‘Águas da mãe Iemanjá’: Leia mais uma sinopse para o Carnaval 2023

Logo do enredo 2023 da Torcida Jovem. Foto: Divulgação

Logo do enredo 2023 da Torcida Jovem. Foto: Divulgação

“Torcida Jovem está presente e canta nas águas da mãe Iemanjá” é o título do enredo que a escola oriunda da torcida organizada do Santos irá disputar o Grupo de Acesso 2 no Carnaval 2023.

Através das redes sociais, a agremiação divulgou a sinopse desenvolvida por uma comissão de Carnaval. A alvinegra será a décima a desfilar no sábado, dia 11 de fevereiro, no Sambódromo do Anhembi.


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Leia a sinopse:

“Àwa ààbó a yo Yemonja àwa ààbó a yo Yemonja
Íyáàgbá ó dé ire sé a k´`i e Yemonja a
koko pè ilè gbè a ó yó odò ó fó a sá Wé ré ó.”
(“Estamos protegidos, nossa satisfação é completa,
Iemanjá protege-nos e nos enche de satisfação. É Iemanjá.
A velha mãe chegou fazendo-nos felizes,
nós vos cumprimentamos Iemanjá,
primeira que chamamos para abençoar a nossa casa e nos encher de satisfação.
Usar seu rio que escolhemos para nos banhar,
pois o rio que escolhemos é de o uso para o vosso banho”)

O G.R.C.E.S. Torcida Jovem, irá trazer na avenida para o Carnaval 2023, uma homenagem a Mãe de Todos, a Mãe de Todas as Cabeças, Iemanjá.

Pedimos a licença desde já ao seu filho Exu, para que nos guie e acompanhe nossa trajetória em contar algumas das histórias de sua mãe, Iemanjá.

Contaremos a trajetória desde a África, diferença de raças, qualidades, algumas histórias e a importância desse Orixá para a formação da cultura e costumes brasileiros.

Reunidos para esta festa estão eles Exu e os yaôs para saudar e contar um pouco de nossa mãe Iemanjá.

Começamos nossa história contando sobre o mito da criação. Iemanjá, a divindade da Água, surgiu do mar pela ação de Olodumare, o deus supremo iorubá. No momento da criação do mundo, Iemanjá aparece como coadjutora de Olodumare na criação dos demais orixás, criando-se depois a Terra, que é em seguida povoada pela humanidade, tornando-se assim, nossa Mãe, Mãe de todos os orixás e de toda a humanidade.

Os Bantu são formados pelo conjunto de vários povos que falam línguas que tem uma mesma origem. Abarca praticamente todas as etnias do sul, leste e centro da África, possuem, no entanto, características culturais semelhantes e são povos falantes de línguas comuns, em sua maioria do Kongo e Angola trazem o culto à N’kisi Mikaiá/Samba kalunga (Dama do Mar/Senhora das Águas).

Uma das maiores etnias do continente africano em termos populacionais são os Iorubás. Na verdade, o termo é aplicado a uma coleção de diversas populações ligadas entre si por uma língua comum de mesmo nome, além de uma mesma história e cultura. Cultuavam a YeYe Omo Eja (Mãe cujo filhos são peixes).

Esses povos trazem em comum, a fé em Iemanjá. Tocam, cantam e dançam em homenagem a Orixá Iemanjá.

Iemanjá fez das águas do Rio Ogum, sua morada de onde reina sobre todas as águas, entre rica fauna e flora Africana. Cultuada pelo Egbás, povo africano que se assentou na região entre Ifé e Ibadan. Até o século XIX, com a expansão dos Egbás e disseminação de sua cultura em consequência de guerras entre as várias etnias iorubás, o culto a Iemanjá foi levado para Abeocutá e demais povoações ao longo do rio Ogum, sendo Iemanjá então a ele associada. Com o tempo passou a ser cultuada em quase todo o território iorubano.

“Ògùn ó Yemonja, Ògùn ó Yemonja e lódò e lódò. Sà wè a Ògùn ó Yemonja. Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja. Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja” (O rio Ogum é de Iemanjá, o rio Ogum é de Iemanjá. Ela tem o rio, tem o rio que escolhemos para nos banharmos, o rio Ogum é de Iemanjá, mãe, vamos nos banhar,Iemanjá que o rio esteja bom, Iemanjá).

Conhecida como Mãe das águas doces seu culto se transforma com a vinda dos escravos em sua maioria povos da nação bantu e iorubá, na viagem para o Novo Mundo. Com as mortes e violências sofridas durante as viagens os escravizados, clamavam por sua Mãe, pela Mãe das águas e tendo muitos de seus filhos jogados ao mar, vinha para resgatar e trazer o conforto para suas almas e vidas. Doravante Iemanjá se torna a Rainha do Mar.

