 1945), comandante do Partido Nazista da Alemanha, um dos principais atores da Segunda Guerra Mundial e figura central do Holocausto.

Além da alusão a uma das mais cruéis figuras da história da humanidade, o uso da faixa presidencial no complemento da roupa foi percebido, por muitos, como uma citação ao presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Sobre a concepção ao pensar a caracterização, ele explicou:

“Não fiz apologia ao nazismo, foi exatamente ao contrário”, disse justificando que o símbolo nazista estampado no braço do casaco, comprado coincidentemente em Israel, tinha por cima uma faixa na transversal, indicando proibição. Ao comentar as acusações de associar o nazismo a Bolsonaro, Walmir diz que nem pensou no político:

“A ideia era me mostrar contrário aos regimes militares e aos regimes totalitários, independente da época e de quem seja o presidente ou comandante, inspirado num trecho do samba-enredo”, contou acrescentando que nunca votou no PT, não é comunista e que inclusive estava em Nova Iorque, nos EUA, durante a realização do segundo turno das eleições presidenciais do ano passado entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad.

Embora muito abalado, na conversa foi possível perceber sua serenidade e coragem diante de tantas ameaças que diz sofrer e que se reproduzem na web e nos fóruns dos veículos de imprensa que cobrem os desdobramentos do caso. Diz não ter cometido nenhum crime e, além de seguro, afirma não estar arrependido, exceto, pelo fato do episódio o ter feito descobrir e sentir na pele “tanto ódio nas pessoas”.

Em 2019 ia completar 20 anos desfilando pela Águia e já apresentou-se por outras coirmãs, inclusive fazendo o papel de Jesus Cristo no histórico enredo da Mancha Verde “Bem aventurados sejam os perseguidos por causa da justiça dos homens… Porque deles é o reino dos céus”, originalmente apresentado em 2006 e reeditado em  2014.

Sparapane não omitiu de assumir que não consultou a direção, nem os carnavalescos da Águia de Ouro sobre a fantasia que iria usar, pois nunca o tinha feito. Diante da decisão da escola, acatou, entendendo, sobretudo, que poderia sofrer alguma represália nos demais ensaios e no desfile oficial, tanto moral, quanto física, devido a intolerância a qual está submetido, causando riscos não só para ele, mas também aos outros componentes e para a própria agremiação.

Mesmo vítima do massacre cibernético sofrido nas últimas horas, conta ter recebido muitas mensagens de carinho, inclusive de judeus, e diz que não pretende desistir de expressar, através da arte, sua visão de mundo e sobre a política: “Não quero me sentir um foragido no meu próprio país, nem mudar meu modo e estilo de vida”.

Projetando o futuro, diz que vai seguir trabalhando intensamente até os desfiles, uma vez que está produzindo para o Carnaval, exercendo sua profissão de designer e maquiador. Walmir contratou uma assessoria jurídica e está recolhendo e registrando as acusações e ameaças para usar, caso seja necessário. No grande dia do maior espetáculo da terra neste ano, ele finaliza contando o que pretende fazer: “Vou passar o Carnaval no colo da minha mãe – que mora no interior do Estado de São Paulo – assistindo pela TV”.

+ antes de nota desta terça-feira, presidente da Águia de Ouro, Sidnei Carriuolo, já havia se manifestado:

A Águia de Ouro apresenta no desfile de 2019 em São Paulo o enredo “Brasil, eu quero falar de você”, na disputa do Grupo Especial, quando a azul e branca será a primeira a desfilar no sábado, dia 2 de março, no Sambódromo do Anhembi.

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