Após queda, Terceiro Milênio protesta: ‘É urgente repensar o critério de julgamento’

Desfile 2023 da Estrela do Terceiro Milênio. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

Desfile 2023 da Estrela do Terceiro Milênio. Foto: Cesar R. Santos/SRzd

As escolas de samba Estrela do Terceiro Milênio e Unidos de Vila Maria terminaram a apuração do Grupo Especial do Carnaval 2023 de São Paulo nas últimas colocações e estão rebaixadas para o Grupo de Acesso em 2024.

As duas receberam 269,1 dos jurados, mas a agremiação do Grajaú, bairro na Zona Sul da cidade, ficou na última colocação pelos critérios de desempate.

Com 16 alas e 4 alegorias, a escola apostou no enredo “Me dê a sua tristeza que eu transformo em alegria. Um tributo à arte de fazer rir”, do carnavalesco Murilo Lobo.

O resultado na tabela de classificação da estreia da Terceiro Milênio na divisão de elite do samba paulistano está sendo contestado pela comunidade e diretoria da entidade, que divulgou um manifesto pedindo que o critério de julgamento seja repensado.

De acordo com o texto, “o atual critério de julgamento incentiva a covardia e pune os que investem, ousam e inovam. Os critérios de julgamento, hoje, não priorizam o espetáculo, o que é apresentado para encantar o público e, assim, aplicar o verdadeiro significado do Carnaval. Nossos julgadores são penalizadores. O que deve ser repensado é a forma de se julgar e que a qualidade artística do espetáculo apresentado deve estar entre os critérios”.

Em outro trecho, é feito o seguinte questionamento: Como explicar que a Estrela do Terceiro Milênio não faz jus à elite do Carnaval Paulistano?

Ainda segundo o comunicado da escola, o atual modelo não traz credibilidade e inibe a criatividade, desestimulando investimentos: “Precisamos rever pois estamos engessando o formato, inibindo a criatividade, desestimulando os investimentos e apresentando um produto repetitivo e de baixa qualidade, além do fato do resultado não trazer credibilidade”.

Leia à íntegra:

MANIFESTO SAMBÍSTICO 

Como pode um desfile que foi aclamado pelo público presente no Anhembi, pelos telespectadores que assistiram pela TV, pelos internautas que se manifestaram pelas Redes Sociais ser rebaixado?
Como pode um desfile que se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter, ficando no trending topics (20 assuntos mais comentados no país), repleto de elogios e que conquistou uma legião de novos apaixonados, um carnaval que foi destacado como um dos candidatos a retornar ao Desfile das Campeãs, resultar no rebaixamento desta escola?
Não é de hoje que a opinião pública questiona os resultados do Carnaval Paulistano. Sobre eles e sobre o rebaixamento da Estrela do Terceiro Milênio, há algumas suposições e certezas.
Isto se comprova através das justificativas das notas e pelo fato de muitas não terem nenhuma penalidade apontada. Teriam elas feito um desfile perfeito, sem absolutamente nada a pontuar? Tal fato nos leva a pensar que é mais fácil bater em quem está chegando agora do que quem já está neste grupo.
Entre as certezas, os critérios de julgamento, hoje, não priorizam o espetáculo, o que é apresentado para encantar o público e, assim, aplicar o verdadeiro significado do Carnaval: um espetáculo artístico primoroso e memorável! Assim foi o desfile da Estrela do Terceiro Milênio, dito por quem nunca havia sequer ouvido falar em nossa agremiação, e nos conheceram e se encantaram através da transmissão.
Como explicar que a Estrela do Terceiro Milênio não faz jus à elite do Carnaval Paulistano?
Como explicar que o que eles viram pela televisão estava tão diferente do que os jurados viram ao vivo?
Nossos julgadores são penalizadores. O que deve ser repensado é a forma de se julgar e que a qualidade artística do espetáculo apresentado deve estar entre os critérios.
Hoje, o julgamento aponta e desconta as falhas. Como uma luz ou telão que se apagou, um objeto ou parte da fantasia que caiu, algo que está desigual ou algo que danificou.
Isso dever ser pontuado, claro, mas se o artístico também fosse valorizado e julgado como a criatividade, a pertinência dos figurinos e alegorias, o capricho, a arquitetura e a volumetria das alegorias, a concepção das cores, as texturas, as formas, a beleza, além da coerência do resultado alcançado e o impacto causado, certamente nosso carnaval seria mais interessante, competitivo e gigante.
Sendo assim, exigiria que, ano após ano, as escolas se reinventassem para cada vez mais mexer com o imaginário, provocar sensações e efeito emocional para trazer o público presente, os telespectadores e os internautas como parte do espetáculo. Carnaval é magia, arte e cultura. É o maior espetáculo da Terra! E é urgente que o critério de julgamento seja repensado.
Sobre as adversidades do tempo, como podem todas as agremiações serem julgadas da mesma forma se as condições climáticas não são? Não deveriam os jurados tirar o peso ao verificar as condições do tempo desiguais durante a apresentação? Não seria mais justo? Fica a reflexão.
O nosso casal de mestre-sala e porta-bandeira não pode fazer sua plena apresentação, que foi ensaiada por meses, devido a intensa chuva além dos fortes ventos naquele momento. Um julgamento justo só poderia ser feito em condições iguais para todos. O critério tem que obrigar o julgador a tirar o peso de sua avaliação quando condições climáticas muito desfavoráveis acontecerem. Só assim o julgamento será justo.
Trabalhamos muito para honrarmos o grupo em que chegamos. Fizemos o nosso melhor. Buscamos sempre o crescimento, mas precisamos ser avaliados e julgados por tudo que apresentamos.
A LigaSP tentou aumentar o número de notas (de 8 a 10), mas a nota mais baixa foi 9,7. Será que foi porque todas as escolas fizeram desfiles quase perfeitos? Certamente não. E ainda nos deparamos com “chuva de 10”. No quesito samba-enredo, por exemplo, deixamos de exaltar grandes obras dessa safra pois, para os julgadores, todos foram nota máxima.
É urgente repensar o critério de julgamento. Precisamos rever pois estamos engessando o formato, inibindo a criatividade, desestimulando os investimentos e apresentando um produto repetitivo e de baixa qualidade, além do fato do resultado não trazer credibilidade. Dessa forma o atual critério de julgamento incentiva a covardia e pune os que investem, ousam e inovam.
Estão aqui alguns exemplos de como há tempos, a LigaSP e os desfiles das agremiações paulistas, geram insatisfação no público, descrédito, desprestígio e tantos sentimentos aversos. É assim que queremos ser vistos pelos apoiadores do Carnaval e pela opinião pública?
Fica aqui o nosso profundo desejo de mudanças para o engrandecimento do espetáculo e que carnavais memoráveis não sejam mais injustiçados.
Por fim, agradecemos imensamente a nossa comunidade, ao povo do bairro do Grajaú e extremo sul da capital, e aos novos milenianos que conquistamos com esse desfile histórico.
Vocês nos consagraram!
A diretoria.

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