A magia do samba na caixinha de fósforo

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Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd. Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos […]

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Odirley Isidoro

05/09/2018 | 4 min de leitura

A magia do samba na caixinha de fósforo
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Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A magia do samba na caixinha de fósforo

“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada…”
Conversa de botequim, Noel Rosa

Era o samba mais ouvido no antigo rádio de pilha na barbearia do Seo Galeão, ali nas vielas escamosas da Rua Lavapés. A tinta verde musgo das paredes do salão escorriam mais samba do que o violão tocado pelo velho Ninharada, sambista autodidata da Cabeções de Vila Prudente e que sempre dava uma passada depois do almoço pra fazer uma seresta.

Nair e Tinhorão estavam dando uma volta no Centro velho com o grande Jangada que estava de passagem pela cidade, e o Talismã, ali pra bandas das grandes galerias encontrou o Geraldo Marmita, ou Geraldo Filme para os amigos, e logo pegaram o bonde e desceram as ruelas do Cambuci.

Binho, o filho mais novo do Altair, antigo alfaiate do bairro, estava papeando na porta da barbearia e viu a turma chegando, logo, ele correu pra chamar o Seo Sinval que veio carregando umas latas velhas que tínhamos usados nas pinturas dos cortiços da Rua Conselheiro Furtado, e aí pronto, a roda estava formada.

Entre serestas e sambas antigos, alguém começou a cantarolar uma do Lupicínio Rodrigues, e pra não deixar barato, Nair, que era das altas da madrugada puxou um samba do Noite Ilustrada. Jangada, que não veio para brincadeira, pediu licença ao amigo Talismã e cantarolou:

“Se Deus deixasse voltar atrás
E eu pudesse escolher como seguir
Certamente minha opinião
Preferia solidão a lhe aderir

É um peso morto pendurado em mim
Traste que não posso me desvencilhar
É uma aranha e eu caí em sua teia
Minha alma anseia por se libertar”

Não pensei duas vezes, olhei para o Tinhorão e tínhamos certeza que éramos testemunhas de um momento único, esse samba era uma primazia e recordava muitas desventuras que a vida nos trazia e tantas madrugadas afins nos Campos Elíseos.

Sem ninguém perceber, Geraldão começou de leve a batucar uma caixinha de fósforo e a roda foi começando a tomar corpo, os baldios, os mascates e as pastoras começaram a se aproximar da barbearia e todos queriam ouvir aquele som que dava magia ao violão refinado de Talismã.

Rapidamente a noite foi ganhando traços e requintes memoráveis. Sem pestanejar a noite enluarada foi brindando o momento e a sublime poesia fora emoldurando a vida de cada um que ali estava. Não era sempre que tínhamos essa turma reunida cantando a simplicidade do mundo na porta de uma velha barbearia e os mendigos e moradores dos cortiços ajudavam no coral.

Era a nossa gente sofrida das marmitas ganhando um presente depois de mais uma semana de labuta e suor!

E assim que o sino da Igreja do Largo do Cambuci anunciou, a roda foi se desfazendo aos poucos e deixando a saudade por quem ali passou.

A notícia da roda foi se espalhando pelos cortiços da cidade durante alguns dias, os sapateiros do Largo do Café e da Praça da Sé ajudaram a história chegar mais longe e todos queriam ver o feitiço da “Caixinha de Fósforo do Geraldão”, mas roda igual a essa nunca mais se viu e o resto é lenda e história de outros Carnavais!

Homenagem especial aos sambistas Adoniran Barbosa, Batatinha, Cyro Monteiro, Elton Medeiros e ao Mestre Osvaldinho da Cuíca.

Odirley Isidoro publica mais um texto em sua coluna no portal SRzd.

Natural de São Paulo, nasceu no bairro do Parque Peruche, na Zona Norte da cidade. Poeta, escritor, pesquisador e sambista. Ao longo de sua trajetória, foi ritmista das escolas de samba Unidos do Peruche e Morro da Casa Verde, além de ser um dos fundadores da Acadêmicos de São Paulo.

As publicações são semanais, sempre às terças-feiras, na página principal da editoria do Carnaval de São Paulo. Leia, comente e compartilhe!

A magia do samba na caixinha de fósforo

“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada…”
Conversa de botequim, Noel Rosa

Era o samba mais ouvido no antigo rádio de pilha na barbearia do Seo Galeão, ali nas vielas escamosas da Rua Lavapés. A tinta verde musgo das paredes do salão escorriam mais samba do que o violão tocado pelo velho Ninharada, sambista autodidata da Cabeções de Vila Prudente e que sempre dava uma passada depois do almoço pra fazer uma seresta.

Nair e Tinhorão estavam dando uma volta no Centro velho com o grande Jangada que estava de passagem pela cidade, e o Talismã, ali pra bandas das grandes galerias encontrou o Geraldo Marmita, ou Geraldo Filme para os amigos, e logo pegaram o bonde e desceram as ruelas do Cambuci.

Binho, o filho mais novo do Altair, antigo alfaiate do bairro, estava papeando na porta da barbearia e viu a turma chegando, logo, ele correu pra chamar o Seo Sinval que veio carregando umas latas velhas que tínhamos usados nas pinturas dos cortiços da Rua Conselheiro Furtado, e aí pronto, a roda estava formada.

Entre serestas e sambas antigos, alguém começou a cantarolar uma do Lupicínio Rodrigues, e pra não deixar barato, Nair, que era das altas da madrugada puxou um samba do Noite Ilustrada. Jangada, que não veio para brincadeira, pediu licença ao amigo Talismã e cantarolou:

“Se Deus deixasse voltar atrás
E eu pudesse escolher como seguir
Certamente minha opinião
Preferia solidão a lhe aderir

É um peso morto pendurado em mim
Traste que não posso me desvencilhar
É uma aranha e eu caí em sua teia
Minha alma anseia por se libertar”

Não pensei duas vezes, olhei para o Tinhorão e tínhamos certeza que éramos testemunhas de um momento único, esse samba era uma primazia e recordava muitas desventuras que a vida nos trazia e tantas madrugadas afins nos Campos Elíseos.

Sem ninguém perceber, Geraldão começou de leve a batucar uma caixinha de fósforo e a roda foi começando a tomar corpo, os baldios, os mascates e as pastoras começaram a se aproximar da barbearia e todos queriam ouvir aquele som que dava magia ao violão refinado de Talismã.

Rapidamente a noite foi ganhando traços e requintes memoráveis. Sem pestanejar a noite enluarada foi brindando o momento e a sublime poesia fora emoldurando a vida de cada um que ali estava. Não era sempre que tínhamos essa turma reunida cantando a simplicidade do mundo na porta de uma velha barbearia e os mendigos e moradores dos cortiços ajudavam no coral.

Era a nossa gente sofrida das marmitas ganhando um presente depois de mais uma semana de labuta e suor!

E assim que o sino da Igreja do Largo do Cambuci anunciou, a roda foi se desfazendo aos poucos e deixando a saudade por quem ali passou.

A notícia da roda foi se espalhando pelos cortiços da cidade durante alguns dias, os sapateiros do Largo do Café e da Praça da Sé ajudaram a história chegar mais longe e todos queriam ver o feitiço da “Caixinha de Fósforo do Geraldão”, mas roda igual a essa nunca mais se viu e o resto é lenda e história de outros Carnavais!

Homenagem especial aos sambistas Adoniran Barbosa, Batatinha, Cyro Monteiro, Elton Medeiros e ao Mestre Osvaldinho da Cuíca.

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