Tuiuti 2020: Samba não funciona e escola faz desfile fraco, mas com boas alegorias

Por Bernardo Laranja e João Carlos Martins

Longe do paraíso

Quarta escola a desfilar no primeiro dia do Grupo Especial (24), Paraíso do Tuiuti levou o enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião”, de João Vitor Araújo, para a Sapucaí em desfile fraco que a deve colocar longe das primeiras colocadas. Um ponto alto do desfile foi a boa plástica de seu conjunto alegórico e a boa performance do casal de mestre-sala e porta-bandeira. O samba-enredo, no entanto, não empolgou a Avenida, o que acarretou em problemas para a escola na parte de harmonia. Além disso, a azul e amarelo teve que correr ao fim do desfile e fechou o portão cravado nos 70 minutos permitidos, mas prejudicou sua evolução.

Fala, Rachel!

“A Paraíso do Tuiuti passou fria como um iceberg. Onde está a escola vibrante que arrebatou o público há dois carnavais? O samba deste ano redundou em monotonia insuportável. A escola se arrastava sem animação e a comunicação do enredo com o público não aconteceu”.

Fala, Luiz!

“O samba não aconteceu e a escola ficou um pouco arrastada. Foi plasticamente bem, o trabalho do João Vitor é sempre muito caprichoso. Mas, faltou alguma coisa daquele grande Tuiuti de dois anos atrás. Acho que Tuiuti não está entre as seis melhores, mas também não está brigando pelas últimas colocações. Não foi um grande Carnaval realmente do Paraíso do Tuiuti.”

Comissão de frente

Pela primeira vez com Márcio Moura à sua frente, a comissão de frente Paraíso do Tuiuti levou uma síntese de seu enredo para a Avenida: o encontro entre o Sebastião santo e o Sebastião rei. “Um Sebastião não falha!” trouxe componentes que manipulavam bonecas que representavam grandes nomes femininos conhecidos pela comunidade da escola. As bonecas, muito realistas, interagiam com outros componentes em uma representação da procissão que ocorre todo dia 20 de janeiro.

Em certo momento, surge um boi que sobe as escadas do tripé que acompanha a comissão. O tripé representa o morro do Tuiuti e leva uma estrutura fechada em seu topo. Quando o boi sobre, flores desabrocham na lateral do tripé e a estrutura se abre revelando São Sebastião flechado em um tronco. Quando o boi se encontra com o Santo, ele se abre e revela o Rei Dom Sebastião no encontro entre os dois protagonistas do enredo.

Sebastião rei tira, então, as flechas do peito de Sebastião santo e os dois se viram para assistir à apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira. A apresentação tem um bom desempenho na Avenida e proporciona uma fácil leitura do enredo para o público.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Um dos destaques do desfile da Paraíso do Tuiuti foi Marlon Flores e Danielle Nascimento, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. A dupla fez uma bela apresentação em seu segundo ano na escola, com harmonia e leveza. Vestidos de “Dom João Manuel e Princesa Joana da Áustria”, a fantasia em tons de azul prata e dourada chamou atenção pelo bom acabamento.

Para a comentarista do SRzd Eliane Souza, o casal fez uma ótima performance na Sapucaí:

“Marlon Flores realizando seus movimentos obrigatórios de maneira segura e com suavidade, conduziu a dança e porta-bandeira utilizando com maestria o bastão. De forma fluente, em harmonia no espaço cênico e interagindo com o público, o casal dançou durante todo o percurso e apresentou o pavilhão aos julgadores, numa performance plena de alegria e espontaneidade. Daniele Nascimento, herdeira do bailado ancestral, em nuances personalíssimas realizou seus passos obrigatórios em perfeita sintonia com a coreografia de seu par, deixando evidenciada a cumplicidade na dança que promoveu a realização de uma sequência de movimentos equilibrados e contínuos”.

Alegorias e adereços

Outro ponto forte do desfile da agremiação foi seu conjunto alegórico que impressionou pela plástica bem trabalhada. Com 5 carros e 2 tripés, as alegorias contaram bem a história do enredo e mostraram uma boa utilização dos materiais para entregar um trabalha com bom acabamento e estética satisfatória.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto alegórico foi homogêneo, mas com um resultado regular:

“Com um abre alas imponente a escola conseguiu impor um bom padrão de alegorias harmonioso, coerente e forte. A repetição de alguns elementos poderiam ter sido melhor trabalhados, mas em nada comprometeu a plástica. Conjunto bom e dentro do enredo”.

