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Tuiuti apresenta sinopse e terá samba encomendado no próximo Carnaval

Na noite da última sexta-feira (12) a diretoria da Paraíso do Tuiuti anunciou que não haverá disputa de samba-enredo este ano. A obra será feita por três compositores oriundos da escola, Dona Zezé, Aníbal e Jurandir e outros dois consagrados do gênero, Moacyr Luz e Cláudio Russo.

A ideia, além de premiar três figuras históricas da ala de compositores da escola, visa garantir ainda mais qualidade à música que contará o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.

Um tema referente aos 130 anos de assinatura da Lei Áurea, que será completada no ano que vem. O samba-enredo tem previsão de ser apresentado no mês de agosto.

Além disso, a agremiação disponibilizou a sinopse e o logo oficial para o Carnaval 2018. Confira:

Logo Paraíso do Tuiuti

Carnaval 2018
MEU DEUS, MEU DEUS, ESTÁ EXTINTA A ESCRAVIDÃO?

Velha companheira de caminhada da Humanidade.
A ideia de superioridade, divina ou bélica, cobriu-a com o manto do poder.
Pela força ergueu impérios e sustentou civilizações.
Pela alienação justificou injustiças e legitimou a discriminação.
Ganhou nome quando eslavos viraram ‘escravos’ nas mãos dos bizantinos.
Dominou mundo afora, invadiu terras adentro, expandiu a ganância mercantilista e fez da exploração do continente negro seu maior mercado.
Viu senhores mouros do norte africano ostentarem servos de pele alva e olhos azuis mediterrâneos, enquanto negociavam artigos de luxo e peças de ébano.
Cativou povos, devastou territórios, extraiu riquezas do solo e de animais em nome de coroas europeias.
Era rentável negócio até para chefes negros que a alimentavam com gente de sua gente.
Levou uma raça a oferecer-lhe da própria carne.
Separou famílias, subjugou reis, aprisionou guerreiros, reduziu seres humanos a mercadorias.
Calunga Grande muito ouviu os lamúrios dos Tumbeiros abarrotados em sua ordem.
Calunga Pequena muito acolheu os vencidos pela sua sentença.
Plantou seus filhos em nossos canaviais, cafezais e minas de ouro e diamantes.
Lavou com sangue negro o chão das senzalas e os pés-de-moleque das cidades.
Foi senhora de todos os senhores, mãe das sinhás, amante dos feitores.
Marcou com ferro os que ousavam lhe renegar, levantar a cabeça.
Perseguiu os de alma indomável que corriam ao encontro do sonho quilombola.
Quimeras da liberdade de uma raça pirraça fortificadas entre serras e matas que teimavam lhe enfrentar.
Porém, as eras de prática envenenaram até as mais legítimas das lutas quando expuseram suas raízes humanas nos quilombos.
Provocou precisa e astuta fusão entre crenças apadrinhadas pela fé, amparo do rosário das desventuras nesse benedito logradouro.
Coroou santos reis e sagradas rainhas ao som de louvores batucados. Fitas da linha do tempo presente e passado. Espelhos da ancestralidade.
Ouviu os ventos soprados de longe que ressoaram brados iluminados de liberdade pelas paragens brasileiras.
Abolir-te foi palavra de ordem.
Utopia e justiça para uns. Falência e loucura para outros. Caminho sem volta para muitos.
“O homem de cor” ganhou voz pelas ruas, força nos punhos da população, para além das leis parcialmente libertadoras.
Contudo, mesmo enfraquecida, sobrevivia sob a égide dos grandes latifundiários e nas vistas grossas da hipocrisia.
Ferida com a ponta afiada da pena de ouro que a áurea princesa empunhou ao assinar sua redentora extinção, maquinada por uma sedenta revolução industrial de sotaque inglês, caiu.
Uma voz na varanda do Passo ecoou:
– Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão!
Folguedos, bailes, discursos inflamados e fogos de artifício mergulharam o povo em dias de êxtase e glória.
Pão e circo para aclamação de uma bondade cruel, pois não houve um preparo para a libertação e ela não trouxera cidadania, integração e igualdade de direitos.
Mais viva do que nunca, os aprisionou com os grilhões do cativeiro social.
Ainda é possível ouvir o estalar de seu açoite pelos campos e metrópoles.
Consumimos seus produtos.
Negligenciamos sua existência.
Não atualizamos sua imagem e, assim, preservamos nossas consciências limpas sobre as marcas que deixou tempos atrás.
Segue vivendo espreitada no antigo pensamento de “nós” e “eles” e não nos permite enxergar que estamos todos no mesmo barco, no mesmo temeroso Tumbeiro, modernizando carteiras de trabalho em reformadas cartas de alforria.

Jack Vasconcelos
carnavalesco

Bibliografia consultada:
LOVEJOY, Paul E., A escravidão na África, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
MOURA, Clovis, Dicionário da escravidão negra no Brasil, São Paulo: Edusp, 2004.
NABUCO, Joaquim, O Abolicionismo, Brasília: UnB, 2003.
NARLOCH, Leandro, Guia politicamente incorreto da história do Brasil, São Paulo: Leya, 2009.
PATTERSON, Orlando, Escravidão e morte social – Um estudo comparativo, São Paulo: Edusp, 2009.
PÉTRÉ-GRENOUILLEAU, Olivier, A história da escravidão, São Paulo: Boitempo, 2009.
PINSKY, Jaime, A escravidão no Brasil, São Paulo: Contexto, 2000.
SALLES, Ricardo; MARQUESE, Rafael, Escravidão e capitalismo histórico no século XIX – Cuba, Brasil e Estados Unidos, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
VERGER, Pierre, Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo de Benin e a Bahia de Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX, 2ª edição, Salvador: Corrupio, 1987.

 

Redação SP

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