Salgueiro 2020: Samba fraco prejudica desempenho, mas escola se coloca como candidata ao título

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Por Bernardo Laranja e João Carlos Martins

Pouco rei pra muito picadeiro

Com conjunto de fantasias e alegorias impressionante, a Acadêmicos do Salgueiro foi a terceira escola a desfilar no último dia do Grupo Especial e se consolidou como uma forte candidata ao título do Carnaval 2020. O enredo “O Rei Negro do Picadeiro”, de Alex de Souza, levou para a Avenida a história de Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil. Ponto fraco do desfile, o desenvolvimento do enredo, no entanto, falou muito sobre circo e pouco sobre a história do protagonista. Além disso, o samba, que já era considerado um dos piores do ano, não empolgou na Sapucaí. Apesar disso, a escola fez uma passagem correta, luxuosa e com comissão de frente entusiasmada, fatores que podem coroar a vermelho e branco na próxima quarta-feira.

Fala, Rachel!

Rachel Valença. Foto: Nicholas Barbosa
Rachel Valença é comentarista do SRzd

“Ao circo do Salgueiro, não faltaram riqueza e bom gosto. Faltou alegria. Os componentes se moviam sem entusiasmo, como se estivessem cumprindo um dever. Talvez pela fraca qualidade do samba, que se arrastou. O que não chega a ser novidade, pois a composição é considerada uma das mais fracas da safra de 2020”.

Fala, Luiz!

Luiz Fernando Reis. Foto: Reprodução/Youtube SRzd
Luiz Fernando Reis é comentarista do SRzd

“Faltou um pouco de Benjamin, o Alex fez muito mais o circo que Benjamin. Independentemente disso, ele fez muito bem. Para mim, está brigando por esse carnaval. Para mim, foi a melhor escola até agora. Talvez perca alguns décimos num quesito ou outro, mas com certeza está na disputa”.

 

 

 

 

Comissão de frente

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Para abrir o desfile do Salgueiro, Sérgio Lobato coreografou uma comissão de frente que resumiu a história do homenageado. Talvez a parte do desfile que mais focou em Benjamin de Oliveira, a comissão retratou um circo que chegava à cidade de Benjamin e revelava o talento de uma versão criança do protagonista. O circo era representado por um tripé grande com diversos integrantes do mundo circense.

Durante a apresentação, o pequeno Benjamin é convidado a subir para o circo e o tripé se vira para o módulo de jurados. Ao mostrar seu talento, surge uma cama e o palhaço mirim se deita e recebe um relógio, onde parece acionar um alarme. Nesse momento, ele é coberto por um lençol vermelho. Do lençol, sai uma versão crescida de Benjamin, vestido como palhaço e seu talento começa a ser revelado. Entre diversos truques de ilusionismo, Benjamin volta à cama, onde o mesmo lençol passa por cima de seu corpo e revela a volta de sua versão infantil.

As soluções criativas utilizadas pela comissão não são inovadoras, é comum em comissões de frente de enredos que homenageiam pessoas ser mostrada uma versão jovem e uma versão adulta do homenageado. Apesar disso, o tripé e as fantasias são muito bem feitas, e a apresentação agrada o público presente que responde com aplausos.

Casal de mestre-sala e porta-bandeira

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Sidclei Santos e Marcella Alves, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos de Salgueiro, realizou mais uma apresentação cheia de harmonia e sincronia pela Sapucaí. O casal veio vestido de “O Circo Chegou” em uma fantasia brilhante com os tons da escola que representava uma casaca característica do mundo circense. O casal que obteve nota máxima no Carnaval de 2019 mostrou mais uma vez uma performance nota 10 na Avenida.

Para a comentarista do SRzd Eliane Souza, o domínio da técnica pelo casal ficou evidente na Sapucaí:

“Uma harmoniosa ocupação do espaço, domínio total da coreografia do bailado ancestral, apresentando uma sequência de movimentos fluentes, demonstrando estabilidade e equilíbrio, aconteceu na passarela do samba a exibição do casal. Com naturalidade e tranquilidade, de forma espontânea Sidcley e Marcella bailaram, interagiram com o público, e deixaram transparecer a forte relação de parceria, que conduz a dança em seus diálogos corporais. Podemos apreciar uma apresentação da bandeira plena de segurança atestada pelo conhecimento sobre o bailado e estudo de sua coreografia e, ver o casal se movimentar em diversas orientações e direções, ocupando amplamente o espaço cênico em frente aos julgadores”.

Alegorias e adereços

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Impactante, grandioso e cheio de luxo, o conjunto alegórico da Acadêmicos do Salgueiro promete ser um grande trunfo da escola na quarta-feira. Com 5 carros e 2 tripés, o conjunto passou sem falhas pela Avenida, com cores vibrantes e acabamento bem trabalhado. Destaque para o tamanho do último carro, que trouxe duas esculturas do homenageado e de um palhaço grandiosas. Dialogaram bem com a mensagem que estava sendo transmitida na Sapucaí, apesar de, como todo o enredo, falar mais sobre o mundo circense que sobre o grande protagonista rei do picadeiro.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, o conjunto alegórico do Salgueiro teve um grande impacto no desfile:

“Alegorias grandiosas, imponentes, fortes, extremamente bem executadas, acabamentos finalizados com primor e adereços bem pensados, transparecendo um planejamento visual e plástico de alto nível.
Destaque para o último carro da agremiação “Milhões de Benjamins””.

