Carnaval/RJ

Notícias atualizadas sobre o Carnaval do Rio de Janeiro.

Rio 2023: a emoção nos ensaios técnicos

Ensaios técnicos 2022. Foto: SRzd

Eu fui. O samba me chamou para observar, de maneira diferenciada, o momento mágico e envolvente, da passagem e apresentação dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, das escolas de samba da Série Ouro e do Grupo Especial do Rio de Janeiro, nesses ensaios técnicos de 2023. Desfilei pela pista. Estive na arquibancada e na frisa. E, fiquei em casa, usando ferramentas e tecnologias que me permitiram assistir acomodada em meu sofá. E a forma de apreciar, estas divindades que são o mestre-sala e a porta-bandeira, foi concedida através de cinco momentos especialíssimos, por convites e por tarefa, não menos importantes do que nos anos anteriores e do mesmo modo, envolvida pela magia sagrada do samba, eu fui, estive com eles, a me deleitar com suas performances.

O primeiro chamado chegou por whatsapp. Era Manoela Cardoso, a experiente e faceira porta-bandeira da SRES Lins Imperial me convidando para compor a equipe que acompanha o casal em seus treinos, ensaios diversos e no dia do desfile, e mais ainda, para conversar e trocar informações sobre a coreografia do mestre-sala e porta-bandeira. Que felicidade, pois esse convite se tornou mais um espaço de aprendizagem para mim. Ela e o Jackson Senhorinho, seu garboso mestre-sala, são profissionais que trabalham com o corpo, porque são formados em Educação Física e, então, depois de receberem orientação da Direção de Carnaval e de Harmonia da escola, estudarem os diferentes textos do Manual dos Julgador, as justificativas dos julgadores do quesito no carnaval 2022, o enredo da escola, a letra do samba para o carnaval 2023, conversarem com o carnavalesco sobre sua indumentária, eles idealizaram a coreografia para o momento da APRESENTAÇÃO DA BANDEIRA aos julgadores, no dia do desfile. A performance do par contempla a plateia com uma exibição do Bailado, que fazendo referências ao tema que conduzirá a escola em seu desfile, está atualizado, mas, os movimentos obrigatórios dos dançarinos foram preservados.

Preocupados com a salvaguarda e a manutenção do bailado, atentos e estudiosos, Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso estão empenhados em brilhar no desfile. Estou muito contente por acompanhar de perto o trabalho deste casal, que no carnaval de 2022 foi nota 40!

Porque aceitei esse convite do primeiro casal, tive a primazia de apreciar, o bailado do segundo casal João Victor e Eduarda Martins; do terceiro casal João Victor e Anna Duarte. Os dois pares, alegres, potentes e amorosos, em sua tarefa de bailar para honrar o pavilhão da escola.

E então começaram os ensaios técnicos no sambódromo. No dia, 4 de janeiro, eu, muito emocionada, acompanhei o casal. A escola foi a primeira a desfilar, nesse retorno dos ensaios técnicos à Sapucaí. Eles, apesar da seriedade que exigiu aquele momento, estavam felizes e soltos. Muito bem orientados por Magno Alexandre Santos, o Magno, seu diretor de harmonia, dançaram a alegria de conduzir e defender o pavilhão verde-rosa da Lins Imperial. Verde-rosa, a cura pelo amor! E eu me encantei.

O convite seguinte chegou através da ASSORDHESERJ, a associação dos diretores de harmonia fundada em 1997, por Jaime Machado, Jandyr Antunes, Lourenço Lúcio Ananias, Guilherme Marujo, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla e outros sambistas que cuidam, nas escolas de samba, do quesito harmonia. Eu sempre estive envolvida com as atividades da associação e, este ano de 2023, me convidaram para observar o trabalho dos diretores de harmonia que zelam pelos casais de mestre-sala e porta-bandeiras. Fiquei escalada para dois dias para tecer considerações durante a passagem dos casais do Grupo Especial que ensaiaram no domingo, dia 22 de janeiro e do Acesso Ouro, no sábado, dia 28 de janeiro. Infelizmente, por limitações impostas pela Liesa, no dia 22 de janeiro, a equipe não pode se deslocar pela pista e, o local determinado para nossa observação dos ensaios, me impediu de coletar os detalhes das apresentações dos casais Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro da Imperatriz Leopoldinense e Matheus André e Denadir Garcia da Unidos da Tijuca.

