Viradouro 2020: Escola levanta Sapucaí em desfile arrebatador e entra na disputa pelo título

Desfile da Viradouro 2020. Foto: RioTur

Por Bernardo Laranja e João Carlos Martins

Para vestir ouro

Em seu segundo ano de volta ao Grupo Especial, a Unidos do Viradouro mostrou que não apenas está consolidada entre a elite do samba carioca, mas também almeja um título que não vem há mais de 20 anos. Com samba-enredo contagiante, carros luxuosos e componentes animados, a agremiação levantou a Sapucaí com o enredo “Viradouro de Alma Lavada”, desenvolvido por Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon. Em uma de suas únicas falhas, a escola apresentou problemas com a iluminação do último carro, que passou apagado pela Avenida. Apesar disso, mostrou que o vice-campeonato em 2019 não foi sorte de recém chegada ao Grupo Especial, e está determinada a retornar no próximo sábado vestindo ouro.

Fala, Rachel!

“Muito bom desfile. O samba bem cantado, embora em andamento muito acelerado, funcionou muito bem. A parte plástica esteve impecável, mas tinha um quê de ostentação que incomoda, principalmente num carnaval de aperto financeiro como este. Sobrou em luxo o que faltou em emoção. Ainda assim, foi um desfile impactante, forte candidato ao título”.

Fala, Luiz!

“Uma grata satisfação, a Viradouro foi plasticamente impecável. Fantasias e alegorias não têm nota que não seja 10. Só um detalhe, às vezes o excesso de dinheiro não te impulsiona a criar. Acho que faltou criatividade em algumas alegorias. Quem tiver que ganhar, vai ter que ganhar da Viradouro, sem dúvida, mas faltou aquela coisa da emoção, faltou o arrepio”.

Comissão de frente

Um dos destaques do desfile, a comissão de frente da Unidos do Viradouro arrancou fortes aplausos na Avenida. O público da Sapucaí correspondia à altura encantada com a apresentação do grupo. Pela segunda vez com Alex Neoral à sua frente, a comissão “Velhos Areais de Nossas Ancestrais” trouxe as zungueiras-lavadeiras com um tripé grande e dourado.

Em determinado momento, as lavadeiras retiram sua roupa marrom e exibem uma roupagem colorida. O gesto simples já arranca aplausos do público da Sapucaí. Em seguida, as integrantes sobem no tripé. Em cima do elemento alegórico, uma integrante retira a parte de cima de sua roupa e a estrutura de cima do tripé desce para revelar um grande aquário onde a integrante se transforma em uma sereia.

O efeito funcionou e a Sapucaí correspondeu com aplausos e gritos ao início do desfile da agremiação vermelha e branca. Emocionante, a comissão foi um dos grandes destaques da passagem da escola de Niterói pela Avenida.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Julinho e Rute Alves, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos do Viradouro, mostraram sincronia e experiência ao bailarem pela Avenida. Vestidos de “Sol para a Liberdade”, a fantasia em tons de vermelho e dourado foi carregada de luxo e brilhantes, assim como o resto da escola que passou com muito requinte pela Sapucaí. Destaque para o mestre-sala Julinho que chamou atenção pela empolgação ao dançar na Avenida.

Para a comentarista do SRzd Eliane Souza, a experiência do primeiro casal foi um destaque e os outros casais também fizeram uma bela performance:

“O experiente casal da Viradouro, Julinho e Rute, em movimentos sincronizados, percorreu a passarela com a naturalidade dos veteranos que dominam o bailado. Houve interação com o público e a potência da dança do mestre-sala unida à expressividade da porta-bandeira brindou a todos com uma poética de movimentos no espaço cênico. Destaco a bonita performance do terceiro casal Diego e Gislaine, e a leveza do segundo casal Jefferson e Amanda, que com simpatia e segurança passaram pela avenida”.

Alegorias e adereços

Com luxo de sobra, o conjunto alegórico da Viradouro impressionou no tamanho, acabamento e requinte. A escola trouxe para a Avenida 6 carros alegóricos e 3 tripés, todos com muito luxo e condizentes com o enredo. Destaque para o carro abre-alas que vinha nos tons dourados do primeiro setor e apresentava acabamento impecável. A alegoria impressionou na Sapucaí, apesar de algumas escadas esquecidas em partes escondidas de sua estrutura.

Um dos únicos pontos negativos do desfile, entretanto, foi o problema que a escola enfrentou com a iluminação do último carro. No início, a luz oscilou em alguns momentos, mas na maioria do desfile a alegoria passou completamente apagada. Um dos destaques do carro, que era um pano de LED puxado pela escultura de uma ganhadeira de Itapuã, perdeu seu efeito ao passar apagado.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto alegórico da Viradouro levou um trabalho impecável para a Sapucaí:

“As alegorias apresentaram um trabalho plástico impecável, coerente e de fácil leitura com o enredo proposto. Os adereços também obedeceram a mesmo coerência. Plástica limpa e com mensagem direta. Bom conjunto”.

