‘Vivemos em um desgoverno. Impossível não protestar’, diz João Vitor sobre desfile do Tuiuti

João Vitor Araújo. Foto: Ewerton Pereira/Divulgação

O Paraíso do Tuiuti mudou de carnavalesco, mas não mudou sua principal característica. A crítica permanece na escola e virá de forma explícita no último setor do desfile, quando a agremiação clama a São Sebastião para tirar as mazelas do Rio de Janeiro.

E se engana quem pensa que o protesto se restringe à esfera municipal. Para João Vitor Araújo, carnavalesco que estreia na agremiação em 2020, o caos político é tão grande no Brasil que é ‘impossível não protestar’.

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“Carnaval é um ato político. A partir do momento que, numa situação como essa, que você vive num desgoverno federal, estadual e municipal, botar um Carnaval na rua já é um ato político. A gente tem um prefeito que vive atrapalhando a vida das escolas, da cultura num modo geral. Corre risco da gente estar com o Carnaval pronto e não poder desfilar”, afirmou João Vitor.

Os problemas do Rio de Janeiro, como saúde, educação, violência e o não investimento adequado no setor cultural serão lembrados no fim da apresentação da escola, que será a quarta a desfilar no domingo de Grupo Especial.

“Quando você decide falar de São Sebastião, padroeiro do Tuiuti e da cidade do Rio de Janeiro, é óbvio que você não pode deixar de clamar ao santo para que ele tire essas flechas do nosso peito, do nosso caminho. Nossa cidade já está sendo tão vilipendiada, que é impossível você não falar e protestar”, disse o carnavalesco.

Desfile Paraíso do Tuiuti 2019. Foto: Juliana Dias/SRzd

Este será o terceiro Carnaval em que o Tuiuti traz crítica política. Em 2018, a escola conseguiu o vice-campeonato ao falar da escravidão, inclusive em tempos atuais, com direito a carteiras de trabalho rasgadas e o ex-presidente Michel Temer de ‘vampirão’. Ano passado, a agremiação contou a história de um bode que foi eleito vereador como forma de protesto da população.

A proposta do Tuiuti para 2020 é fazer uma relação entre Dom Sebastião, Rei de Portugal, e São Sebastião, padroeiro do Tuiuti e da cidade do Rio de Janeiro. O enredo tem o título de ‘O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião’. O carnavalesco explicou um pouco do tema ao SRzd:

“É mais que um enredo, é uma forma de cantar na Avenida o padroeiro da nossa cidade e da nossa escola: São Sebastião, a quem Dom Sebastião, o Rei de Portugal, é consagrado. O rei e o santo estão unidos por uma série de coincidências. Entre elas, uma data, a de 20 de janeiro. Aqui no Brasil, o mito de Dom Sebastião é cultuado nos batuques e nas encantarias do Maranhão. A figura mística do rei também foi revivida em movimentos populares. Que é um dos setores que eu mais gosto do nosso desfile, especialmente no Nordeste, como a Guerra de Canudos e o massacre da Pedra Bonita. Mas, acima de tudo, o rei e o santo nos guiam por uma eterna procura a essa terra encantada sem males, que é essa busca pelo povo sebastiana. A nossa mensagem com esse enredo é que Sebastião, um só espirito, representa a busca do povo pelo seu próprio rumo, por isso evocamos nosso padroeiro para tirar todas as flechas do nosso caminho.”







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