No dia 28 de janeiro, ensaios da Série Ouro, tive a felicidade de assistir as performances dos casais do GRES União de Jacarepaguá – Rogério Júnior e Natália Monteiro – que brindaram a plateia com um bailado primoroso, bem executado, num zelo, um carinho de quem preserva os movimentos obrigatórios, porém traz gestos que atualizam a performance. Também pude apreciar o bonito bailado do segundo casal da escola, Paulo Henrique e Gabby Oliveira.

A seguir, o GRES Acadêmicos de Vigário Geral, iluminou a passarela trazendo um “quadro” de casais: Josias Araújo e Sophya Canuto, Caaio Araújo e Giselly Assumpção, Vinícius Paes e Cris Soares e o primeiro casal – Diego Jenkins e Thainá Teixeira que bailaram. Felizes! Alegres e faceiros com seu estilo gracioso, seguindo o enredo e o samba, para assim, portar e apresentar o pavilhão. Bonita performance, na qual se pode apreciar os movimentos obrigatórios que
edificam o bailado!

E ensaiou o GRES Unidos de Padre Miguel, a UPM! Conduzidos pelo canto forte de sua comunidade, a apresentação de Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, em belos trajes no tom lilás, foi envolvente. O casal convidava a plateia a dançar, para junto com eles, louvar seu pavilhão, porque “a nossa escola não deve nada a ninguém”, em uma magnífica apresentação do par! Da mesma forma, pudemos assistir a performance de Emerson Faustino e Joana Falcão, o segundo casal da escola.

Finalizando a noite de ensaios, chegou o GRES Unidos do Porto da Pedra. O casal alado, mostrou uma coreografia na qual se pode observar a fluidez, sincronismo dos movimentos obrigatórios realizados com forma exuberante, deixando ser observados as coreografias de cada um dos dançarinos e o acréscimo de passos que demonstraram sua habilidade dançante. E vi corte, gentileza e elegância na performance e na forma maravilhosa de bailar do segundo mestre-sala, Pedro Figueiredo, que conduziu a dança e sua dama, a linda Gabriella Monnerat, utilizando um adereço de mão: o leque!

No domingo, dia 4 de fevereiro, assisti de casa pela internet, mas recebendo o “auxílio luxuoso” de Wallace Safra, meu querido companheiro de equipe SRzd, que me enviou vídeos da apresentação dos casais do GRES Acadêmicos do Salgueiro e do GRES Portela.

O Salgueiro trouxe Leonardo Moreira e Letícia Malaquias, o terceiro casal; José Roberto e Natália Pereira, o segundo casal. E conduzindo o primeiro pavilhão, juntos há dez anos, Sidclei Santos e Marcella Alves, que bailaram de forma atualizada, apresentando os movimentos obrigatórios, da coreografia de cada um, executados de maneira exemplar, na qual pude constatar pelo desempenho do par, o excelente condicionamento físico e o perfeito emprego das técnicas de dança, uma preparação corporal a serviço da emoção de bailar para conduzir e louvar o pavilhão. Ao assistir a exibição do casal do Salgueiro, eu confirmei que, é possível apresentar o bailado, preservando os movimentos obrigatórios que compõe a coreografia de cada um dos dançarinos, trazendo para o tempo atual o modo de executá-los, tendo em vista todas as transformações, mais diretamente as que aconteceram no espaço para a dança, nos trajes e no ritmo da bateria. Mas isso exige estudo e disciplina de todos envolvidos no trabalho.