Fantasias

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Assim como as alegorias, o conjunto de fantasias da Acadêmicos do Salgueiro foi grandioso. Marcado por cores vibrantes, bom uso de materiais e belo acabamento marcaram as alas que desfilaram pela Sapucaí. O bom diálogo com os carros alegóricos ajudaram a passar um enredo bem desenvolvido pela Sapucaí. Destaque para a oitava ala, que levou bolas de cristal iluminadas com a fantasia “Ciganas videntes – A sorte está lançada”. Outro destaque vai para a velha-guarda, que desfilou de “A bela época” com uma fantasia cheia de requinte.

Para o comentarista do SRzd Wallace Safra, a agremiação levou para a Sapucaí um resultado impecável em suas fantasias:

“Com fantasias impecáveis e extremamente bem acabadas, o carnavalesco usou de uma plástica circense para mostrar a essência do enredo através de figurinos ricos em detalhes , uma grande diversificação de tecidarias e materiais utilizados em costeiros, cabeças e trajes. Pedrarias marcaram presença nas fantasias, possibilitando um resultado visual perfeito. Mais uma escola que alcançou um resultado final grandioso. Destaque para fantasia das baianas, além das belas transições de cores entre as alas e a preocupação plástica de uma escola que maquiou todos os componentes de chão”.

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Enredo

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Em mais um ano com Alex de Souza, a Acadêmicos de Salgueiro levou o enredo “O Rei Negro do Picadeiro” para contar a história de Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do país. A boa proposta passou com fácil leitura pela Avenida, auxiliada por alegorias, fantasias e comissão de frente que apresentavam bem o mundo do circo.

Apesar disso, faltou um foco maior em contar a história do protagonista do enredo. Com muitas referências circenses, o desfile parecia às vezes contar mais sobre o circo que sobre o próprio homenageado. À exceção do último carro, que trouxe uma escultura grandiosa de Benjamin, as outras alegorias passavam quase sem referências ao grande rei do picadeiro.

Samba-enredo

Desfile Salgueiro Foto: Leandro Milton/SRzd

A obra salgueirense pode ser, novamente, o calcanhar de Aquiles da vermelha e branca na apuração. Vale lembrar que nos últimos carnavais a escola deixou campeonatos escaparem por conta do quesito samba-enredo. Para 2020, a situação pode se repetir.

A composição não figura entre as melhores do ano e tem problema em letra, como no refrão principal. Apesar do esforço e desempenho dos intérpretes Quinho e Emerson Dias, a obra não funcionou na Avenida, deixando as arquibancadas frias e os componentes prejudicados em harmonia.

Bateria

Desfile SalgueiroFoto: Leandro Milton/SRzd

Mais uma vez, a bateria Furiosa deu um show na Sapucaí. Comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo, os ritmistas tiveram um belo desempenho, seguro e sem erros. A rainha Viviane Araújo veio à frente com a fantasia “Rainha Cigana” e mostrou mais uma vez a sincronia com os ritmistas e a habilidade em empolgar o público.

Para o comentarista do SRzd Bruno Moraes, a bateria da Acadêmicos do Salgueiro fez uma apresentação excelente:

“A bateria do Salgueiro fez um desfile impecável. Os irmãos Guilherme e Gustavo, em seu segundo ano, conseguiram impor suas características na bateria, com uma das melhores convenções do carnaval, a bossa do circo. Segura em firme em todos os módulos de julgamento, a bateria furiosa fez um ótimo desfile”.

Harmonia

Desfile Salgueiro Foto: Leandro Milton/SRzd

O Salgueiro não tem tido grande desempenho em harmonia nos últimos anos e dessa vez não foi diferente. A escola mesclou alas que cantavam mais com outras que cantavam menos. Depois da bateria, porém, pouca gente entoava o samba-enredo. Quem cantava, era num volume muito baixo, insuficiente para a nota 10.

Evolução

Desfile Salgueiro Foto: Leandro Milton/SRzd

O Salgueiro já sofreu muito em evolução em anos anteriores, com problemas de alegorias no Sambódromo e prejudicavam o andamento da escola. Em 2020, isso quase aconteceu novamente, mas, para o alívio do salgueirense, não chegou a afetar em grande escala à agremiação. O abre-alas empacou no segundo módulo e fez abrir um buraco na frente da cabine julgadora.

A evolução dos componentes também não foi muito satisfatória. Algumas fantasias volumosas prejudicaram uma passagem mais espontânea das alas. Em relação ao andamento, a escola esteve correta e não teve dificuldades em passar no tempo.

Ficha técnica

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Enredo: “O Rei Negro do Picadeiro”
Presidente: André Vaz
Carnavalesco: Alex de Souza
Intérprete: Emerson Dias e Quinho
Mestre de Bateria: Guilherme e Gustavo
Rainha de Bateria: Viviane Araújo
Comissão de Frente: Sérgio Lobato
Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Sidclei Santos e Marcella Alves

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