Vigário Geral 2020: Escola surpreende com crítica política, mas apresenta falhas em alegorias
A verdade do Vigário
Pela primeira vez no desfile das escolas de samba da Série A, a Acadêmicos de Vigário Geral mostrou que veio disposta a permanecer no grupo ao mostrar a “farsa” na história do Brasil, desde seu descobrimento até hoje. Ponto alto do desfile, seu enredo crítico à classe política trouxe para a Sapucaí elementos que remetiam diretamente ao governo atual do país, como um tripé ao fim do desfile com um palhaço de faixa presidencial que fazia gesto de arma com as mãos. Além da proposta trazida pelos carnavalescos Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales, a vermelha, azul e branco também se destacou pelas suas fantasias que apresentaram um bom resultado na Avenida. Apesar disso, a escola não agradou na plástica das alegorias, além de enfrentar problemas na dispersão de seu abre-alas que afetaram a evolução da agremiação.
Fala, Rachel!
“Quem apostou que Vigário Geral subiu para descer teve uma surpresa. A escola surpreendeu. Primeiro, pelo tamanho. Muita gente, e gente animada. Apesar do samba, que de fato deixou a desejar. As alegorias tinham boa concepção, mas péssima execução. A comissão de frente teve muita comunicação com o público.”
Fala, Luiz!
“Sem dúvidas fez um belo desfile. Um detalhe a ressaltar é o enxerto. A escola veio toda enxertada, foi um grande replay do que a gente viu no ano passado, especialmente do grupo especial. Eu acho muito mais digno fantasias que foram feitas para esse desfile. A Vigário me surpreendeu, apesar de não estar cantando tanto, mas se desenvolveu bem pra quem tá vindo da Intendente.”
Comissão de frente
Um dos pontos altos do desfile da Acadêmicos de Vigário Geral foi sua comissão de frente. O grupo coreografado por Handerson Big pareceu agradar o público que respondeu bem à interação dos dançarinos com a plateia. Com a fantasia “O conto do Vigário nosso de cada dia”, os integrantes vieram com roupas brancas e representaram ovelhas guiadas por um padre, de modo a criticar a forma como políticos manipulariam a população.
Em determinado momento, o tripé que simbolizava uma homenagem religiosa vira ao contrário e os integrantes vestidos de ovelhas assumem roupas nas cores da bandeira do Brasil e erguem panelas em referência à manifestação conhecida como “panelaço”. Nesse momento, os dançarinos levantavam cartazes em que se liam frases como “Meu partido é o Brasil”, “Não temos culpa pela escravidão” e “Não à ideologia de gênero”, em alusão a dizeres do governo atual. Depois de um momento, levantam-se cartazes escritos “Interceptamos” e o padre, antes adorado, é preso ao som de aplausos do público.
Segundo Marcio Moura, comentarista do SRzd, a comissão da Acadêmicos de Vigário Geral levou a marca de seu coreógrafo e agradou o público:
“Handerson Big traz uma comissão de frente muito irreverente, animada e com uma teatralidade que é marca de seu trabalho. Um vigário como pivô, à primeira vista, poderia parecer cair no lugar comum do enredo. Mas Big subverte essa representação e arranca aplausos em todas as apresentações. Ponto alto da escola”.
Casal de mestre-sala e porta-bandeira
Jefferson Gomes e Paulinha Penteado, mestre-sala e porta-bandeira da vermelho, azul e branco, vieram na Avenida com a fantasia “Cruzeiro do sul”, em referência à constelação que guiava os portugueses em suas navegações. Com tons de azul e branco e brilhantes, a fantasia no entanto pareceu não aguentar a forte chuva que caiu na Sapucaí antes do desfile e deixou plumas da saia da porta-bandeira na Avenida nas apresentações dos últimos setores.
Para Eliane Souza, comentarista do SRzd, o casal da Acadêmicos de Vigário Geral apresentou uma boa performance com costumes do samba paulistano:
“O casal trouxe para o desfile carioca a graça e a cortesia do bailar o samba com marca paulistana. Movimentos gentis e harmoniosos na execução do bailado revelando sintonia e cumplicidade. Por causa da pista molhada, a dupla foi cautelosa durante a performance, mas esbanjou simpatia, interagindo com o público durante o percurso. Jefferson Gomes e Paula Penteado exibiram de forma sútil na passarela um deslizar calmo, com sua maneira singular de evoluir e de bailar durante todo o desfile, conforme o costume do samba paulistano”.
Alegorias e adereços
Com três carros alegóricos e um tripé, o conjunto de alegorias da agremiação foi um de seus pontos negativos do desfile. Apesar do abre-alas “Em busca do Eldorado” grande e de boa plástica, o resto do conjunto alegórico deixou a desejar em diversos aspectos.
Um destaque ficou para o tripé que veio ao fim do desfile em uma alusão ao presidente Jair Bolsonaro. A alegoria trazia a figura de um palhaço vestido com faixa presidencial que representava gestos de armas em suas mãos e foi seguida pela última aula do desfile da Acadêmicos de Vigário Geral, intitulada “Carnaval também é protesto”.
