Tupinicópolis é aqui?: Projeto No Barracão promove ciclo de debates sobre desfile épico

Dando início às suas atividades públicas, o projeto No Barracão promove, entre os dias 25 de agosto a 12 de setembro, de forma online e gratuita, o clico de debates intitulado “Tupinicópolis é aqui?”.

Idealizado pela colecionadora Alayde Alves e com curadoria de Clarissa Diniz, Leonardo Antan e Thaís Rivitti, a ideia do trabalho é propor uma ação de aproximação entre os contextos poéticos, estéticos, sociais e políticos das artes institucionalizadas e do Carnaval.

Os encontros vão ressaltar o conceito Tupinicópolis, assinado pelo carnavalesco Fernando Pinto no desfile de 1987 da Mocidade Independente de Padre Miguel, no qual imaginava uma metrópole indígena futurista.

Os debates partem de um olhar atento e contemporâneo para o desfile e propõem uma quebra de fronteiras entre linguagens artísticas convidando artistas e pesquisadores para debaterem diversos aspectos levantados pelo desfile e que permanecem atuais e potentes em origem, tradição e futuro.


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“O ciclo de debates pretende aproximar e tencionar o universo da arte institucional com as escolas de samba. Nosso objetivo é promover olhares e debates que valorizem a produção carnavalesca como uma potente forma artística do nosso país. Os artistas que trabalham no Carnaval ainda são marginalizados por um sistema maior e não são valorizados como deveriam”, explicou Leonardo Antan em entrevista ao SRzd.

“Basta olhar o caso do Fernando Pinto, que atuou como diretor e cenógrafo em produções importantes, mas não tem sua obra valorizada num universo da história cultural e artística do nosso país. Precisamos aproximar esses universos para que notem suas similaridades”, completou.

Para os curadores “essa é uma iniciativa fundamental de valorização das escolas de sambas como produtoras de artes e narrativas que nos ajudam a entender o Brasil e a contemporaneidade. Juntar diferentes artistas e pensadores sobre uma obra produzida no Carnaval é afirmar a importância cultural e artística dessa manifestação”.

O desfile abordou diversas questões urgentes para a prática e para o pensamento sobre a produção cultural no Brasil hoje: o decolonialismo, o apagamento das culturas indígenas, o jogo entre capital e cultura, além de revisitar a noção modernista de antropofagia e de colocar em cena uma narrativa vinculada ao gênero da ficção científica.

Questionados sobre os motivos que o levaram a escolher esse enredo para a primeira atividade do projeto, Antan conta que apesar de o assunto ainda estar inserido na sociedade atual, o tema é pouco discutido.

“‘Tupinicópolis’ é um Carnaval emblemático, mas pouco debatido com a profundidade que merece. É um desfile que tem um enorme potencial criativo e discursivo, além de ainda seguir atual, ao abordar a demarcação de terras indígenas e uma narrativa afirmativa sobre o lugar dos nossos nativos numa construção plural de nação. São tantas possibilidades, que selecionamos apenas quatro recortes dentro do desfile para discutirmos, mas teriam vários outros. Temos nas discussões uma lista de tópicos fundamentais para a pauta de hoje, como o capitalismo, futuro, a construção do Brasil e a defesa dos povos originários”.

Em parceria com a plataforma Carnavalize, a participação dos debates é gratuita e eles acontecem sempre às segundas-feiras, das 19h às 21h, no Youtube.

Sobre as futuras atividades do projeto No Barracão, Leonardo adianta que “a ideia é desdobrar o projeto em várias iniciativas e vertentes, há muito no universo do Carnaval a ser valorizado e discutido com profundidade e dedicação”.

Thaís Rivitti, Leonardo Antan e Clarissa Diniz. Foto: Divulgação
Thaís Rivitti, Leonardo Antan e Clarissa Diniz. Foto: Divulgação

Programação Ciclo de debates Tupinicópolis é aqui?

Debate 1 (25/07)

Apresentação do projeto No Barracão, do projeto parceiro Carnavalize e do recorte curatorial do ciclo de debates Tupinicópolis é aqui?, com Alayde Alves, Clarissa Diniz, Leonardo Antan e Thaís Rivitti

Debate 2 (01/08)

Tropicalismo e cultura marginal

As décadas de 1960 e 1970 marcaram a cultura brasileira com inúmeras colaborações e reapropriações entre as artes do Carnaval e institucionalizadas. Foi nesse período de efervescência cultural que Fernando Pinto atuou artisticamente, influenciando diretamente a concepção de Tupinicópolis. Neste debate, reunimos pesquisadores do período para tratar de aspectos históricos daquele momento e de desafios e horizontes que seguem nutrindo o presente e os diálogos entre arte e Carnaval.

Participação de Fred Coelho, Beatriz Milhazes e Leonardo Bora; mediação de Leonardo Antan

Debate 3 (15/08)

Culturas indígenas e alteridade

Tupinicópolis tem, como sua coluna vertebral, os imaginários estereotipados, exotizantes e mesmo disruptivos que, ao longo de séculos, foram elaborados em torno dos povos indígenas, provocando crítica e sarcasticamente algumas ideias de Brasil, de origem, de tradição e de futuro. Ao mesmo tempo, o desfile – como tantas práticas daquele momento e de hoje – foi elaborado sem a participação ou colaboração de pessoas ou comunidades indígenas, o que termina por reforçar estigmas e preconceitos que ansiava criticar. Neste debate, reunimos pesquisadores para reflexões sobre éticas, políticas e cuidados da (auto)representação e das alteridades.

Participação de Abiniel João Nascimento, Sandra Benites e Ericky Nakanome; mediação de Clarissa Diniz

Debate 4 (29/08) 

Ficção, futuro e pensamento especulativo

Situado num espaço-tempo futuro, numa grande cidade tecnológica e altamente capitalizada, Tupinicópolis perturba o fetiche e a nostalgia colonial que habitualmente restringem os povos indígenas a uma ideia mítica de passado e de distância geográfica. Ao fazê-lo, explora a força política do pensamento projetivo contra o conservadorismo escravocrata e patrimonialista brasileiro, inserindo-se numa rica tradição de pensamentos futuristas que, na literatura e nas artes visuais, ao menos desde a década de 1960, tem tido um papel central na elaboração de imaginários críticos no Brasil. Neste debate, reunimos artistas de diversas áreas para, entre utopias e distopias, discutir acerca das estratégias ficcionais exploradas pelas artes quando dirigem-se a ideia de futuro.

Participação de André Rodrigues, Guerreiro do Divino Amor e Fausto Fawcett; mediação de Thaís Rivitti

Debate 5 (12/09)

Arte, protagonismo e capitalismo

Tupinicóplis é uma megalópole indígena centrada nas relações de trabalho, de consumo e de sociabilidade produzidas e mantidas pelo capitalismo avançado. Na contramão do fetiche colonialista do “bom selvagem”, apresenta a imagem de indígenas milionários, já não mais “vítimas” do sistema econômico, senão seus principais operadores. Ao fazê-lo, o enredo se aproxima de debates hoje em curso sobre a relação entre neoliberalismo e arte contemporânea, provocando reflexões sobre direitos, privilégios e ambições de consumo em contextos históricos e étnico-raciais nos quais a norma tem sido, ao contrário, ser consumido. Neste debate, artistas das artes do carnaval e institucionalizadas refletem sobre esses horizontes políticos e seus desafios a partir de suas diferentes perspectivas.

Participação de Rafael Bqueer, Maxwell Alexandre e Pedro Victor Brandão; mediação de Clarissa Diniz e Thaís Rivitti

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