Fantasias

As fantasias da Unidos do Viradouro seguiu a linha das alegorias da agremiação ao apresentar um conjunto luxuoso e de acordo com o enredo proposto. Com muito uso de cores brilhantes e chamativas, o destaque ficou para a ala de baianas que passou pela Avenida com uma fantasia de “Baianas Quituteiras” que levava uma iluminação vermelha em sua estrutura. Destaque para a grande quantidade alas coreografadas e grupos cênicos.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, a escola fez um bom trabalho na utilização de materiais para levar um conjunto de fantasias que impressiona:

“A Agremiação apresentou um trabalho plástico de alta qualidade, com transições de cores e tons de vermelho de maneira bem harmoniosa. O uso das penas artificiais foram um trunfo no uso dos costeiros e cabeças. Com uma plástica sensível e homogênea, o desfile foi recheado de diversificação de materiais em seus acabamentos, o que possibilitou leituras fáceis e visualmente suaves. Conjunto impecável. Destaque para o bom desenvolvimento das composições.”

Enredo

“Viradouro de Alma Lavada” foi o enredo desenvolvido por Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon para o desfile de 2020 da escola niteroiense. A dupla chegou à agremiação depois de um desentendimento da escola com o carnavalesco antigo, Paulo Barros, que levou a vermelha e branco ao vice-campeonato em 2019.

No entanto, se manter o nível da escola poderia ter sido um desafio, a dupla conseguiu superá-lo de forma brilhante ao entregar um Carnaval bem desenvolvido e de fácil leitura na Sapucaí. As alegorias e fantasias trabalharam muito bem com o samba-enredo para contar a história das Ganhadeiras de Itapuã e impressionou na Avenida.

Samba-enredo

A obra da Viradouro divide a opinião do público. Enquanto uns amam, outros acham o samba apenas razoável e funcional para desfile. A verdade é que, na Sapucaí, a obra passou como um trator. Contagiou componentes e arquibancadas, que cantaram a plenos pulmões o verso do “ensaboa” e o refrão principal.

Zé Paulo, cada vez mais identificado com a escola, mostrou que está no auge da carreira. Aula de interpretação e levada do samba que já é um dos grandes hits do Carnaval 2020.

Bateria

Em seu segundo ano na vermelho e branco, mestre Ciça deu um show ao comandar uma bela apresentação da Furacão Vermelho e Branco na Avenida. O andamento foi bem desempenhado e ajudou o samba a crescer na Avenida. A rainha Raíssa Machado veio de “Rainha Malê” com fantasia nos tons da escola. Um grande destaque da apresentação foi a estrutura levada junto à bateria de um tambor cenográfico que trazia duas rimistas escondidas dentro dele. No momento da apresentação, o tambor se abria e as duas ritmistas eram elevadas.

Para o comentarista do SRzd Cláudio Francioni, a bateria da Unidos do Viradouro teve um bom desempenho na Avenida:

“A Furacão Vermelho e Branco fez um bom desfile. O andamento mais acelerado característico do lendário Ciça casou perfeitamente com o samba da escola. A bateria fez ótima apresentação em frente ao último módulo de julgadores, quando executou perfeitamente a levada rítmica e as bossas, com destaque para a convenção onde duas ritmistas eram elevadas para o alto de um tambor cenográfico tocando seus timbales”.

Harmonia

Passagem de excelência da Viradouro. Difícil destacar alas que cantaram mais devido a tamanho volume espalhado por toda escola. Mais difícil ainda identificar algum componente que não soubesse o samba da agremiação. Carro de som e bateria brincaram na Avenida e escola teve na parte musical um de seus grandes trunfos. Destaque para o bom despenho do samba para contagiar a Sapucaí.

Evolução

Muito bem organizada e dirigida pelos diretores, a Viradouro manteve um ritmo constante de desfile, sem acelerar ou retardar o passo. Alas extremamente alinhadas e ao mesmo tempo soltas, com os componentes livres para evolução. Único ponto é que, talvez pelo tamanho e volume de alguns figurinos, o desempenho natural de alguns integrantes pode ter ficado comprometido.

Um pequeno clarão entre o carro cinco e a ala da frente aconteceu em frente ao módulo dois, mas é algo que pode ser facilmente descartado na apuração. A escola terminou seu desfile com tranquilidade, bem antes do limite de tempo máximo permitido.

Ficha técnica

Enredo: “Viradouro de Alma Lavada”
Presidente: Marcelo Calil Petrus Filho
Carnavalesco: Marcus Ferreira e Tarcisio Zanon
Intérprete: Zé Paulo Sierra
Mestre de Bateria: Ciça
Rainha de Bateria: Raissa Machado
Comissão de Frente: Alex Neoral
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Julinho e Rute Alves

Nota da galera

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