Segundo o comentarista do SRzd Wallace Safra, as alegorias foram o ponto negativo do desfile da vermelho, azul e branco:
“A escola deixou a desejar na plástica, nos acabamentos e na diversificação para melhor leitura do enredo”.
Fantasias
Apesar do conjunto de alegorias, as fantasias da Acadêmicos de Vigário Geral vieram exuberantes e mostraram um bom trabalho em acabamento e utilização de materiais. Com cores vibrantes, as roupas eram de fácil leitura para o público e foram um grande destaque do desfile. As baianas vieram vestidas de “A idealização do paraíso”, com fantasia em tons de azul e laranja que se destacou no conjunto.
Embora tenha agradado visualmente, chama a atenção o fato da grande quantidade de fantasias adaptadas de desfiles do Carnaval de 2019, especialmente de escolas do Grupo Especial. Apesar da prática não ser novidade na Avenida, a quantidade de vezes utilizada acaba deixando a desejar no quesito originalidade.
Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, o resultado apresentado na Avenida foi extremamente positivo:
“Fantasias estavam extremamente adequadas, cuidadosas, com acabamentos regulares e plasticamente bons à proposta, possibilitando um bom resultado final. Os carnavalescos tiveram a preocupação em todos os setores apresentando um trabalho homogêneo e coerente. O uso de espumas e plumagem artificiais foram uma boa aposta. A escola explorou muitos materiais e usou e abusou de diversos materiais em seus acabamentos. Destaque das fantasias da ala 17 “A vaca foi pro brejo” e da Rainha de Bateria da Escola, Egili Oliveira, que apresentou um figurino impecável.
Enredo
O enredo de Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales trouxe “O Conto do Vigário” em uma crítica à classe política do Brasil, desde o seu descobrimento até os dias de hoje. A escola buscou condenar a imagem de um “salvador” que viesse “nos resgatar de problemas sociais e financeiros”, como fala na sinopse de seu enredo.
Se, por um lado, algumas alegorias poderiam dificultar a leitura do enredo na Avenida, a performance da comissão de frente e as fantasias ajudaram a transmitir a mensagem pela Sapucaí. Com claras críticas à política do país no decorrer de sua história, a escola seguiu a tendência dos últimos anos que, cada vez mais, apresenta enredos críticos em âmbitos sociais e políticos.
Samba-enredo
O samba-enredo da Acadêmicos de Vigário Geral não estava entre os destaques do conjunto de obras do Carnaval de 2020, mas, apesar disso, teve um desempenho regular na Avenida. Interpretado por Tem Tem Jr, “O Conto do Vigário” pode não ter contagiado o público presente, mas seu refrão foi ouvido durante a passagem da escola da Avenida, o que é já é uma boa notícia para uma escola recém chegada à Série A.
Bateria
Em seu primeiro ano comandada pelo mestre Luygui, a “Swing Puro” fez uma boa performance e mostrou um bom andamento na Sapucaí. Os ritmistas vestidos de “A dignidade de um povo que pede liberdade” vieram com roupas de estampa africana em tons de verde, amarelo e branco. O destaque ficou para a rainha de bateria Egili Oliveira que interagiu com o público enquanto desfilava carismática pela Avenida vestida de “O desejo de liberdade” em tons de azul claro e bege.
Para o comentarista do SRzd Bruno Moraes, a performance mostrou um bom primeiro ano do mestre Luygui na agremiação:
“Grande estreia do Mestre Luygui! A bateria da Vigário passou com um andamento firme, bossas precisas e andamento pra cima. Usou e abusou das bossas em todos os módulos de julgamento”.
Harmonia
Quem esperava uma escola pequena recém chegada da Série B se surpreendeu com o tamanho e emoção dos componentes da Acadêmicos de Vigário Geral. Apesar do samba que deixava a desejar, seu refrão simples funcionou bem na Avenida, tanto para os componentes, como para o público. O bom desempenho da bateria ajudou a manter o samba num ritmo animado que se manteve durante a apresentação da escola.
Evolução
Apesar de não ter apresentado grandes buracos e ter feito um bom início de desfile, a Acadêmicos de Vigário Geral não conseguiu manter a boa evolução no decorrer de sua passagem pela Avenida. A escola enfrentou problemas técnicos na dispersão com o carro abre-alas que afetaram diretamente a evolução da escola, que encerrou seu desfile apenas 2 minutos antes dos 55 permitidos para as escolas da Série A.
Ficha técnica
Enredo: “O Conto do Vigário”
Presidente: Elizabeth da Cunha
Carnavalesco: Alexandre Costa, Marcus do Val e Lino Sales
Intérprete: Tem Tem Jr
Mestre de Bateria: Luygui
Rainha de Bateria: Egili Oliveira
Comissão de Frente: Handerson Big
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Jefferson Gomes e Paulinha Penteado
Nota da galera
A cobertura dos desfiles do Carnaval RJ do SRzd tem o apoio de:
Comentários