Durante séculos foi proibido o culto às divindades de matriz africana no Brasil. Os adeptos tiveram que associar a imagem dos orixás aos santos da Igreja Católica para burlar a doutrinação cristã. Essa relação é chamada de sincretismo – junção de doutrinas religiosas e reinterpretação das normas. Iemanjá é sincretizada com a santa católica Nossa Senhora da Conceição. Em algumas partes do país, o sincretismo é feito com Nossa Senhora dos Navegantes ou Nossa Senhora da Assunção.

Iemanjá se apresenta em inúmeras características e personalidades diferentes, alguns exemplos mais conhecidos são: Iemanjá Sobá, é a mais velha entre todas as Iemanjás, manca de uma perna devido a uma luta com Exu, rabugenta, e feiticeira, fala de costas, gosta de fiar seu cristal. Comanda as caçadas mais profundas do oceano, tem afinidade com Nanã, Yara, Oxalufan e Orunmilá. Veste branco e prata.

Iemanjá Akurá, vive na espuma da ressaca da maré, diziam os antigos que ficava envolta numa vestimenta de algas e lodo; cujo olhar é insustentável; é muito altiva e escuta apenas virando-se de costas ou inclinando-se ligeiramente de perfil; é perigosa e voluntariosa; mata afogado os maus pescadores que pescam pelo prazer e não por necessidade. Usa uma corrente de prata no tornozelo; foi a mulher de Orunmilá, apesar de ter usado um dos instrumentos da adivinhação quando ele estava ausente, tanto que dizem que indignado, Orunmilá teria expulsado-a momentaneamente, vindo posteriormente a reinar.

Iemanjá Awoyu a primogênita. A mais velha das Iemanjás e dos mais ricos trajes; usa sete saias para guerrear e defender seus filhos. Ela vive distante no mar e repousa na lagoa; come carneiro e quando sai a passeio, usa joias de Olokum e coroa-se com Oxumarê, o arco-íris.

Iemanjá Ogunté vive perto das praias, no encontro das águas com as pedras; sendo seu habitat as pedras ou arrecifes dos mares e rios, próximos de praia. Por isso se diz que “o santo nasce do mar”. Apresenta-se jovem e muito guerreira, ardilosa e ambiciosa. É uma guerreira terrível que carrega, preso à cintura, um facão e outras armas de ferro confeccionadas por Ogum Alagbedé, seu marido. Dizem que é rancorosa, severa e violenta, que não aceita pato em seus sacrifícios e adora carneiro. É indomável, mas justiceira; de caráter violento, muito severa e não perdoa.

Iemanjá Sessu é ligada a gestação. Mensageira de Olukun, o deus do mar. Vive nas águas turvas e é muito esquecida e lenta. Come com Obaluaiê e Ogum; é ligada a cisnes, gansos, patos, marrecos e todos os animais da mesma espécie. Possui um temperamento instável. Veste branco, verde água e as contas são de cor branco cristal.

Com devotos espalhados por todo o Brasil, inclusive diversos músicos, como Dorival Caymmi e Clara Nunes, A Rainha do Mar foi homenageada em muitas canções da nossa MPB, como: O Mar Serenou e Conto de Areia de Clara Nunes, Dois de Fevereiro de Dorival Caymmi, Lendas das Sereias interpretada por Marisa Monte, Iemanjá Rainha do Mar com Maria Betânia entre tantas outras, fazem parte da pluralidade musical do nosso país.

Suas aparições no cinema brasileiro são dramáticas. Vale destaque o filme Barravento (1962), dirigido por Glauber Rocha, com sua retratação crítica ao misticismo religioso popular. Em Noites de Iemanjá (1971), o filme dirigido por Milton Barragan alcança um diálogo com a plateia a partir de elementos bem sucedidos popularmente como mistério, erotismo e folclore, apresenta uma personagem enigmática numa trama cercada por mortes, este arquétipo de femme fatale associado a figura de Iemanjá em referência às sereias mitológicas. Em Espaço Sagrado, (1976) documentário realizado na Bahia, o diretor Geraldo Sarno, que apresenta o candomblé e suas práticas dentro do espaço sagrado, retrata o ato de uma oferenda a Iemanjá. Em O Escolhido de Iemanjá (1978), com direção de Jorge Durán, é invocada como intercessora de uma comunidade pobre através dos terreiros e seu escolhido, o Comandante Nelson, no conflito contra Gangsters imobiliários. Deste mesmo ano há também o curta-metragem Dia de Iemanjá, dirigido por Lula Oliveira. Vale destaque A Filha de Iemanjá (1981) com direção de Milton Barragan e a atuação de Mary Terezinha como protagonista, onde Iemanjá é representada através da personagem que se diz sua filha, que ressurge ao final do Longa-metragem para o marido e a filha na praia. Produzido por Camila Pitanga e dirigido por Carlos Saldanha Iemanjá – Deusa do Oceano, entra no universo dos super-heróis, sem data prevista para estreia. A importância cultural e social de Iemanjá, cresce na sociedade brasileira surgindo com frequência em novelas com em A Indomada (1997) telenovela dirigida por Marcos Paulo que extrapola em alegorias, a personagem Eulália interpretada por Adriana Esteves, surge das águas como em referência à Iemanjá. Vale destaque Porto dos Milagres (2001), livre adaptação de Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares do livro Mar Morto de Jorge Amado, com música-tema dedicada à Iemanjá na voz de Gal Costa. Em representações em minisséries podemos citar O Canto da Sereia (2013) com direção de José Luiz Villamarim e Ricardo Waddington, baseado no livro de mesmo nome de Nelson Motta.

