São Clemente 2020: Muitas laranjas! Crítica ácida e irreverência são pontos altos da escola

Desfile São Clemente 2020. Foto: Leandro Milton/SRzd

Por Beatriz Chaves e João Carlos Martins

Olha a cítrica!

A São Clemente abriu a última noite de desfiles do Carnaval 2020 com uma crítica bem humorada, do jeito que a escola gosta.  A agremiação passou alguns anos tentando se desvincular do perfil caricato e irreverente. Nesta segunda, a escola percebeu que desfilando assim obtém a identificação, a gargalhada e a simpatia do público.  O Carnaval de Jorge Silveira mais uma vez trouxe a atualidade dos memes e da autocrítica ao controverso povo brasileiro.

Fala, Rachel!

“Começa bem o segundo dia de desfile do grupo especial, com a São Clemente brincando Carnaval com muita alegrias para falar de coisas sérias. Um enredo de leitura clara, que diverte fazendo pensar. No Carnaval até para protestar é preciso humor e leveza. E a São Clemente tem isso em seu DNA. Está de parabéns.”

Fala, Luiz!

“Maravilhoso, gostei muito!Da singeleza, da infantilidade. O trabalho do Jorge Silveira foi impecável. Leitura fácil, não houve ‘viagem na maionese’. A gente entende cada ala. Eu estou vendo a São Clemente disputando entre as 6, sem brincadeira. Falando sério.”

Comissão de frente

A disputa entre paróquias foi o recurso usado por Junior Scapin para iniciar o ‘Conto do Vigário’ da São Clemente.  As igrejas Pilar e Conceição travaram um duelo para ver quem ficaria com a imagem da santa. Com um tripé que levava o nome do duelo ‘Pilar e Conceição’, a grande  alegoria quase chegava na calçada da Avenida, a coreografia contava com alta dramaticidade entre os membros e objetos de dentro do santuário para revelar o resultado da briga.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Os casal Giovanna Justo e Fabrício Pires fez uma apresentação tradicional, tipica que quem já conhece a Sapucaí. Eles vieram representando a ‘Santa e o Vigário’, os pontos centrai do enredo. A roupa usava e abusada do barroco, típico das paróquias do interior de Minas.

Alegre e suave transcorreu a passagem de Fabricio Pires e Giovanna Justo pela avenida. Em uma sequência de movimentos fluidos distribuídos harmoniosamente, em forma natural e bem sincronizados, o casal apresentou o bailado ancestral, fez uma simpática interação com o público, dançando o tempo todo do desfile.
O mestre-sala cortejou a brejeira porta-bandeira que tendo total domínio de seus passos obrigatórios travou com ele diálogos, em perfeita sintonia com os seus meneios e mesuras.

Alegorias e adereços

As alegorias externaram a marca da escola. A cada setor, uma crítica ao modo corrupto do brasileiro de viver. Corrupção na política, religião e na situações mais comuns do cotidiano. Possuíam características próprias o carnavalesco Jorge Silveira, com bastante caricatura e deboche.

O grande destaque o ator e compositor do samba Marcelo Adnet vestido como presidente Jair Bolsonaro. O artista fazia ‘arminhas’ com a mão e até flexão.

De acordo com a comentarista Wallace Safraa, o conjuto alegórico destacou de forma harmônica:

Com uma plástica de extremo bom gosto, as alegorias expressavam e transpareciam de forma objetiva o enredo proposto pelo carnavalesco, possibilitando maior envolvimento com o público, apresentando bons acabamentos. Destaque para a última alegoria “ A fábrica de fakenews”.

Fantasias

As fantasias eram verdadeiras caricatura. Baianas oferecendo amor em 3 dias, venda de lugares no céu e o grande destaque para a última ala trajada como a “Grávida de Taubaté”, meme ficou famoso após uma mulher simular uma gravidez de quadrigêmeos para obter benefícios de uma emissora de TV.

