Zé Paulo celebra amadurecimento, revela desafio e abre o coração: ‘Não me vejo fora da Viradouro’

Zé Paulo Sierra: Foto: Wagner Rodrigues/Unidos do Viradouro

Zé Paulo Sierra: Foto: Wagner Rodrigues/Unidos do Viradouro

Hoje com 45 anos, Zé Paulo começou a cantar em escolas de samba ao onze anos de idade. Como intérprete oficial, defendeu agremiações de tradição no Carnaval, entre elas, Estação Primeira de Mangueira, Caprichosos de Pilares, Arranco do Engenho de Dentro e Unidos da Ponte, todos no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, ela já atuou na X-9 Paulistana. Em paralelo aos desfiles, fez parte do grupo “Dose Certa” e colecionou apresentações e shows em várias regiões do Brasil.

Em 2022, Zé Paulo, que é considerado pelos sambistas como um dos destaques do segmento, vai completar oito Carnavais consecutivos comandando o time de canto da Unidos do Viradouro, atual campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Zé Paulo Sierra: Foto: Wagner Rodrigues/Unidos do Viradouro
Zé Paulo Sierra: Foto: Wagner Rodrigues/Unidos do Viradouro

Em conversa com o SRzd, o sambista, de estilo único, abriu o coração para falar de sua carreira, do samba-enredo para o próximo Carnaval, da sua relação com a comunidade da agremiação de Niterói e do seu time de canto.

SRzd: Após todos esses anos como intérprete da Viradouro, como você vê a sua relação com a escola?

Zé Paulo: Acho que a minha passagem que está sendo feita agora na Viradouro é fundamental pra minha carreira. Sempre sonhei ter essa longevidade, criar essa identidade com escola e com sua comunidade. Foi uma aposta da escola e foi uma aposta minha também, porque estive com ela no Grupo de Acesso, estou com ela no Grupo Especial e estarei com ela até quando me permitirem e até quando Deus me permitir. Não me vejo fora da Viradouro, não me vejo fazendo o que eu faço em outro lugar, é uma coisa que transcende não só o profissionalismo de você estar cantando em alguma instituição, mas é uma coisa de amor, de paixão que eu tenho pela escola e a agremiação também é recíproca comigo nesse sentimento. Eu estou muito feliz, acho que que foi o que eu sempre sonhei: estar numa escola grande, com potencial pra disputar campeonato e é o que a gente vai fazer, vamos lá brigar novamente, defender o nosso título e tentar fazer o nosso melhor pra que a gente possa buscar essa vitória novamente.

SRzd: O samba-enredo 2022 da Viradouro está sendo apontado pelos sambistas como um dos mais bonitos para o próximo Carnaval. Na sua visão, quais as principais características desta obra? Tem alguma parte da letra que mais te emociona e  considera especial?

Zé Paulo: É um samba que fala de amor, de saudade, e da vontade de rever tudo novamente. Eu brinco com  o Felipe Filósofo, um dos compositores e que é um cara totalmente espiritualizado, que não foi ele quem fez a obra,  é uma carta psicografada. Tem um lado espiritual muito grande nesse samba. Acho que a parte que mais me toca é ‘Carnaval, te amo, na vida és tudo pra mim’. Tem outras tantas frases marcantes também como: ‘Que além do infinito o amor se renove’ e ‘Não perdi a fé, preciso te rever’.

SRzd: O que você pode dizer da gravação do samba da Viradouro?

Zé Paulo: Tentamos imprimir todo o sentimento da bateria, com todo sentimento dos músicos. É é um disco especial, porque  é muito tempo sem fazer isso, por tivemos um hiato de um ano. Foi uma gravação carregada de emoção.

Zé Paulo Sierra durante desfile da Unidos do Viradouro de 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd
Zé Paulo Sierra durante desfile da Unidos do Viradouro de 2019. Foto: Leandro Milton/SRzd

SRzd: Como foi para você ficar tanto tempo longe dos palcos e da comunidade em razão da pandemia?