O ato de fazer oferendas aos deuses é muito antiga. Desde tempos remotos, sobretudo, quando pouco se sabia sobre os fenômenos da natureza como chuva, vento, sol, ou mesmo sobre as estações do ano, fazia-se oferenda para agradecer a chuva, por exemplo, que fertilizava a agricultura, ou ao Deus Tupã para agradecer que o sol tinha nascido mais uma vez. O Candomblé, seguindo a tradição iorubá, cultuada no continente Africano e trazida pelos negros escravizados ao Brasil, a imolação dos animais acontece para alimentar os ancestrais e essa mesma energia protege e alimenta os fiéis. Muitas outras oferendas de alimentos são oferecidas aos Orixás. A senhora dos oceanos gosta de velas brancas, rosas, azuis, champanhe, arroz doce, manjar, melão, rosas brancas e muitas flores. No Ano-Novo, muitas pessoas também oferecem perfumes, joias e espelhos, já que Iemanjá é vaidosa.

Iemanjá é celebrada por todo o Brasil, na Bahia, seu culto acontece no dia 2 de fevereiro na tradicional Festa de Iemanjá em Salvador, no bairro do Rio Vermelho. Conhecida como uma das mais populares festas de celebração pública do candomblé, o festejo acontece desde 1923, quando houve uma diminuição na oferta de peixes da Vila dos Pescadores do Rio Vermelho. A tradição conta que eles pediram ajuda ao orixá, conhecida como a Rainha do Mar, e seguiram para ofertar presente para Iemanjá. A oferta foi feita no meio do mar e desde então a festa é realizada todos os anos. No dia 08 de dezembro acontece a missa de Nossa Senhora da Conceição na Igreja da Santa, no bairro do Comércio. No Rio de Janeiro, as homenagens a Iemanjá são celebradas no dia 31 de dezembro. Pois eles consideram que o novo ano é o momento de renovar os votos de fé nas águas do mar. Saudando assim Iemanjá. Em São Paulo, as homenagens a Iemanjá acontecem no dia 02 de fevereiro, pelos Candomblecistas e 08 de dezembro, pelos Umbandistas na Baixada Santista.

Iemanjá ensina a mulher a ser força, independência, cuidado consigo e com outro, domínio do seu espaço, respeito ao mistério; Iemanjá ensina a seus filhos e filhas a ter coragem e a serem, miticamente, água para burlar e ultrapassar as dificuldades. Iemanjá humaniza o mundo: adora ser mãe mesmo sem parir e quer do seu lugar de mulher rainha, se expressar no mundo e ter o reconhecimento de todos. E das outras, fundamentalmente. Toda mulher tem um pouco de Iemanjá.

Padroeira e cultuada pela Torcida Jovem do Santos, é cantada e venerada em jogos e apresentações esportivas do time, onde suas bandeiras tremulam saudando a Mãe Iemanjá.

Iemanjá é a mãe de todos os orixás e de toda a humanidade. Como peixes, somos seus filhos, lançados nas águas do mundo, lutando para sobreviver, vencendo perigos e desafios. Essa Grande Mãe Preta nos protege, nos quer fortes e independentes, prontos para fazer e assumir nossas escolhas. Iemanjá prepara nossas cabeças com discernimento e sabedoria, é a mãe que liberta e segue atenta, pronta para nos socorrer em qualquer dificuldade. A Rainha das águas, mãe preta, de seios fartos e ventre abençoado, acolhe, escuta e atende a todos, por isso se tornou a deusa de muitos nomes, de muitas cores, para atender a diversidade do nosso povo.

Odoyá Iemanjá!!!

Veja a logo do enredo:

Logo do enredo 2023 da Torcida Jovem. Foto: Divulgação
Logo do enredo 2023 da Torcida Jovem. Foto: Divulgação

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