Para o comentarista Wallace Safra, foi rica em detalhes:

“A agremiação que entrou na avenida com o enredo “O conto do vigário” traz para sei desfile uma verdadeira crônica dos desacertos do nosso país com muito humor falando um pouco do famoso “jeitinho brasileiro”.
Com uma plástica impecável e com acabamentos extremamente cuidadosos, o carnavalesco contou muito bem cada momento do enredo de forma clara, dinâmica e de fácil leitura. Coerente e utilizando de uma inteligência artística assertiva o carnavalesco usou de diversas técnicas como solução para usar e abusar de uma grande diversificação de materiais em costeiros, cabeças e finalizações, sem perder a mão.
Apesar do segundo setor tenha apresentado um nível menor na sua qualidade a escola não perdeu nada plasticamente. Rico em detalhes, o desenvolvimento em espumas , penas sintéticas e construção do mix de tecidos foram destaque nos figurinos.”

Enredo

Após anos de distância com a crítica e a irreverência que lhe é característica, a São Clemente retorna às raízes de seus grandes enredos politizados e ‘como  o dedo na ferida’ para apontar que a corrupção não se limita apenas aos campos políticos, mas que em todos os âmbitos sociais. E a amarelo e preto usou o ‘O Conto do Vigário’ para mostrar todas as mais variadas formas do conhecido ‘Jeitinho Brasileiro’.

Samba-enredo

Composta por Marcelo Adnet e parceiros, a obra clementiana não figura entre as melhores do ano, mas tem trechos interessantes em letra e melodia. Ela também passa o enredo com clareza e funcionou perfeitamente para que o público da Avenida entendesse o desfile.

O rendimento do samba, porém, foi apenas razoável. Ficou a impressão de que a obra podia mais. Faltou explosão e comunicação com as arquibancadas, algo que teve em 2019, mas não em 2020. O trio de intérpretes Bruno Ribas, Leozinho Nunes e Grazzi Brasil foi bem.

Bateria

Ácidos, os ritmistas vieram vestidos de laranja, revivendo um dos episódios políticos mais recentes do atual governo. Cercada por 3 balões no formato da fruta, o a bateria da mestre Caliquinho deu o que falar nas frisas e arquibancadas rápida associação ao caso,pela forma crítica e bem humorada da vestimenta. A roupa  da Fiel Bateria possibilitava boa movimentação e leveza, o que resultava numa bela execução do quesito.

Para o comentarista Bruno Moraes, a bateria conversava muito bem com a melodia do samba:

“A Fiel Bateria passou bem pela Sapucaí, com boas apresentações aos Julgadores e levadas que favoreceram ao funcionamento do samba. Mestre Caliquinho passou pela Sapucaí sambando, literalmente. Destaque para a bossa do refrão principal, onde os instrumentos conversavam dentro da melodia do samba. A árdua tarefa de desfilar sem apito, faz os diretores e ritmistas ficarem bem atentos.”

Harmonia

Passagem bem regular da São Clemente. A escola não chegou a explodir como em 2019, até por conta do samba, que não é reedição e nem tão conhecido como “E o samba sambou”. Mas os componentes não fizeram feio e levaram bem a escola pela passarela.

Destaque para as alas 4, 16, 17, 19, 20 e 22. Fato interessante é que o canto aumentou de acordo com os setores. As primeiras alas cantavam menos, enquantos as últimas se mostraram mais preparadas.

Vale ressaltar o entrosamento de carro de som e bateria, que foi correto e sem comprometer o desfile. A São Clemente tem tudo para ir confiante para apuração. Não deve gabaritar, mas também não tem motivos para perder muitos pontos.

Evolução

Quesito que já deu muita dor de cabeça à São Clemente, esse ano não será uma pedra de sapato no caminho da agremiação. Coesa e segura, a escola não abriu buracos e teve boa parte dos seus componentes soltos brincando na pista.

Os únicos pontos negativos ficam por conta de alguns espaçamentos demasiadamente grandes entre alas do segundo setor e um andamento bem lento da escola no ínicio do desfile.

Ficha técnica

Enredo: xxx
Presidente: xxx
Carnavalesco: xx
Intérprete: xx
Mestre de Bateria: xx
Rainha de Bateria: xx
Comissão de Frente: xx
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: xx

Nota da galera

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