Zé Paulo: A gente começou a rever a comunidade durante o processo de escolha de samba. No dia 1º de outubro, após a gravação do samba-enredo na TV Globo, nós fomos pra quadra e tivemos um anúncio lá e já foi um reencontro. Agora com a volta dos ensaios a gente começa novamente a ter esse privilégio de estar com a comunidade. Mas é muito difícil, porque você deixa de fazer o que você mais ama, deixa de estar com as pessoas que você gosta. A gente vira uma família, eu tenho nove anos de contato com eles, então é doloroso pra mim e pra eles [ter ficando distante].

SRzd: Qual foi o sentimento durante os primeiros ensaio com comunidade após um longo período sem atividades?

Zé Paulo:  É um sentimento de esperança e de euforia, porque a gente estava com saudade disso, de estar ali está ensaiando. As vezes a gente até reclama de tanto ensaio, porque lá a gente ensaia muito, mas vimos o quanto fez falta neste período que vivemos afastados. É esperança, retomada, vibração, positividade e de muita vontade de trabalhar, que é o que a gente vai fazer. 

SRzd: Como você avalia seu atual momento profissional como voz oficial da Viradouro?

Zé Paulo: Meu atual momento é de amadurecimento total. Continuo a buscar novos desafios e o samba da Viradouro 2022 é um novo desafio. Ele é muito bonito. O desafio é manter essa beleza de não perder ponto na execução desse samba. Acho que a gente tem que estar buscando sempre isso, o amadurecimento constante.

Intérprete Zé Paulo Sierra no desfile da Unidos do Viradouro 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias
Intérprete Zé Paulo Sierra no desfile da Unidos do Viradouro 2018. Foto: SRzd/Juliana Dias

SRzd: O que mudou no Zé Paulo de hoje, para o Zé Paulo que cantou a primeira vez na Avenida?

Zé Paulo: Muita coisa. A única coisa que não muda é a vontade. A questão técnica mudou tudo, é uma nova percepção, não digo nem do início da minha carreira, eu falo de quatro anos pra cá, muita coisa já mudou. Todo ano eu tiro um pouco de aprendizado, ouço muitas coisas, vejo, leio e busco aprimorar coisas que as vezes eu não estou percebendo, mas tem gente de fora que está notando. Estou sempre buscando o aprendizado e buscando melhorar, mas do início da carreira mudou tudo, menos a vontade.

SRzd: Carnaval é uma festa coletiva. Você valoriza muito o trabalho dos profissionais que atuam a seu lado. Fale um pouco do time de canto que te acompanha no carro de som.

Zé Paulo: Eu procuro valorizá-los o máximo possível porque ei já fui um deles, né? Sei o quanto é difícil ser apoio. Cantar samba-enredo é muito difícil, como apoio então, é bem complicado, porque determinados lugares os sons não são muito bons e a dificuldade de se ouvir cantando é muito grande, então você tem que se ouvir, cantar certo e saber que você precisa dar apoio pro cantor principal. São pessoas que tem que ser muito valorizadas. Meu carro de som está fechado, praticamente é o mesmo carro de som desde quando a gestão nova assumiu. Os mais antigos que estão junto comigo é o Robertinho e o Mateus. Robertinho é cria da Virando Esperança, escola mirim da Viradouro, um cavaquinista de primeira linha e o Mateuzinho que estava já no carro de som cantando quando cheguei e continua até hoje. Fomos buscando opções durante esse período, a gente trouxe o Celino Dias, o Ronaldo Ylê ,o Zé Paulo meu xará e o Guto, já são quatro anos com a mesma formação sob a direção do maestro Jorge Cardoso. Também temos o Hugo Bruno, que é um dos melhores cavaquinistas do Brasil, com afinação de bandolim e agora chegou o Rodrigo pra fazer violão de sete cordas. É um carro de som que não se mexe muito, até porque a gente tem essa convicção na escola de que o time está ganhando não se mexe, só só aprimora. Esse time merece todo o meu apoio, meu crédito e a minha reverência, porque são grandes cantores, dois ainda não muito conhecidos, como o Guto e o Mateus, mas os outros três são muito tarimbados. São caras que estão fechados comigo e eu fechado com eles.

Zé Paulo Sierra. Foto: SRzd/Eliane Pinheiro
Zé Paulo Sierra. Foto: SRzd/Eliane Pinheiro

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