Encerrando os ensaios do domingo, dia 4, a Portela teve seu pavilhão conduzido por Marlon Lamar e Lucinha Nobre, o primeiro casal, que com maestria apresentou o bailado. Observei na movimentação atualizada do casal a realização de seus movimentos obrigatórios, sendo que a porta-bandeira, que já assina a “Bandeirada”, trouxe de forma bem distinta o BALANÇO e o PATINETE, abrindo desta forma um espaço para o mestre-sala realizar sua coreografia, na qual sua estilosa assinatura de dançarino paulistano ficou acrescida da ginga malandreada carioca. Uma mistura enriquecedora para a coreografia do mestre-sala, ao qual é permitido criar, inventar e acrescentar passos e movimentos, sempre dirigidos ao pavilhão e a dama. Conduzindo o segundo pavilhão, apreciei com carinho o bailado de Emanuel Lima e Camyla Nascimento; e encerrando o cortejo dos casais portelenses, os competentes Vinícius Jesus e Rosilane Queiroz.

E no dia 11 de fevereiro, sábado, dediquei de casa, minha atenção ao segundo casal do GRES Unidos de Vila Isabel. Essa minha deferência ao segundo par das escolas, começou em 2019, pois trabalhando em dupla de comentaristas com Manoel Dionísio, presidente da Escola de Mestre-Sala, Porta-Bandeira e Porta-Estandarte, ele despertou minha atenção para o trabalho desenvolvido por este importante par, que tem a tarefa de substituir o primeiro casal, em atividades sociais das escolas e se necessário, no desfile oficial. Novamente, com o apoio de Wallace Safra, que me encaminhou vídeos do evento, posso aqui tecer meu comentário encantado sobre a dupla Jackson Senhorinho e Bárbara Dionísio: livres pela pista, eles apresentaram o bailado de maneira alegre, executando com atualização os movimentos obrigatórios. Bárbara dengosa, mostrou habilidade em seus giros no ABANO e sem apoio, deslizou um BALANÇO singelo.

O mestre-sala (primeiro mestre-sala da Lins Imperial, onde é o par da Manoela Cardoso) cortejando e conduzindo a dama e a dança com um leque, “escreveu” no asfalto suas letras, exibindo o CRUZADO, passos do VOLEIO, fazendo a PEGADA DE MÃO e com muita simpatia, a APRESENTAÇÃO DA BANDEIRA para a plateia. Ele dançou para louvar seu pavilhão e conduzir sua dama. Contemplada com o que assisti no vídeo, dei por encerrada minha participação nos ensaios técnicos.

O relógio marcava 6h14, da segunda-feira, dia 13 de fevereiro! Eu estava fechando minha matéria quando o meu querido Wallace Safra enviou ao nosso grupo, mais um vídeo! Ele filmou, no domingo, dia 12, o experiente casal da Beija-Flor de Nilópolis. As imagens ratificaram o que eu penso sobre a salvaguarda e a manutenção do nosso bailado: ele deve ser atualizado, trazido para esses tempos de grandes transformações no espaço, na indumentária e na realização do desfile das escolas de samba, no entanto as coreografias, do mestre-sala e a da porta-bandeira, podem ser preservadas.

Ainda encantada com a majestade da performance filmada, li e copio aqui, o comentário postado no grupo, pela jornalista Inês Valença: “Adorei a apresentação de Selminha e Claudinho! Bem mais ‘livre’ do que de costume”. O dia amanheceu feliz para mim, finalizei esta matéria e, encerrei minha participação nos ensaios técnicos de 2023!

Eliane Santos de Souza é professora e pesquisadora do tema: dança, dança do samba, bailado do mestre-sala e porta-bandeira. Lecionou, como substituta, no curso de Bacharelado em Dança da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. É Doutora em Arte pelo PPARTES-UERJ com a tese: Daqui de onde te vejo: reflexões de uma porta-bandeira sobre o mestre-sala, com publicação em formato de livro com o mesmo título. É Mestre em Ciência da Arte- UFF com a dissertação: Uma semiologia do samba: O bailado do mestre-sala e da porta-bandeira. Ainda é especialista em Educação pela Universidade Federal Fluminense, Docente do Ensino Fundamental e especializada em Educação Infantil. Porta-bandeira aposentada, é apoio, orientadora e apresentadora de casais. Foi membro de comissões julgadoras do quesito mestre-sala e porta-bandeira, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana.

Crédito das fotos: acervo
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do portal SRzd

Comentários

 




    gl