Fantasias

As fantasias da Paraíso do Tuiuti, assim como o conjunto alegórico, apresentaram uma boa plástica, misturando cores vibrantes e soluções criativas. Entretanto, alguns problemas de acabamento puderam ser percebidos, como na sexta ala em que o pano que simulava o mar apresentava rasgos. A falha, no entanto, não comprometeu o belo efeito visual, característica inclusive que perpassou todas as fantasias da escola, mas denotam um mau acabamento. Destaque para as baianas com uma bela fantasia em tons de azul e para vigésima nona ala que, coreografada, encenou a procissão de São Sebastião belamente.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, a diversidade foi o ponto alto do conjunto de fantasias da Tuiuti:

“A Escola apresentou um conjunto de fantasias diverso, complexo, com uma grande quantidade de materiais em acabamento, possibilitando em alguns momentos leituras diferentes sobre o mesmo figurino. O Carnavalesco apresentou muitas saídas inteligentes para o uso se muitos materiais com o as plumas artificiais e as espumas em formatos diferenciados. Plástica e conjunto regular”.

Enredo

Pela primeira vez na Paraíso do Tuiuti, João Vitor Araújo desenvolveu o enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião” para o Carnaval de 2020 da Paraíso do Tuiuti. A proposta foi cruzar a história de São Sebastião, santo padroeiro da cidade do Rio, com a história voltada em mística de Dom Sebastião. As trajetórias foram bem mostradas na Avenida, com o auxílio de alegorias e fantasias que dialogavam bem com o enredo.

Samba-enredo

A obra do Tuiuti não figura entre as melhores do ano, mas também não fica na parte de baixo do ranking de sambas de enredo de 2020. A composição possui boa letra e melodia e construções ousadas e inteligentes, com exploração de refrões. Na Avenida, porém, o samba se deu de forma arrastada e cansativa, ficando longe da funcionalidade que as obras da azul e amarela tiveram nos dois últimos carnavais. Apesar disso, é louvável o desempenho e esforço do carro de som e da bateria.

Bateria

A bateria do mestre Ricardinho teve uma boa performance na Avenida. Com os ritmistas vestidos de “O exército de encantados”, chamou atenção a presença de Jullia Farias como princesa de bateria, posto raro atualmente. Com a fantasia “Ninfa das Águas Místicas”, Lívia Andrade fez uma bela estreia na agremiação de São Cristóvão.

Para o comentarista do SRzd Cláudio Francioni, a bateria SuperSom foi um ponto alto da Tuiuti:

“A bateria de Mestre Ricardinho fez uma excelente apresentação. Como de costume, executou arranjos de boa concepção em frente aos três módulos. Nos dois primeiros, a bateria não chegou a parar, mas passou com calma e não deve comprometer. Ricardinho apostou numa afinação de marcações alta, deixando a bateria leve e facilitando a audição de suas caixas, o ponto forte da SuperSom”.

Harmonia

Fraco desempenho no quesito. Boa parte das alas com pouco volume de canto e muito componentes desfilaram de boca fechada. O samba não empolgou e refletiu nos integrantes. Nem o refrão principal era capaz de empolgar tanto como o esperado.

Os intérpretes Celsinho Mody e Nino do Milênio, bem afinados e entrosados, até se esforçaram, mas não conseguiram levantar o samba-enredo, que passou arrastado e cansativo.

Evolução

O Paraíso do Tuiuti deixou a desejar no quesito. Faltou alinhamento e posicionamento em algumas alas, além de mais vibração dos componentes, que não foram ajudados pelo desempenho do samba, um tanto quanto arrastado.

A escola também teve problemas com andamento. As primeiras alas do terceiros setor passaram correndo no segundo módulo, o que fez surgir clarões na pista. A agremiação também precisou acelerar o passo para concluir a apresentação no tempo previsto.

Ficha técnica

Enredo: “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião”
Presidente: Renato Martins Ribeiro (Thor)
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Intérprete: Celsinho Mody e Nino do Milênio
Mestre de Bateria: Ricardinho
Rainha de Bateria: Lívia Andrade
Comissão de Frente: Márcio Moura
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Marlon Flores e Danielle Nascimento

Nota da galera

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